Capítulo 3🌈

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Acordo com uma dor de cabeça terrível e uma ressaca não alcoólica, olho para o relógio quando percebo que estou 2 horas atrasado para a escola e nem sei se cheguei a que horário ontem em casa.
Lembro que Raphael me trouxe pra minha casa depois de uns três copos de bebidas e um vomito de uma amiga em comum dele.
E simplesmente não sei o quê rolou depois pôs não sei como entrei em casa ontem já que não estava com nenhuma chave.
Mas lembro-me que pude me distrair, foi um alívio ter estado fora por algumas horas de tudo cá dentro, tenho que repetir logo.
Meu quarto está uma bagunceira, há roupas por todo lado, papéis, latas de refrigerantes e um monte de confetes coloridos no tapete e isso me faz levantar rapidamente da cama e começar arrumar antes que minha veja e me dá uma bronca dupla, já que ontem eu não voltei para casa quando ela me pediu.
Começa a nascer em mim um sentimento de culpa mas eu sei que eu não não deveria sentir já que sou eu a vítima aqui.
Acho que minhas 7 horas de filho rebelde
chegou ao fim e suponho que tenho me explicar pra minha mãe pelos menos.

- Mãe, podemos falar...
- Sim, óbvio. Ela fala se ajeitando no sofá.
- Primeiramente me desculpe.

Dona Virgínia me olha com uma expressão desligada, incompreensível, e triste.
Estranha minha atitude como nunca tivesse me desculpado antes. Mas ela se cala e me deixa terminar meu raciocínio.

- Estava muito sufocado, eu realmente precisava de um espaço ontem, mas não quis parecer grosso contigo.
- Eu compreendo, de verdade.
- Sério? Me pego de surpresa.
- Sim, você tem esse direito de sair, achei essa atitude radical e estranha de sua parte mas está tudo ótimo.
- É que não consegui me segurar, Yago é muito insuportável.
- O quê Yago tem haver com isso?
Minha mãe pergunta surpreendida.
Acho que Yago não falou nada, e realmente ele não mencionou absolutamente nada.
- Ah, nada, acho eu... Me atrapalho todo.
- Achei aquilo era por causa de ausência de seu pai e a fase da adolescência.
- Que? Paro estático no tempo.
- Sabe, Elton me disse vocês rapazes nesta fase de desenvolvimento emocional... bem, agem estranhamente, meio rebeldes.
- Não, quê? Elton não sabe nada, então esqueça!

Saí da adolescência faz uns dois anos e eu nunca fui tão afetado assim emocionante como estou sendo na vida adulta, é chato que minha mãe não tenha percebido o quão esse ambiente familiar tem sido tóxico pra mim, ela mal percebe que sou gay ou ela talvez só esteja fingindo não ver o óbvio pra evitar mais constragimentos depois dos seus dois relacionamentos fracassados.
Enumeras vezes Yago já insinuou pra nossa mãe que sou gay e ela mal se posicionou a respeito, ela não quer falar sobre isso, não me dá espaço para contar sobre tal coisa.
Ela quer ouvir de minha boca mas não quer admitir a verdade sem estar magoada.
Não tenho chances com ela quando o tema é minha sexualidade, às vezes já nem sei o porquê insisto em tentar de lhe dizer.

Faz 17 anos que meu pai foi embora de casa e se divorciou de minha mãe.
Minha mãe contou que ele brigava o tempo todo com ela e o fazia crer que ela era uma mulher fracassada por ter sido mãe solteira e ter perdido o primeiro casamento com o pai de Yago na juventude, por não ter se formado nas melhores universidades, por ser uma mulher negra sem ambições.
Nos últimos meses antes de tudo acabar ele saiu com a melhor amiga de minha mãe e a fez ver tudo aquilo até que ela não aceitou mais e se divorciou.
Eu só tinha 2 anos quando ele decidiu que iria pra Fiji e deixar sua família de lado para recomeçar em outro lugar, sem futuro, sem responsabilidades, sem família e nem se quer manteve contato comigo.
A muita coisa que eu não entendo na vida.
O cristianismo, à mente humana, as guerras teoria de Bing Bang, mas entre todas elas, não consigo entender como alguém é feliz sem família.
Não me sinto confortável no meio familiar por motivos óbvios, mas em circunstâncias nenhuma desejei estar ao relento.
Minha família é tão desconstruída mas eu não sei viver sem eles, sem minha mãe, sem meu irmão absolutamente rude ou até sem Elton, namorado de minha mãe.
Não consigo entender, eu tento, mas não, eu não sei o quê passou pela mente dele, pra ir embora. Eu não entendo lá muito de divórcio e relacionamentos mas sei que o amor supera tudo, que quando a gente ama, as pessoas dão um jeito, elas procuram um modo de estar perto de quem amam.
Eu vivo essa teoria e não sei mas outra na vida. Talvez essa em questão não funciona com pais desnatados e insensíveis com a própria família.

Se Eu Fosse VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora