Concerto

1K 125 110
                                    

Laura

Foi difícil conseguir dormir com o misto de emoções que sentia. Queria deixar de ser turrona e falar com a Alice, mas queria manter a pose de durona e me manter afastada. Didi me ligou e falou horas na minha cabeça, tecendo elogios à recém conhecida, que já está caída de amores. Eu ouvi cada consideração, revirando os olhos:

- Laurinha, que menina doce. Tão simpática! Nossa, a Chica ama essa menina... Laura, mas você viu o jeito que ela te olhava? Por que não me contou que ela é tão linda?... Me passa o contato dela? Quero chamar ela e a Chica pra vir almoçar em casa. Ah, estou tão feliz!

Se ela estivesse falando isso tudo, ontem, eu estaria igualmente derretida, mas hoje, não quero dar lado pra esse sentimentalismo todo. Desliguei o telefone com ranço. Ocupei minha mente, trabalhando. Quarta-feira começa a Feira do Empreendedor e quero tudo na mais perfeita ordem. Na quinta é o ciclo de palestras e o encerramento sexta, com coquetel. Semana que vem ainda tenho que ir à Maceió e preciso também me organizar para isso. Pedi comida por delivery e meu coração deve estar muito amargurado mesmo, pois tive a impressão de ao ir até a portaria pegar a encomenda, ter visto a garota Bia, entrando no prédio em frente de casa. Devo ter ficado muito pilhada ontem, que hoje ainda não me encontro com a alma tranquila.

Enquanto trabalho, como e tomo uma cerveja puro malte, olho incessantemente a tela do celular, à espera de alguma coisa que faça meu coração bater mais forte. Tudo bem que não a respondi ontem, e que fui um tanto quanto exagerada, mas poderia ao menos me dar um oi. Sinto falta de me sentir viva e pulsante. As horas se arrastam em meio à solidão do domingo, até que vai chegando o momento de me arrumar para o tal encontro. Permito-me um dos banhos que amo, na banheira, com espumante e música alta, com hidratação dos cabelos e muita calma poder ficar linda. Para combinar com meu modelito escolhido à dedo, opto em ir com meu querido Porsche 718 Cayman, preto. Atualmente, está sendo bom andar munida de altas velocidades, caso precise usá-la. Pontualmente, às dezessete horas e trinta minutos, saí de casa, com o coração disputando com o motor de 300 cavalos, quem chegaria primeiro aos 100km/h.

Faltavam cinco minutos para às dezoito horas, quando encostei à frente do prédio onde Alice mora. Ela, elegantemente surgiu no portão, diferente de todas as vezes que a vi. Coberta por um vestido preto justo, longuete, com fenda lateral até metade das coxas, ombros à mostra, brincos Le Diamond com franjas em seda preto e scarpin vermelho sangue. Cabelo cuidadosamente penteado com gel, maquiagem marcante na região dos olhos e batom vermelho.

- Valei-me Deus e Nossa Senhora e todos os Orixás da mãe Didi - pensei ao vê-la. Definitivamente o potente motor da Porsche virou nada, comparado ao meu coração que disparou a muito mais que 100km/h em menos de 4 segundos. Essa é a mulher mais linda que meus olhos já puderam contemplar. Segurei firme no volante, enquanto acompanhava seu caminhar em minha direção, e me senti a mulher mais sortuda do planeta, por ter a honra de ir a um evento, com essa deusa em minha companhia.

Ela veio até a minha porta, debruçou-se, mostrando o colo dos seios e dirigiu a mim, um singelo e estonteante sorriso:

- Bonsoir, Mademoiselle Veigas.

- Bonsoir, Mademoiselle Stromps - falei com os olhos vibrantes - C'est absurdement beau.

- Merci(*) - e sorriu timidamente, ao fazer biquinho para falar francês - Já posso entrar ou devo esperar pontualmente às dezoito horas? - perguntou com as sobrancelhas arqueadas ironicamente.

AmorasOnde histórias criam vida. Descubra agora