Alice
Parei a moto no meio fio para atender a ligação que persistia. Nem prestei atenção no remetente.
- Alice Stromps, pois não? – falei colocando uma das mãos no outro ouvido, devido ao barulho causado pelo trânsito.
- Alice, é o Tom, assessor da Laura. Tudo bem?
- Oi Tom. Tudo sim. Diga – perguntei, sentindo o coração disparar.
- Você pode por favor, me salvar? – falou com voz de desespero.
- O que aconteceu, Tom? – perguntei aflita – A Laura está bem?
Ele sorriu e continuou a falar.
- Está sim. Acho que você sabe que essa semana está sendo a Feira do Empreendedor né?! – concordei e pedi que continuasse – E hoje é o dia das palestras, mas o próximo palestrante acabou de me informar que perdeu o vôo e não conseguirá chegar a tempo. A dona Chica está aqui e me falou que você, tem uma palestra pronta. Você poderia vir pra cá e quebrar essa pra mim?
- Meu Deus, Tom. Agora? – perguntei assustada.
- Sim! Já começou a primeira palestra do período da tarde. Acabando, daqui quarenta e cinco minutos aproximadamente, teremos um break e daí, já seria a próxima. Ou seja, daqui uma hora -me explicou.
- Nossa, Tom! – falei surpresa – Eu estava indo para uma reunião com os investidores da NetCell e não estou vestida adequadamente, nem preparada para uma palestra – sorri timidamente.
- Eu ligo pro pessoal da NetCell e você vem pra cá?! Por favor!!! A Laura vai me matar se tiver esse furo no evento – implorava com voz aflita – Por favor, Alice!
Senti o coração disparar e a mão suar ao pensar na possibilidade de palestrar em frente a Laura.
- Ok, Tom! Tentarei dar o meu melhor – respondi sem refletir – Estou perto de casa. Vou passar me trocar e já compartilho o link com você dos slides.
- Estarei no aguardo. Estamos na Estação São Paulo, sabe onde é? – falou com voz aliviada.
- Sei sim, tentarei chegar a tempo!
Desliguei o celular e rapidamente peguei o caminho de casa. Sorte do Tom ter conseguido falar comigo. Parece loucura, porém, nada mais justo que eu retribuir o tratamento vip que tive graças à Laura, fazendo esse favor para o evento. Nem pensei muito sobre a vontade em vê-la, afinal, a última vez que nos vimos foi na segunda-feira à noite e, devido a correria do trabalho e organização para palestra em Maceió, não a procurei mais e nem ela, a mim. Cheguei em casa, já tirando a roupa que estava e ligando o notebook. Peguei um conjunto social que sempre deixo reservado para ocasiões mais formais e já fui preparando o banho. Enviei o link para o Tom e rapidamente me arrumei e saí para o evento.
O lugar é razoavelmente distante de casa, porém, de moto, consegui chegar rápido. Assim que estacionei, avistei o Tom, que veio ao meu encontro sorrindo amigavelmente.
- Alice, você não tem ideia de como está me salvando hoje – falou assim que me viu – Venha, o break já está acabando e vou te preparar para entrar.
- Oi Tom! – falei nervosa – Eu nem sei do que se trata o evento – sorri desconfortável e arrumando o cabelo que desarrumara devido ao uso do capacete.
- Você tira de letra – falava agitado me explicando do que se tratava a feira e me levou até uma ante sala, onde poderia aguardar o momento de entrar. Eu estava aflita e agitada. Observava o lugar luxuoso do evento, provavelmente, escolhido à dedo por Laura. A saleta que estávamos, dispunha de uma mesa redonda com quadro cadeiras, com água e suco em jarras de vidros, frutas e petiscos diversos. Uma poltrona rústica, feita de couro e um aparador também rústico, decorado com orquídeas brancas. Uma bancada com espelhos e um banheiro privativo. Era possível ouvir o som que vinha de fora, provavelmente do salão onde seria a palestra. Tom após explicar todas as nuances do evento, ausentou-se para que pudesse me concentrar no que iria palestrar e falou que viria me chamar quando fosse o momento. Tomei um pouco de água, arrumei o microfone de modo a ficar discreto na roupa e tentei me concentrar, sentindo o coração disparado, as mãos suando e aquele gelo na barriga que todo evento causa. Apesar de não ser a primeira vez, todas as vezes são como a primeira vez, no entanto, estava preparada para essa palestra, afinal, é o resultado do meu mestrado. Estudei muito para saber cada vírgula do que estaria prestes a expor, mas dessa vez, estava sendo completamente inesperada. Até a ligação do Tom, estava em uma quinta-feira qualquer, trabalhando como todos os outros dias e de repente, estava prestes a palestrar em um evento promovido por Laura Veigas. Sentada na poltrona, minhas pernas balançavam incontrolavelmente e, a boca, insistia em ficar seca. Ouvi quando o cerimonialista retomou a fala, parando a música e meu coração, disparou-se ainda mais por saber que minha hora estava chegando. O Tom bateu na porta e a abriu em seguida me chamando. Respirei e inspirei o restante de ar que se encontrara em meu peito. Liguei o microfone e fui. Entrei num grande salão, igualmente rústico como a saleta anterior, com muitas cadeiras dispostas em filas e muitas pessoas sentadas. Devido a penumbra, não era possível enxergar com nitidez as faces de quem me ouviria. Tomei lugar à frente, num tablado um pouco acima do nível das outras pessoas. Atrás de mim, um telão com o tema da minha palestra e na lateral, uma mesa alta com água em copinhos lacrados.
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Amoras
RomanceLaura Veigas é a primeira CEO negra da capital paulista, com uma carreira brilhante e ainda em ascensão. Possuí hobbys clássicos e uma vida estabilizada, focada no trabalho. Extremamente controladora, gosta de tudo do seu jeito. É orfã e usou da sua...