Descendo ao Abismo

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As coisas precisavam ser aceleradas.

Foi esse pensamento que levou Ayumi a rastejar pelos sonhos de todos naquela noite, semanas atrás. E era exatamente o que Lobo previu quando foi dormir.

Ele não se considerava manipulador, mas ele sabia o que precisava ser feito. Sua magia era algo fácil de escapar com tantos seres mágicos próximos dele. Assim, usou a espiã mental para direcionar a própria magia para Agnes.

Magia era como o som. O resto do mundo e dos seres mágicos não podia entender isso, mas um bruxo podia, uma vez treinado e crescido com grimórios. E como o som, ela vinha em ondas de diferentes tamanhos, de diferentes lugares, causando diferentes vibrações.

Lobo não fazia ideia do que ia captar naquela noite além do canto das sereias. Não sabia que havia uma deusa enjaulada lançando magia sem direção, esperando sua mensagem chegar a algum lugar. E foi assim que graças a ele, a Capitã encontrou seu tesouro.

Lhe custava entender o que ela procurava de verdade. Ele sabia que seria perigoso, mas não entendia o que era de fato. Não entendia a maioria das intenções naquele navio.

Eles eram todos completamente diferentes. Apenas uma coisa os assemelhava: os olhos sem brilho, que olhavam para dentro, olhos que conheciam a verdade sobre a humanidade. O mesmo olhar que ele viu em crianças dos navios de escravos; olhar de quem conhecia um fim próximo, de quem passava fome, de quem havia registrado o terror e o gravara na mente.

Havia muito o que desvendar. Principalmente se encontrariam realmente uma deusa.

Tudo o que Lobo sabia sobre deusas era o que havia aprendido em seu coven anos atrás, quando ainda era uma criança. Tudo antes de ser capturado e vendido, cruzando o Mar de Cobre como um animal num porão. Ele aprendera com sua avó, havia os deuses do caos e os da justiça.

Deuses do caos representavam tudo o que era cruel e terrível muito além de forças da natureza. Eles movimentavam a dor e a perda humanas, causando o pior tipo de sentimento e alimentando o mal que controlavam onde quer que fossem.

Os deuses da justiça representavam o equilibrio. Eram equivalentes a parte boa na balança. Precisavam estar junto com um deus do caos para que o mundo não começasse a ruir e se tornar desigual e infeliz. Eles traziam as coisas boas consigo, alimentando riqueza e solidariedade.

O único fator que destruía isso era que todo deus nascia humano. E dessa forma, não tinha sentimentos imparciais, um deus do caos poderia ser bom e vice versa.

Ele realmente esperava que encontrassem o tipo bom, mas se a deusa estava enjaulada era uma possibilidade duvidosa.

Preferia focar no problema que ele conseguia enfrentar, as sereias. Agora todos no navio sabiam, sem que ele precisasse revelar a si mesmo como Asmus o obrigou. Ele pensou que Shivani concentraria seus esforços contra aquelas tropas, precisamente numa armadilha. Mas desde que mencionou a deusa tudo mudou. Ele estava errado. As sereias não eram prioridade.

Lobo observava seus amigos, seus homens, caminharem pelo navio, fazendo aquela máquina enorme funcionar. A toda velocidade eles se afastavam da ilha pirata e há duas semanas estavam seguindo a flecha bússola a frente do Navio.

Lobo percebeu um parceiro observador, como ele mesmo. O homem negro com roupas de viajante que sempre ficava nos cantos. O silencioso. Khrysaor, ele havia ficado no navio quando seus homens foram recrutados. Os dois estavam num divertido jogo de quem observava mais o outro. E Lobo sabia que ele conhecia mais de magia do que todos ali, talvez mais do que o Bruxo.

O garoto sabia que Khrysaor era inumano. Talvez o pior deles. Mas isso não o perturbava, não com a presença dos outros monstros no navio.

Talvez o que o mais lhe perturbasse era a fada. Não por ser uma cabeça falante. Ela era um monstro real. Uma coisa nascida das trevas, como todas as fadas. O pior era a sua fome e curiosidade, a maneira que ela entrou na mente de seus companheiros e de como ele pôde sentir ela engatinhar por diversas mentes no bar pirata. A forma que ela devorou memórias em silêncio quando estavam em terra. Ela estava ali apenas para a própria diversão e alimentação, era uma fonte de magia ambulante, um gerador que convertia magia.

Preto Cinza e Tempestade - FortunataOnde histórias criam vida. Descubra agora