O passado

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Laura

Saindo do hospital, encontrei com o Gustavo trocando de turno com um faxineiro, chamado Augusto. Trocamos olhares discretos, porém, o suficiente para que nos entendêssemos. Vou para a casa aliviada, sabendo que a equipe de segurança está a postos, conforme o combinado.

A vida real, longe dos encantos de Alice, não parou! Por um instante já sinto falta de estar por perto e me envolver na magia que ela emana de me fazer esquecer dos problemas. Porém, vou me reservar esse tempo precioso, como forma de recompensa do dia de trabalho e solução de conflitos.

Cheguei em casa apressada para me arrumar e ir à empresa. Já estava com os pés na escada, quando ouço a voz de Didi vindo da cozinha:

- Onde vai, com tanta pressa?

Virei-me a ela e sorri.

- Trabalhar!!! - desci do degrau e fui ao seu encontro. Dei-lhe um beijo apertado na bochecha e um abraço rápido.

- E esse olhar? Vai me explicar ou vou ter de arrancar à força? - perguntou-me olhando pelo canto dos olhos.

- Que olhar, Didi? - a encarei com expressão misteriosa.

- Esse aí - e apontou para meus olhos - De quem tá com dança de mico.

- Ah! Não começa vai?! - sai sorrindo rumo à escada.

Didi convive comigo desde que eu era criança e sempre teve o "dom" de ler meu olhar. Não existe o que eu consiga esconder dela. E como meu pai sempre falava: " Os olhos são o espelho da alma", ela vive a declamar. Exclusivamente hoje, estou animada. Provavelmente é isso que ela está enxergando.

- Como foi a noite no hospital? - perguntou, me seguindo para o andar superior.

- Foi tranquila. A Alice dormiu a noite toda. E agora cedo, a médica passou e informou seu caso - respondi enquanto escolhia uma roupa para vestir - Terá que ficar essa semana internada e em observação.

- Nossa! E ficará lá mesmo, no Einstein?

- Sim! Faço questão que seja lá!! – a respondi rapidamente.

Ela estava sentada na poltrona ao lado da banheira e me examinava com seus grandes olhos amendoados.

- Que foi, Didi? Por que está me olhando assim? – sorri ao perguntar.

- Não posso mais te olhar, Laurinha? – me falou com sorriso no canto da boca.

Revirei os olhos antes de respondê-la e fiz uma careta.

- Claro que pode. Só não estou entendendo esse olhar, de quem está me examinando.

- Só estou te olhando, minha menina – falou-me ainda cor ar de sorriso – Você está com uma aura muito boa e isso me deixa feliz.

- Sei – arqueei a sobrancelha e fui em direção ao banho.

Didi, permaneceu sentada na poltrona e com os pensamentos voltados a alguma coisa que a fazia sorrir em silêncio. Fui breve no banho e apressei-me em vestir-me.

Estava colocando o macacão preto que escolhi para vestir por baixo do blazer branco, quando ouço-a perguntar, com expressão enigmática:

- Essa sua nova amiga... vou poder conhecer?

A olhei com interrogação. Está falando da Alice? Qual o interesse em conhecê-la? Franzi a testa ao responder, fazendo careta:

- Se quiser, pode sim. Mas por que, gostaria de conhecer a Alice?

AmorasOnde histórias criam vida. Descubra agora