Alice
Eu sou de fato um fiasco. Como a Carol me diz: "Você tem o dedo podre!". Mas dessa vez quem me apresentou a podridão foi ela e eu caí na tentação.
Como fui capaz de acreditar mais uma vez, em mais uma pessoa que apareceu na minha vida, assim?! Do nada!? - pilotava desatenta enquanto refletia - Eu desejei tanto ter um dia gostoso, e agora estou voltando para casa, antes do almoço e com o coração amargurado.
Parei em um posto de combustível à beira da rodovia que tem uma boa praça de alimentação. Pedi um café expresso, forte e sem açúcar. Quero sentir o amargor da vida em meus lábios na tentativa de me punir por ser tão afoita em relação a envolvimentos.
- Alice? – ouvi uma voz masculina chamar meu nome – Que mundo pequeno!
- Dr Leonardo? – franzi o cenho ao vê-lo – Sim! Que mundo pequeno. – sorri gentilmente
- Tudo bem? Bom te ver – me falou amigavelmente
- Tudo bem sim. Igualmente – o respondi educadamente e olhando ao redor.
Leonardo, o advogado da Laura Veigas que conheci no shopping, estava com um grupo de motoqueiros. Todos de jaqueta de couro bordada com seus respectivos nomes e apelidos e um símbolo de moto clube.
- Vejo que está de moto – apontou para minha jaqueta de couro e capacete pendurado no braço – Não deseja se juntar a nós?
- Sim, estou de moto! – respondi com um sorriso – Para onde estão indo?
- Hoje vamos até a Serra da Graciosa. Tem um pessoal que vai seguir até Morretes e outro grupo que retornará – me explicou empolgado
- Olha!! – respondi igualmente empolgada – É um belo convite e estou totalmente sem planos. Convite aceito!!!
- Legal. Será um prazer!! – me sorriu gentilmente – Termina seu café e venha. Vou te apresentar ao pessoal.
E assim o fiz. Concluí meu café forte e amargo e fui ao encontro do grupo. Fui apresentada e recebida com bastante carinho. Um pessoal acolhedor, com ótimo astral.
Saímos em comboio, cada um em sua moto e seguimos rodovia adentro, passeando em harmonia.
Chegamos a "Serra da Graciosa" pouco depois das quinze horas. Almoçamos em um restaurante caipira com comida de fogão a lenha. Nessa altura do dia, eu já nem me lembrava do fato amargoso da manhã.
- Obrigada pelo "resgate", Leonardo – falei a ele fazendo o sinal de aspas com os dedos e sorrindo gentilmente – Foi uma grata surpresa.
- Que isso, Alice – respondeu-me com um sorriso amigo – É sempre bom agregar boas energias.
- Sem dúvidas! – sorri – Estou precisando de boas energias!
- Todos precisamos. A Laura vai ficar muito feliz com esse nosso encontro – me falou com olhos vibrantes
- Ah é?! – o perguntei surpresa – Vocês são próximos?
- Razoável – me respondeu balançando a cabeça de um lado para outro – Laura é uma querida amiga de longa data. Estudamos juntos quando éramos adolescentes – ele trazia um brilho no olhar, diferente de antes – E ficamos próximos por um longo tempo, até que aconteceram algumas coisinhas desagradáveis e por questões familiares, acabamos nos afastando um pouco. Mas ela, como é muito ética, manteve a parceria profissional.
- Entendi. Eu sempre a admirei. Acompanho sua carreira pela mídia, desde o começo – comecei a falar e me contive a falar apenas da questão profissional – Aquele dia no shopping nos encontramos ao acaso. Foi uma surpresa e tanto – o falei admiravelmente.
- Ela comentou comigo que você foi uma valente! – me falou sorrindo e arregalando os olhos – Aliás, para ser bem sincero, ela ficou muito impressionada com você! – e sorriu, me olhando nos olhos.
Eu estava recebendo muitas informações novas. Aquele lindo homem que eu pensara dias antes em aproximar da minha amiga Carol, me falava que tinha uma certa proximidade da Laura, a mulher dos meus sonhos. Não entendia muito bem se o que ele me falava era relacionado a ele com ela, ou com terceiros. Mas teria que tentar tirar essas informações daquela mente brilhante.
- Ela está sendo exagerada!! Não foi tudo isso – sorri mudando o assunto – E você? Depois desse rolo com a super Laura – falei olhando de canto e sorrindo – Está curtindo a vida, sozinho?
- Ah! – ele gargalhou – Eu não tive rolo com a Laura. Jamais teria chances com ela – e gargalhou novamente – O rolo foi com parentes, mas acabou não dando certo e a Laura saiu muito machucada – falou-me seriamente – E eu, sim. Estou sozinho e disposto a viver um grande amor, o que está difícil encontrar – e sorriu
Eu pensava que, se aquele moço não tinha chances com a Laura, quem teria então?! Ele parecia perfeito para ela. Lindo, legal, inteligente, bem sucedido. A conhece desde muito tempo. Laura é realmente exigente.
- Super te entendo – o respondi sorrindo – O amor está em extinção!!
Sorrimos e continuamos a conversar.
- E você, como anda o coração? – perguntou-me sorrindo e encostando o dedo indicador na ponta do meu nariz
- Sempre me perguntam isso! -gargalhei em resposta – Acho até que vou procurar um cardiologista para fazer exames! – gargalhamos – Mas meu coração bate por quem é impossível conquistar – revirei os olhos
Gargalhamos por isso.
- Não me diga que você também tem dedo podre? – perguntou-me em meio às gargalhadas
- Não tenho só um! Tenho dez – e abri as duas mãos no ar, contando todos os dedos também gargalhando
Continuamos a conversar, contando nossas decepções amorosas. Leonardo se mostrou um moço encantador. Traz consigo várias experiências tão ruins quanto as que já tive. Nos identificamos em muitos aspectos e nasceu ali uma possibilidade de uma grande amizade.
A hora já tinha se avançado e teríamos ainda um longo caminho de volta. Eu voltaria para São Paulo e ele seguiria até Morretes, onde passaria o final de semana com amigos. Combinamos de manter contato e em outras viagens do clube de motos, ele me convidaria.
Nos despedimos e seguimos nossos caminhos.
Na minha volta para casa, sentia o coração grato. Meu dia foi surpreendente. Tive emoção, decepção, alegria e surpresa. Já posso descansar.
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Amoras
RomanceLaura Veigas é a primeira CEO negra da capital paulista, com uma carreira brilhante e ainda em ascensão. Possuí hobbys clássicos e uma vida estabilizada, focada no trabalho. Extremamente controladora, gosta de tudo do seu jeito. É orfã e usou da sua...