Abraço Carinhoso

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Laura

Com a cabeça recostada na confortável poltrona do meu Gulfstream G650ER, observo Alice que está acomodada na poltrona à minha frente, olhando as nuvens que parecem serem feitas de algodão, nesse céu de brigadeiro desta manhã esplêndida marcada pela volta ao Brasil. Ela está especialmente linda, vestida num agasalho esportivo, marsala, com tênis e boné branco. Seus olhos, verdes e translúcidos parecem o oceano das Maldivas, com a claridade que invade sua íris. Meu pensamento viaja mais veloz que as asas desse jato que está quase no seu máximo potencial de 952 km/h e, com um sorriso discreto nos lábios, retorno ao nosso quarto, no apart hotel que ficamos esses três dias após sair do hospital, no mesmo hotel que fiquei hospedada no dia que fui descansar sozinha. Só o fato de estarmos sozinhas mais uma vez, depois de tanto tempo acompanhadas por uma equipe hospitalar, já seria suficiente para ser marcante, no entanto, por algum momento me desacostumei o quanto é surpreendente estar com essa mulher que eu tanto amo. Nosso amor vai além do toque físico, e que toque - apoiei o queixo nas mãos, segurando o sorriso nos lábios ao lembrar da intensidade do toque e minha intimidade reage imediatamente a essa lembrança.

Após chegarmos do hospital e nos acomodarmos, fomos servidas com um jantar maravilhoso servido por um dos grandes chefes que o hotel dispõe e cada qual foi para sua suíte. Levei Alice à nossa e, ter a oportunidade de contemplar seus olhos vibrantes de emoção pelo momento, foi mais um dos grandes momentos a ser guardado no mais íntimo da memória. Assim que entramos e fechei a porta sobre mim, empurrei sua cadeira até a poltrona lateral à cama e me sentei de frente para ela. Nosso coração, me refiro a nosso pois ambos batiam no mesmo compasso de uma sonatina em seu movimento Allegro e era possível ver a jugular pulsar. Os olhos se cruzaram no silêncio da fala e as mãos se tocaram num toque aveludado, quente e carregado de saudade. Ela percorreu com as pontas dos dedos meu braço e logo em seguida me tocou o rosto e sorriu, aquele sorriso que me desmonta inteira. Deitei o rosto em sua mão e fechei os olhos, suspirando apaixonada e aliviada por tê-la novamente para mim. Senti seus lábios tocarem os meus e nossas línguas dançaram entrelaçadas num beijo carinhoso, cheio de saudade e luxúria. Ficamos nessa carícia por um tempo marcado pela ausência de tempo para acabar. Os beijos se fundiam em abraços e voltavam a ser beijos e toques, num looping contínuo e delicioso até que pedi para que ela tomasse um banho comigo, e sua resposta com olhar marejado me tocou o mais íntimo do meu ser:

- Como? - e deu de ombros - Não sou mais a sua Alice, meu amor.

Pude perceber em seu olhar e fala, o quanto de insegurança carrega dentro de si. Alice sempre foi uma mulher independente, corajosa, destemida. Perder, mesmo que temporariamente, essa independência que ela tanto preza, a machuca mais do que as próprias feridas físicas causadas pelo acidente. Senti a necessidade de assegurar-lhe que não vou a lugar algum se não for com ela e que independente de qualquer situação, é minha Alice de sempre. Imediatamente a repeli:

- Jamais repita isso. Você sempre será a minha Alice.

- Mas como tomarei um banho com você? Eu não consigo sequer me sentar sozinha.

- Na banheira, juntinha de mim - respondi dando de ombros - Fácil assim.

- E vai me carregar? - perguntou perplexa.

- Por que não? Você não faria o mesmo por mim?

- Faria - respondeu imediatamente - Mas - seu olhar desviou-se do meu e sua face corou-se - Isso é muito trabalho para você.

- Alice - segurei seu rosto, fazendo-a olhar para mim - Você é a mulher e o amor da minha vida. Por favor entenda que sua condição, não me impede de te amar. Te carrego aqui e onde mais for preciso. Seu peso corpóreo não é nada comparado ao peso de te perder.

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