Família

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Alice

Domingo amanheceu típico de final de verão. Um calor terrível, com o céu trazendo algumas nuvens anunciando que a qualquer momento se derramariam. Da mesma forma que o céu, estava meu coração. Ardente por saber que veria Laura, no entanto, com algumas nuvens por derramar-se. A saudade misturada ao orgulho ferido, formam uma atmosfera dúbia e misteriosa. Por Deus, como sinto a falta daquela mulher que me domina os pensamentos. Desde sexta não nos falamos. Provavelmente tem alguém tão orgulhosa quanto eu, do lado de lá.

Antes de me arrumar liguei para minha mãe, a fim de confirmar o almoço e qual horário teria que passar para Laura. Dona Fátima já estava ligada no 220, fazendo um milhão de coisas. Me informou que chamou minha tia Cláudia, irmã mais nova dela pra ir também e que talvez dona Chica também aparecesse por lá. Me pediu pra levar as bebidas e passar comprar carnes para fazer churrasco. Como quase fui cozinheira, esses almoços de domingo, minha mãe acaba deixando algumas tarefas exclusivas para mim, como, escolher as carnes e comandar a churrasqueira, já que meu pai acha que carnes são o próprio carvão. Me apressei então em ir logo, para não ficar tudo para última hora. Ao sair de casa, enviei mensagem para a Laura:

Alice: Bom dia, sumida! 😊 Vou te mandar a localização da casa de D.Fátima. Te aguardo lá, 12h. Estou indo já, para ajudar a organizar as coisas. Bjo

Rapidamente recebi a resposta:

Laura: Bom dia! Bom saber que está viva. Quer que leve alguma coisa? Estarei lá, 11:30..estou ansiosa em te ver. Bjo

Alice: rsrs como quiser. Será bem vinda a qualquer hora. Não precisa levar nada, além de você. Bjo

Passei no mercado e peguei tudo o que precisava. Cheguei na casa da mãe quase 11h, devido ao trânsito carregado. Ela, toda contente veio me receber no portão como de costume.

- Lice, meu amor! Que saudade de você, filha - me abraçou forte ainda na calçada - O que tem pra pegar?

- O pai não está aí pra ajudar? - perguntei, incomodada com só ela ajudar.

- Está sim, mas sabe como é seu pai. Deixa ele em paz, está lendo a mensagem do dia, que o pastor enviou.

- Tomare que não seja uma mensagem sobre amar a família - revirei os olhos e falei em tom ácido.

- Alice!!! Venha, vamos arrumar as coisas.

Entramos e fomos direto para a área externa. Estava tudo muito limpo e organizado, só à espera dos convidados e do feitio da alimentação.

- A Beatrice não vem? - perguntei da minha irmã enquanto colocava as coisas em cima da mesa.

- Convidei, mas ela disse que ia ficar na casa hoje. Está indisposta.

- Entendi. Queria vê-la. Trouxe um presente para o bebê.

- Que lindo, filha! Deixa aqui que entrego pra ela.

Comecei a organizar as coisas para o churrasco e minha mãe foi atender meu pai, que a chamava incontrolavelmente.

Desde que fui morar sozinha, é assim que acontece quando venho almoçar em algum domingo aqui. Ou minha mãe chama parentes e amigos e temos um dia um pouco mais sociável, ou meus irmãos aparecem e deixam a atmosfera pesada, sem entrosamento. Meu pai, aparece só na hora de comer e no máximo, troca umas palavrinhas sem muita vontade. Cumprimentar quando chego? Jamais. Parece que é demais pra ele, ter que aturar a minha presença. Minha mãe, acaba tentando fazer a política da boa vizinhança com todos. Atende um e outro, com o mesmo carinho.

Acendi a churrasqueira e coloquei as bebidas para gelar. Apesar de meus pais não consumirem bebida alcóolica, me permitam trazer quando fazíamos almoços assim, e, churrasco sem uma cervejinha, não tem a menor graça. Coloquei a primeira remessa de carnes para assar e apertaram a campainha. Meu coração acelerou-se com a possibilidade de ser a Laura e senti a garganta secar. Gritei à minha mãe se queria que eu atendesse e ela respondeu que já estava abrindo a porta. A ansiedade me tomou. Não sabia se ia até lá para ver quem era ou se ficava onde estava. Sentei pra parecer estar descontraída, e achei muito boba. Levantei, e voltei pra churrasqueira, me achei muito desatenta. O coração acelerado e as pernas bambas, não me deixam pensar com clareza. A possibilidade de Laura estar na casa dos meus pais, me deixava afoita. Como seria a reação deles? As outras garotas que trouxe aqui, não tive a melhor experiência. Meu pai é muito bruto nas palavras e pode assustá-la. Minha mãe é muito meiga e pode cativá-la demais. Eu, estou nessa de querer, mas não querer demonstrar. Quando fico nervosa, me torno desastrada e, nessa de não saber o que fazer, derrubei um copo no chão, quando ia colocar uma cerveja para tomar. Peguei a vassoura para limpar a bagunça que causei e ouvi as vozes se aproximarem. Meu coração se disparou ainda mais, fazendo meu rosto corar. Comecei a varrer os cacos do chão, quando surge minha mãe , junto com dona Chica conversando baixinho.

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