Feliz acaso

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Alice

- S-Se- Senh..é..L-Laur..Senhorita Laura? – gaguejei e sorri ao vê-la

- Laura, por favor! – respondeu-me sorrindo gentilmente – Me desculpa! – falou enquanto me ajudava juntar as moedas

- Imagina, Laura – sorri olhando-a nos olhos – Eu que sou muito desastrada!

- Te garanto que não mais que eu – e sorriu me olhando profundamente.

As sensações que essa mulher me faz sentir, são inexplicáveis. Ela está aqui na minha frente, apenas me ajudando por termos nos esbarrado, mas tenho a impressão de que só existe eu e ela no mundo.

- Comprei um analgésico e paguei com uma nota de cinquenta reais – expliquei-me sorrindo - O caixa me deu o troco só em moedas.

- Nossa!! – riu tirando sarro – Isso é quase um castigo – levantou os olhos analisando o atendente do caixa e deu de ombros – Acho que ele não foi com sua cara – falou cochichando e sorrindo.

Eu achei aquele gesto tão lindo! Foi tão sincera! Não consegui esconder minha admiração e corei de vergonha.

- Também acho! – rimos ao nos levantar com as moedas em mãos.

Eu estava desnorteada com a situação. Ao me levantar, bati as costas no stand de vendas fixado no balcão do caixa. Ela prontamente colocou as mãos em meu ombro me protegendo.

- Cuidado, senhorita Stromps – e sorriu – Vai se machucar!

Meneei a cabeça, ainda mais corada de vergonha – Não te falei? Sou um desastre! – dei de ombros e sorri timidamente. Ela retribuiu o sorriso.

- Toma aqui, suas moedas – entregou-me nas mãos as que ela tinha juntado – Já pode encontrar um poço e pedir por seus desejos – me lançou uma piscada que me fez perder o rumo e sorriu gentilmente.

- Com todas essas moedas, posso pedir até por um sonho! – sorrimos com minha fala – Obrigada pela ajuda.

- Por nada. Imagine!! – respondeu-me olhando profundamente nos olhos – Foi um prazer te reencontrar.

- Igualmente! – falei separando as moedas nos bolsos – Bem, então é isso – disse a ela com expressão tímida e apontando a rua – Vou indo!

- Está bem! – respondeu com um lindo sorriso nos lábios – Se cuida!

- Você também! – a falei andando de costas em direção à rua.

Ela continuou parada no mesmo local, apenas me olhando. Eu sentia minha face queimar de vergonha. Organizei-me para subir na moto que estava parada ao lado de uma Mercedes GLS verde militar. Discretamente admirei a beleza daquele automóvel, sujo de terra, o que não diminuiu sua exuberância. Suspeito que seja dela, já que é a única cliente dentro da farmácia.

- Que bom gosto! – pensei ao sair com minha moto – Bom gosto, e bom bolso! – sorri fazendo careta.

Ainda não posso crer que acabei de me encontrar, novamente ao acaso, com Laura Veigas. Eu não sei qual é a minha surpresa maior. Se é de encontrá-la no shopping ou em uma farmácia qualquer? Na minha doce ilusão com essa mulher intocável, ela nem sofre com dores. Muito menos, ela mesma vai até a farmácia. Certamente tem alguém responsável por cada necessidade. Ao menos o que transparece é isso. Sempre poderosa, imponente. Onde chega é respeitada. Estou de fato, surpresa! – refletia isso enquanto escolhia algum restaurante pelas ruas da Vila Madalena.

Optei por jantar no Spadaccino, um ristorante italiano bastante aconchegante que serve uma maravilhosa carta de vinhos e pratos deliciosos. A noite foi embalada por muitas reflexões sobre os últimos dias e as recorrentes aparições de Laura Veigas em meu caminho.

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Laura

Entrei distraída e trombei com Alice, derrubando as moedas que ela estava nas mãos. Que vergonha. Mal cheguei no estabelecimento e já chamei atenção. Ela deve ter ficado muito nervosa. Assim que me viu, até gaguejou ao me chamar de senhorita Laura. Jamais permitiria que essa linda mulher me chame assim, de modo tão formal.

- Laura, por favor! – pedi a ela e sorri gentilmente – Me desculpa!

Eu que derrubei o dinheiro. O mínimo que posso fazer é me desculpar e ajudá-la pegar. Alice está sendo bem simpática, o que a deixa ainda mais linda do que já é. Segundo ela, é desastrada. Certamente diz isso pois ainda não passou uns dias perto de mim. Aí sim verá o que é ser atrapalhada. Os olhos dela, tão pertos do meu – suspiro fundo – Preciso me concentrar para não passar mais vergonha.

Ficar tão perto dela hoje, não estava nos meus planos. Que grata surpresa. Seus olhos, essa face corada. Nossa! Como é linda!!

- Comprei um analgésico e paguei com uma nota de cinquenta reais – a ouvi se explicar - O caixa me deu o troco só em moedas.

- Nossa!! – sorrio encantada com a espontaneidade dela ao falar – Isso é quase um castigo – olhei para o atendente que está nos observando pegar as moedas do chão e me atrevi a fazer uma brincadeira. Ela prontamente retribuiu.

Quisera ter todas essas moedas agora para jogar em alguma fonte dos desejos. O que pediria? – reviro os olhos aos meus pensamentos – Certamente que essa mulher me desse o prazer de poder conhecê-la melhor.

Entrego as unidades que estão comigo e sinto a ponta dos meus dedos tocar de leve suas mãos. Levantei os olhos e a olhei profundamente.

- Toma aqui, suas moedas – entreguei-as – Já pode encontrar um poço e pedir por seus desejos – e pisquei a ela. Será que me fiz entender? Sinto meu rosto queimar.

Ela sorriu e me encarou de volta.

- Com todas essas moedas, posso pedir até por um sonho! – respondeu-me com um lindo sorriso.

Que encanto é essa mulher. Preciso me concentrar para não transparecer o que ela causa em mim. Meu coração bate descompassado e minha mente não está apta para ter uma conversa madura, interessante.

Ela me agradeceu pela ajuda e saiu. Observo-a subir numa linda moto dos modelos que eu gosto, estacionada ao lado do meu carro. Adoraria a aventura de uma volta sobre duas rodas.

A vejo sair e percebo que não estou sozinha no ambiente ao ouvir o atendente me cumprimentar. Por alguns segundos, tive a impressão de ser só eu e ela.

- Boa noite! Posso ajudar? – me atendeu prontamente o moço atrás do balcão.

- Boa noite. Sim, um analgésico, por favor – o respondi distraidamente

Enquanto ele me atendia e eu o correspondia em modo automático, minha mente me envolvia em um misto de pensamentos. Que semana diferente! Quase todos os dias a encontrei. Diversos acasos. De repente temos lugares e situações em comum. Pensei em pedir ao Tom para encontrá-la. Fiquei tão espantada com o nosso repentino encontro, que até me esqueci dos planos. Não posso esquecer. Essa semana, preciso dos trabalhos da Alice. Por enquanto, só dos trabalhos – sorri com meus pensamentos e segui para casa. 

AmorasOnde histórias criam vida. Descubra agora