Laura
Hoje, depois de dar início ao que seria uma semana para concluir alguns projetos de expansão de investimentos no ramo de redes de transmissão e também nos de energia eólica, completei exatos 87 dias na Europa e, por não aguentar mais de saudade, adiantei os planos que passaram a ser de 90 dias e estou retornando ao Brasil. Meu coração? Ah!! Mais agitado que bateria de escola de samba! A saudade nesse tempo todo doeu na alma e me dominou diversas vezes. Me desconcentrou de modo a me desorientar dos meus planos. Foi uma jornada longa e exaustiva percorrer a Noruega, seguida da Dinamarca, depois Áustria, Suíça e por fim a Bulgária de onde acabei de levantar voo deixando para trás cinco filiais do Complexo Veigas e uma equipe devidamente treinada em cada território e, agora, minha única função está sendo em contar os minutos que insistem em passar lentamente até que chegue o momento de pousarmos em São Paulo.
Ficar todo esse tempo longe de casa em nenhum momento esteve nos meus planos, no entanto, um dever chama outro que chama outro e um dia após o outro, até que ficou impossível retornar dentro de uma semana como inicialmente havia imaginado. Tentei adiar algumas reuniões e fazer um bate volta rapidinho no Brasil, porém, não consegui. Insisti diversas vezes para Alice vir pra cá, no entanto, como os negócios dela também estão numa crescente ascensão e, capricorniana que é, jamais deixaria de acompanhar de perto suas conquistas, quis o tempo então nos castigar com essa distância que nos consome a alma.
Neste momento, cada milha que é deixada para trás nas asas do vento, mais meu coração se acelera em saber que em menos de vinte e quatro horas encontrarei o amor da minha vida. Pedi ao Tom que não comunicasse ninguém que estava voltando pois quero surpreender a todos.
Tudo o que mais desejo é sentir o abraço quente e confortável do meu grande amor e esquecer de trabalho e obrigações. Quero me entregar em seu colo e lá permanecer até que a saudade não seja mais um vocábulo presente em nossa vida.
Mal posso esperar para saber das novidades que aconteceram do lado de lá, bem como contar algumas que aconteceram por aqui, como a primeira casa que comprei em nosso nome na Suíça, o cello Stradivarius que pedi para ser feito com nossas iniciais talhadas na madeira, o enxoval turco que estou levando para nossa nova vida que desejo em breve iniciar e um anel lindíssimo da Cartier com esmeralda na cor dos olhos dela para pedí-la em casamento. Pensei em algo bem reservado como em um pequeno cruzeiro pelo Pacífico, numa noite de lua cheia, toda a imensidão do oceano escura e só nosso iate iluminado com a luz do luar, um jantar no deque e em meio ao nosso amor, fazer o pedido. Quero preparar tudo com muito carinho e tornar o momento perfeito, tal como ela merece.
- Srta Veigas - ouvi uma voz no fundo dos meus pensamentos - Senhorita!
Voltei a atenção à comissária que gentilmente me tirava dos meus pensamentos.
- Oi - sorri - Estava viajando aqui - dei de ombros e apontei a cabeça.
- Gostaria de comer ou beber algo? - respondeu sorrindo.
- Ah sim! Quais as opções do catering?
Temos um brunch completo para agora, senhorita.
- Pode servir por favor! - respondi gentilmente - Obrigada.
Esse diálogo se repetiu por mais algumas vezes até que ouvi a fala mais aguarda de toda viagem:
- Atenção tripulação, preparar para o pouso! Em São Paulo, 19h, temperatura de 28º, céu limpo. Obrigado por nos escolher para fazer sua viagem sempre em segurança. É um prazer te servir, senhorita Laura Veigas.
Geralmente sou mais gentil e cordial com minha tripulação, mas hoje estava afoita. Agradeci a viagem e me apressei em descer o mais rápido que foi possível. Aos pés da escada, Tom me aguardava com seu lindo sorriso sempre a postos.
- Bom te ver, Tom!! - o abracei - Agora me dê logo a chave do meu carro que vou correr para casa.
- Não prefere ir com o motorista? - perguntou preocupado - Os seguranças estão..
-:Shiu!! - coloquei o dedo indicador em seus lábios o interrompendo - Não quero motorista nem segurança, só quero minha Alice - o abracei - Obrigada pelo cuidado mas tchau!!
Me apressei em sair do hangar em direção à garagem, acionei a chave e as setas do Mustang GT piscaram para mim.
- Tom sabe das coisas - sorri feliz com a escolha perfeita do meu assessor.
Nem preciso dizer que o asfalto de SP sentiu a vibração do motor V8 com 488cv de potência. Quanto mais eu acelerava, mais meu coração se alegrava. Me sentia magnetizada com a presença da Alice que estava cada vez mais próxima.
Queria fazer surpresa de chegar, mas precisava saber onde ela estava, então liguei e após alguns toques ela atendeu e eu quase explodi ao ouvir sua voz:
- Oi meu amor! Um minuto! - pediu e mutou a ligação.
- Tenho todos os minutos que você quiser - gritei sorrindo.
- Oi meu amor, pronto!! - falou
- Ocupada? - perguntei tentando conter o sorriso e a empolgação.
-;Não! - respondeu rapidamente - É..só um pouquinho.
- O que faz a essas horas? Ainda está no trabalho? - perguntei querendo saber onde estava para eu decidir o caminho a pegar.
- Mais ou menos - sua voz estava de repente estranha.
- Como mais ou menos? - perguntei intrigada - Ainda não foi pra casa? Já são quase 20h.
- Sim - respondeu ainda com voz estranha - Já saí do trabalho só que tive que passar no shopping e ..
- Qual shopping? - meu coração voltou a disparar. Não queria encontrá-la no shopping pois estava louca de vontade a agarrar mas não iria aguentar ficar em casa esperando.
- Passei aqui no Higienópolis mesmo, perto de casa, mas já já vou pra casa. E você? Por onde anda hoje?
- Bulgária mesmo ainda - contive o sorriso ao falar - Mas termina aí o que está fazendo no shopping. Quando chegar em casa me liga.
- Tá bem! - respondeu rapidamente - Um beijo - e desligou.
- Nossa, deve estar muito ocupada nesse shopping - respondi ao esmo revirando os olhos, mas sorrindo com o pensamento de que em breve ela seria encontrada.
Peguei o caminho ao shopping mencionado e acelerei ainda mais do que já estava. Em bem pouco tempo comecei a descer as inúmeras rampas do estacionamento do shopping. Cada mini looping que fazia mais me agitava. Estava disposta a rodar os seis andares atrás de encontrar meu grande amor.
Primeiro andar, nada! Segundo andar, nada! Terceiro e quarto também, nada! Quinto, tão pouco! Sexto..praça de alimentação..nada!! Saí para o terraço. Meu coração quase saia pela caixa torácica afora. Estava afoita, ansiosa, feliz, agitada e estranhamente preocupada.
Será que passei aqui a toa e a Alice já foi embora só no tempo que levei pra chegar? pensava aceleradamente - Mas vim o mais rápido que pude!
Passei os olhos pelo terraço. Um belíssimo lugar para um date, pensei e sorri.
Som ambiente, iluminação reduzida, no terraço de um dos metros quadrados mais valorizados da capital, luz do luar enfeitando o céu, clima agradável.
Na lateral esquerda, sentada em uma mesa com bancos de futons, rodeada de orquídeas brancas, vestindo camisa social azul e os cotovelos apoiados na mesa, os cabelos loiros levemente crescidos na altura do queixo bem diferente da última vez que nos vimos mas igualmente linda, sorrindo despretensiosamente, a mais linda e encantadora mulher já esculpida pelas deusas. Minhas pernas bambearam e os olhos marejaram de emoção.
Caminhei rapidamente em sua direção com um sorriso largo e emocionada em revê-la, mas mesmo andando rápido, tinha a impressão dos meus passos estarem pesados pois demorava a chegar. A demora foi me angustiando à medida que passo atrás de passo, fui observando ao redor de onde Alice estava.
Sentada junto dela, de costas para mim, uma moça com a silhueta bem marcada em um vestido justo, cabelos encaracolados que ficavam esvoaçando com o passar dos dedos que ela enrolava algumas mechas e soltava, enquanto arqueava levemente para trás a cabeça ao sorrir.
A respiração foi se tornando algo difícil de controlar e o coração que palpitava feliz agora começara a se transformar numa espécie de um sentimento amorfo. Senti um gelo percorrer minha espinha e se alojar em meu estômago, subindo imediatamente um amargor para a boca.
Cheguei atrás da moça desconhecida, sem o sorriso que a pouco estampava e olhei para Alice. Ela lentamente levantou os olhos para minha pessoa e sua expressão sorridente transformou-se imediatamente em espanto e com a boca seca balbuciou:
- La - Lau-ra!
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Amoras
RomanceLaura Veigas é a primeira CEO negra da capital paulista, com uma carreira brilhante e ainda em ascensão. Possuí hobbys clássicos e uma vida estabilizada, focada no trabalho. Extremamente controladora, gosta de tudo do seu jeito. É orfã e usou da sua...