Já está tudo decidido!

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Alice

Foi difícil conseguir dormir depois da visita inesperada que recebi. Estava em êxtase com o que vivi e a adrenalina se espalhou por todo o meu corpo. Só não foi muito bom para meu quadro clínico. As emoções potencializaram a dor na cabeça e tive que pedir para ser aumentada a dose de remédios. Cheguei até a vomitar de dor.

Tão logo após me servirem um copo descartável com chá mate quente e duas bolachas água e sal, foi liberada a visita.

A porta se abriu e meus pais surgiram. Fiquei surpresa, porém feliz com a atenção que se propuseram a me dar.

Minha mãe, me beijou o rosto e alisou meus cabelos, mostrando-se preocupada com minha situação. Falou que a dona Chica estava lá fora a um tempão aguardando a hora da visita e que seria breve para que ela também pudesse entrar. Me senti querida e amada.

Meu pai, limitou-se a me cumprimentar segurando em minhas mãos. Rapidamente se pôs em pé, um pouco distante da cama, com os braços cruzados. Olhava-me, com olhar enigmático.

- Mas o que foi que fizeram com você, hein, Alice? – perguntou-me com voz séria.

- Então, pai – o respondi sorrindo -Também queria saber!

- Está vendo, Fátima – dirigiu a fala para minha mãe – É isso que acontece com quem escolhe não ter um homem do lado para defender.

- João, para com isso – falou rispidamente minha mãe – Não é hora de fazer encrenca.

- Pai, por favor! – o supliquei

- Mas eu só estou dando minha opinião – continuou – Ou agora, nem isso mais posso fazer? – franziu o cenho – Eu acho que isso só aconteceu, porque você fica com essas pouca vergonha de querer ficar com mulher, e agora, está aí – me apontou na cama – Deve ter se metido com mulher casada e o marido acertou as contas.

- Pai – fechei os olhos, respirando fundo – Por favor! Não estou em condições de discutir.

- Mas eu não estou discutindo – insistiu em continuar – Só estou falando o que eu acho – deu de ombros – Com a Beatrice não temos esse tipo de trabalho. Ela sim é uma moça direita, com marido e filhos. Não fica andando por aí sozinha e mexendo com coisa que não presta.

- João – falou firmemente minha mãe – Chega! Se quiser ir embora, eu pego ônibus pra ir depois.

Eu segurava as lágrimas para não chorar na frente dele. Não bastava a dor que sentia, agora estava profundamente magoada com as coisas que meu pai proferiu.

- Não vou embora – replicou ainda com o cenho franzido – Você não vai andar de ônibus coisa nenhuma. Quer algum macho fazendo isso com você também?

- Então fica quieto, João – falou bravamente minha mãe – Deixa eu falar com minha filha, em paz. Não vê que ela não está bem?

- Ah, sim – respondeu olhando para mim – Sua filha! É por ser sua filha, que só me dá desgosto.

- Pai – pedi serenamente – Por favor! – respirei fundo procurando forças para falar - Depois que eu melhorar, o senhor pode me dizer o que quiser, mas no momento, pode por favor me respeitar?

- Está bem, Alice – respondeu dirigindo-se até a porta – Vou esperar sua mãe lá fora. Vou deixar a Chica entrar. Com ela você se dá melhor né?! – e saiu, fechando a porta sobre si.

Não contive as lágrimas e me desaguei. Minha mãe abraçou-me e me pedia calma, beijando minha testa.

Não demorou e dona Chica entrou na sala. Correu me abraçar.

- Minha menina linda – falou carinhosamente – Como você "tá"? – e beijou minha testa, acariciando meu rosto.

- Ah, dona Chica – respondi sorrindo em meio as lágrimas – Já estive melhor.

- Eu estou aqui fora, desde que sua mãe me ligou. Só saí um pouquinho para comer um lanche ali na esquina e voltei logo.  Minha patroazinha me deixou vir te ver e até mandou o motorista dela me trazer – falava animada – Um carrão! – revirou os olhos fazendo careta - Até me senti importante.

Ela conseguiu arrancar um sorriso largo de mim.

- Mas você é importante, lindona – a falei sorrindo – E essa sua nova patroa, tirou a sorte grande em ter você por perto. Tem que tratar bem mesmo.

Ela e minha mãe continuaram no quarto conversando e me tratando com muito carinho. Nossa conversa foi interrompida, com o Dr Bruno entrando na sala, acompanhado do doutor Leonardo, advogado da Laura, e a Carol. Estranhei todos ali, mas ainda mais, a presença do Leonardo.

- Oi, Alice – cumprimentou-me expressando alegria em me ver.

Franzi o cenho e respondi seu cumprimento.

- Alice, esse aqui é o Dr Leonardo – falou-me o médico – Ele é advogado de uma empresa que você presta serviços – olhei para o Leonardo com o cenho franzido. Ele lançou uma piscada e sorriu - Ele nos procurou, solicitando sua transferência para um hospital que melhor te atenderá.

Minha mãe ficou mais feliz do que eu, que estava completamente confusa com aquelas informações que recebera. Ela beijava minha testa e agradecia aos céus.

- Como assim? – perguntei tentando entender o que estava acontecendo – Que hospital?

- Alice, recebi ordens expressas de tomar todas as providências necessárias. Já está tudo preparado – explicava o advogado – Dentro de meia hora, o helicóptero chegará, e você será transferida para o Hospital Albert Einsten. Tem uma equipe médica à sua espera.

- Como é que é? – franzia o cenho em surpresa – Como isso? – falava espantada – Não posso aceitar isso, doutor Leonardo!

- E por que não aceitaria, Alice? – responde-me gentilmente – Já está tudo preparado!

- M-Mas, eu não tenho como pagar por tudo isso! – sentia minhas mãos gelarem de tanta emoção – Desculpa! Agradeço, mas não posso aceitar.

- Alice, são ordens! – Leonardo arregalou os olhos, franzindo a testa – Acredito que você entenda do que estou falando.

- Sim, mas isso é demais!! – o respondi com espanto – Imagine, Albert Eistein ..

Ele deu de ombros e sorriu.

- As ordens foram essas, Alice! – me lançou uma outra piscada – E você merece, o melhor e mais completo tratamento, não é doutor Bruno?

- Com certeza!! – respondeu o médico, me olhando gentilmente – Se você recusar uma oferta dessa, ficarei bastante preocupado em relação a sua sanidade – e sorriu.

Todos sorriram com o comentário do médico. Eu sentia meu rosto corar de vergonha, pelos benefícios recebidos.

Minha mãe, dona Chica e Carol se abraçavam comemorando. Dr Bruno e Leonardo conversavam sobre os detalhes de prontuário. E eu?! Eu sentia meu coração disparado e, apesar da dor que se aumentara devido as emoções, lembrava da visita anterior e sabia quem era a causadora de tudo isso. Não me restava opções. Era só aceitar e agradecer.

Em meio a todas essas informações, conversas e emoções, não pude deixar de perceber olhares sendo trocados entre a Carol e o Leonardo. Sorri com a possibilidade de minha atual situação, ser o meio de encontro desses dois queridos, sedentos de amar.

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