Palestra

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 Alice

Subir ao palco, como palestrante principal, excede toda compreensão da realidade. São anos de estudo e muito esforço, renúncias de encontros, viagens, momentos em família e com amigos, em busca de um bem impossível de ser tirado de mim: meu conhecimento. Receber esse reconhecimento, é surreal. Estar vivendo isso, é a realização de um sonho, daqueles mais inatingíveis. O coração palpita diferente, a postura se arqueia com orgulho, de si. Só eu sei, o quão árduo foi o caminho, até aqui, e quero conseguir mensurar essa conquista, através da minha fala para todas essas pessoas. Quero cativá-los e encantá-los no mundo dos negócios, tão instigante e com possibilidades infinitas.

Como um pugilista que, ao subir no ringue, seu foco é apenas ganhar a luta, ao ouvir meu nome, subi ao palco focada em vencer o desafio que me foi proposto. Um processo de imersão, fazendo jus a todo investimento que proporcionei em mim. Uma hora e meia depois da primeira palavra mencionada, concluí, agradecendo a presença de todos e, a oportunidade a mim concedida de expor meu trabalho. A plateia levantou-se para aplaudir e, entre todos os presentes, apenas uma pessoa destacou-se. Exuberante como sempre, com um turbante coral e manto com estampas africanas cobrindo os ombros, decote avantajado, mostrando a protuberância dos seios. Lindíssima ao extremo, sorrindo, com olhos tomados de orgulho, Laura me aplaudia. Definitivamente não sei se o planeta parou seu movimento de rotação, ou se, foi apenas meu coração traidor que, contradizendo toda minha razão, tomou conta da situação e começou a pular, como uma criança feliz. As pernas bambearam e me faltou o ar suficiente para que os pulmões completassem o processo de respiração. Não podia acreditar que era real. Pisquei lentamente, apertando os olhos para limpar a visão e assim, poder ver com clareza se o que via era ilusão de óptica ou realidade e, sim, a detentora dos meus sentimentos machucados, estava aqui, em carne e osso. Muita carne, no caso, deliciosa e tentadora carne. O pedaço de perdição que me tenta, levando-me do êxtase da conquista profissional, ao mais profundo abismo da derrota amorosa. Engoli em seco, e com dor aguda em meu âmago, desviei o olhar, voltando a me concentrar nas outras pessoas que em agradecimento e reconhecimento, me aplaudiam. Os pensamentos acelerados, desmontaram toda minha postura de mulher de negócios. O cerimonialista tomou seu lugar de fala e agradeceu, liberando-me para descer e juntar-me a todos no coquetel que se iniciara. Zee estava à ponta do palco, com um sorriso largo e braços abertos a me esperar. Abraçou e parabenizou-me.

- Ela está aqui! – cochichei em seu ouvido – Não sei o que faço.

- Quem está aqui? Laura? Sua Laura? – perguntou-me ainda em cochicho, dentro do abraço forte e demorado.

- Sim.

Afastou-se do abraço e me sorriu animada, segurando minhas mãos.

- Mantenha-se firme!

- Fica aqui, por favor – pedi fazendo uma careta – Estou desesperada, veja – mostrei minhas mãos trêmulas e ela sorriu.

- Esse coraçãozinho está muito animado, não é?!

- Sim – sorri, com expressão sapeca.

- Estarei por perto. Fica tranquila.

Zee saiu e várias pessoas me aguardavam para cumprimentar-me e parabenizar. Fui atendendo e conversando com cada uma. Muitas propostas de outros eventos e novas empresas para trabalhar. Para cada uma, entreguei meu cartão de visitas. Entre todos, a figura da tentação em pessoa, se aproximava. A cada passo que ela dava, meu coração palpitava mais. Aquele arrepio, também traidor, subiu desde a panturrilha até a nuca e me desconcentrou, fitando-a em resposta ao seu olhar, que me penetrava a alma e por alguns segundos, não ouvi mais o que um renomado empresário me propunha. Entreguei-lhe meu cartão, sem saber se o que ele queria era isso. Meus olhos não conseguiam se desviar dos de Laura, que insistia em me fitar, com os olhos carregados de sedução e desejo e eu, a olhava sentindo fúria e desdém. Como poderia estar aqui, a mais de 2 mil quilômetros de distância de São Paulo? Quem acha que é, para me encontrar em um evento que, sequer mencionei, que participaria? A beleza estonteante dela, tentara arrebatar-me para nosso pequeno mundo, no entanto, meu orgulho ferido, me manteve fixa na racionalidade dos meus atos. Ela chegou até mim, com um sorriso encantador estampado em sua linda face e com voz meiga me cumprimentou:

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