Dona do Elevador

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Laura

Ouvia ao longe passos e sabia que tinham pessoas à minha volta, mas a dor de cabeça e o gosto de álcool na boca, me enojavam ao tentar abrir os olhos. Tive que ser forte e vencer o enjôo e acordei. Constatei que estava na sala de casa, deitada no tapete e que foi ali que dormira.

A Marcia, faxineira estava na cozinha preparando algo e falava ao celular. Me sentei e o mundo girou em trezentos e sessenta graus. Fechei os olhos e a rotação aumentou, me fazendo quase vomitar. A cabeça doía e a claridade do dia, estava exacerbada. Ouvi o porteiro dar bom dia para alguém e tão logo, descobri que a pessoa que chegara era o Gil que, ao me ver, arregalou os olhos e correu em meu encontro.

- Laura, o que aconteceu? – perguntou preocupado, sentando no chão, do meu lado.

- Oi, Gil! – falei segurando a cabeça entre as mãos – Acho que bebi um pouquinho demais ontem.

Vi que o Gil encontrara a garrafa de vodka quase vazia, caída no chão e levou até a cozinha, falando alguma coisa com a Márcia, que não consegui ouvir.

- Vamos para um banho! – falou com expressão séria e me levantando do chão – E não adianta falar não.

- Eu vou sozinha, Gil – falei com os olhos pesados.

- Você não está em condições nem de levantar sozinha, acha que vai tomar banho sozinha? – falava com o cenho franzido – Fica tranquila que do que você tem, eu queria ter igual – falou me fazendo rir, enquanto colocou meus braços em volta de seu ombro e me levava para meu quarto.

Márcia já estava preparando o banho e ajudou Gil na tarefa. Ao sentir a água gelada escorrer pelas costas, acordei para o mundo. Senti vergonha da situação que me encontrava. Lembrei de quantas vezes Didi fez isso, na minha adolescência regada a muito álcool, quando ainda não sabia lidar com a ausência do meu amado paizinho e descontava todas as tristezas em muita bebida. Gil e Márcia terminaram de me banhar e me ajudaram a colocar uma roupa. Deitei na cama e Márcia me trouxe uma caneca de café, bem forte e sem açúcar. Os olhava e sentia meu rosto queimar de vergonha.

Tão logo a Didi apareceu e com as mãos na cintura, me olhava com expressão de poucos amigos. Agradeceu o cuidado do Tom e da Márcia e pediu licença para ficar a só comigo. Fiz uma careta, pois sabia que viria bronca pesada. Ela fechou a porta e veio em minha direção.

- Oi, Didi – falei a olhando com pouca expressividade, enquanto tomava o café que a Márcia me oferecera.

- Você já está sóbria o suficiente pra me falar o que aconteceu – falava rude – E não adianta tentar me enrolar.

- Bebi mais do que devia! – respondi dando de ombros.

- E acha bonito, assumir isso? – me perguntou com expressão brava.

- Não. Não acho! E peço desculpas – respondi baixando os olhos.

- Olhe para mim e fala de novo – impeliu – Vamos!

A olhei nos olhos e falei baixinho, dando de ombros.

- Desculpa!

- Eu ainda não ouvi! – falou novamente brava – Quero ouvir a mulher Laura Veigas me pedindo desculpas, não essa criança que está parecendo na minha frente.

- Desculpa, Didi! – falei alto e brava.

- Vai começar com essa putaria de novo? – me perguntou com o cenho cerrado – Se for, me fala logo!

- Não. Não vou começar nada! Só tive uma recaída – respondi baixando os olhos.

- Recaída? Recaída é o que você tem todos os dias, com seu copinho de whisky que eu finjo não saber. Isso que você fez, se chama falta de responsabilidade mesmo! Se chama falta de vergonha! Se chama, querer voltar para seu passado. É isso que você quer? – foi falando e aumentando o tom da voz.

AmorasOnde histórias criam vida. Descubra agora