Hotel Fazenda

1.1K 146 44
                                    

Laura

Acordei já era madrugada. Estava revigorada e faminta. Fiz um lanchinho e voltei pra cama. Adormeci rapidamente. Fui acordada pelo som de mensagem do Gil.

(Gil: Oie. Não terá mais rolê. A Bia desmarcou. Bjuu)

Dei de ombros com essa informação. Estava com vontade passear, mas desanimada com a possibilidade. Não conheço essa tal de Bia e também não tenho vontade conhecê-la. Não sei dizer o porquê.

Aproveitei que já tinha acordado e o dia estava lindo, levantei animada. Graças aos santos minha cabeça parou de doer e me sinto ótima.

Liguei para a Didi para colocarmos o papo em dia enquanto tomava café e a convidei para ir ao nosso Hotel Fazenda. Ela e o tio Jorge prontamente aceitaram o convite.

Combinei de passar pegá-los e assim seguimos viagem.

Amo viajar com esses dois. Eles são muito divertidos e nossa relação, é baseada em muito carinho e respeito. Chegamos ao local e estava tudo muito bem cuidado e organizado.

O pessoal da recepção se assustou com nossa chegada, mas já foram logo providenciando os melhores aposentos e cuidando de todos os detalhes.

Eu, viciada em trabalho que sou, aproveitei para dar uma olhada em tudo. Conversei com alguns clientes. Visitei a cozinha. Averiguei a limpeza das instalações. Pedi para o ostler* preparar um dos cavalos marchadores pois iria cavalgar.

Convidei a Didi para a aventura, mas ela não se atreveu. Disse que está muito velha para isso e preferiu ficar no ofurô com água quente, tomando seus drinks.

Saí então para cavalgar com a égua que o Ricardo preparara. Uma mangalarga marchadora puro sangue. Lindíssima. Preta como meus olhos. Mansa como um raio de sol e veloz como a própria luz. Senti seu coração e ela o meu. Nos entregamos em uma parceria única e emocionante. Fomos até a divisa dos alqueires, de onde é possível avistar a rodovia ao longe. Desci dos lombos da égua e me sentei na grama, embaixo da sombra de um Ypê rosa. Tirei as botas e me permiti sentir meus pés tocarem aquele verde fresco. O silêncio faz harmonia com o canto dos pássaros. Olhei para o horizonte e avistei os viajantes em sentidos opostos que percorrem em alta velocidade. Entre os carros que seguem seu curso, um grupo de motocicletas me fez lembrar do meu amigo e advogado Leonardo. Ele pertence a um moto clube e aos finais de semana saem passear. Sorri com a possibilidade de ser ele ou seus amigos.

Leonardo é primo da minha ex namorada, a Tati. Nossa relação ficou um pouco estremecida com o final do namoro, após ela me trair com a secretária. Um belo dia cheguei no escritório antes do horário previsto e as encontrei transando na mesa de reuniões. Foi um escândalo. Com isso, minha amizade com o Léo mudou um pouco, mas mantive a relação profissional. O considero muito. Ele é um querido. Não tem nada a ver com a prima. E o coitado se sente mal por ter sido o cupido da relação na qual me decepcionei.

Lembrar do Léo, me fez lembrar da Alice. E lembrar dela, fez um sorriso brotar em meio do nada.

Alguma coisa nessa mulher me intriga. Talvez seja apenas sua beleza. Talvez seja sua inteligência. Não sei dizer. Ela me instiga. Tem algo que fala alto dentro de mim quando a vejo. Já faz de quatro a cinco anos que ouço falar de Alice Stromps devido suas altas apostas no mercado financeiro. Sua ousadia nas negociações fez dela, um dos nomes mais disputados entre as grandes empresas e investidores. No entanto, só agora que a conheci e sei qual é a face que estampa esse nome.

Tive uma ideia!!! Vou pedir para o Tom a encontrar. Essa semana estarei ocupada organizando a Feira do Empreendedor o que requer muito trabalho e dedicação e não irei aos leilões. Vou contratá-la como consultora para esses dias. Será como uma retribuição pela belíssima atitude no shopping e também aproveito para descobrir quem é de fato, Alice.

Esses pensamentos animaram meu dia. Voltei à sede e deixei a égua no estábulo, junto do Ricardo.

- Dona Laura, vosmecê num qué batiza essa belezura? – falou-me Ricardo, ao alisar a cara da égua

- Nossa! Seria uma honra! – o respondi também acariciando o peito daquele lindo animal – Ela ainda não tem nome?

- Ah! O pessoal aqui chama ela dum nome aí, por sê assim, preta que chega brilhá – e passava as mãos sobre seu lombo enquanto desabotoava a cela – Mas ela é de vosmecê. Eu penso que é a dona quem tem que ponhá o nome.

- E qual é o nome que a chamam?

- É Amora, mor de sê preta feito uma amora madura – respondeu-me terminando de tirar a cela.

Me arrepiei toda quando ouvi aquele nome. Olhei nos olhos daquele belíssimo animal e pude sentir seu coração em compasso com o meu. Um olhar tão sereno. Suas orelhas mexiam-se como que ouvindo algum som bem longe. Tão linda. Meiga. A acariciei e me vi sorrindo sem causa.

- É um lindo nome, Ricardo. Gosto muito de Amora – o respondi passando as mãos pela crina – O nome dela é oficialmente Amora – sorri – Amora Veigas!

- Como quiser, Dona Laura – respondeu-me também sorrindo – Vou mandá ponhá o nome na cela e na porta do estábulo.

- Sim, Ricardo. Faça isso, por favor – o olhei carinhosamente – E cuide dela como se fosse sua. Amora Veigas agora é minha preferida – dei um beijo na cara daquele lindo animal e sai para à sede.

Aproveitei meu final de semana de descanso com tudo que tenho direito. Piscina. Ofurô. Massagem. Comida de sítio. Roda de viola com sertanejo raiz. Fogueira. Até costela de chão no almoço do domingo.

Tio Jorge e Didi, estavam radiantes de felicidade. E a emoção que sinto em proporcionar esses pequenos confortos a eles, me enche de satisfação.

Já era cair da tarde e tínhamos que retornar à capital. Afinal, amanhã o dia começa cedo e teremos uma semana bem corrida.

Despedimo-nos de todos e partimos em direção às nossas casas. Deixei meus tios em suas casas e passei em uma farmácia comprar um analgésico e remédio para cólicas.

Minhas pernas tremeram e meu coração bateu em descompasso quando ao entrar àquele estabelecimento, dou de cara com ninguém menos que senhorita Stromps. Em carne, osso e beleza. Bem à minha frente.

(*) Ostler: funcionário responsável por cuidar dos cavalos.

AmorasOnde histórias criam vida. Descubra agora