Eu mal consigo pensar quando escrevo:
E se...
Se eu fosse você, eu mudaria para melhor.
Se eu fosse você, me enchia de fé e caminharia.
Acreditaria em dias melhores e floresceria sempre.
As palavras no papel saem como óleos em janelas de vidros, escorregando.
Não consigo explicar ao certo de onde vem esse poema, provavelmente de minha alma, que ainda desconheço sua pura essência.
Sou feito de esperança, amor, e empatia.
Mas há circunstâncias que podem revelar as minhas ocultas facetas.
Tenho medo de não saber lidar com a tal rejeição, com a pressão e decepção aguda.
Não fui ensinado a mudar, e nem mudaria.
Não se pode matar sua essência, negar que sou gay e camuflar outro Jonathan estaria me matando as poucos.
Minha mãe precisa entender isso, de fato.
Precisa necessariamente aceitar quem sou.
Isso não é uma obrigação, é a realidade.
Não se pode forjar algo real, ninguém pode se alimentar de pedra, mesmo que ache-o delicioso. Pedras são para construção e os vegetais para o estômago.
Não precisamos de nenhuma teoria para ter essa certeza. A realidade é notória.
Do mesmo jeito que a minha sexualidade é um fato inquestionável e invariável.— Jonathan! — O quê fazes aqui? Ranger grita vindo até mim no jardim da escola, no período da tarde.
— Escrevendo um trabalho. Falo sonolento pôs não dormi nada ontem à noite.
—Seu período de aula já passou faz tempo. — Cade à Olívia?
— Não vi ela hoje. — Não veio à escola!
— Nem eu a vi. — E as suas aulas? Ele se senta perto de mim num dos bancos.
— Minhas aulas já terminaram, óbvio. — Preferi ficar para terminar meu poema.
— Entendi. — Desculpa pôr ontem não ter me despedido no casamento de sua mãe.
— Ah tudo bem. — Me desculpe também.
— Não faz mal. — Eu entendo que foi um dia cheio de emoções. Ele bate no meu pé.
— E nem imaginas! Suspiro fadigado.
— Sim, não é? — Só se casa uma vez!
— Nem sempre. Me estreito no banco.Ranger se encolheu todinho após notar sua frase. Eu acredito que foi sem intenções.
Ficou aquele silêncio constrangedor pôs eu percebi o que ele acabou de dizer e embora eu não ligue muito que minha mãe tenha se casado três vezes.— Ups! Me desculpe, ok? — Eu... havia me esquecido que... você entendeu! Coça o pequeno bigode, envergonhado.
— Está tudo bem. — Só não ligue muito pra isso. Dou um sorriso desajeitado.
— Posso ver? — O seu poema!
— Claro. — Está inacabado. O mostro à folha amassada no meu colo.
— É tudo... Ele lê. — Forte. — Íntimo.
— Era pra ser qualquer coisa. — Mas deu nisso aí. Dobro à folha envergonhado.
— Já é um começo. — Precisa de ajuda?
— Não é necessário. — Eu me viro. Falei mas minha voz sai meio grave e tensa.
— Você está bem? Ele me olha fixamente.
— Eu... acho que n... Penso em contar pra ele que minha mãe já sabe sobre mim.
E está tudo meio estranho e triste cá dentro
Mas sou interrompido pela melodia de seu telefone quando caiu uma mensagem.— Oh glória! — Eu não acredito! Ele pula da acento após ler sua mensagem.
— O quê foi? — É algo bom?
— Maravilhoso. Sorri alto fazendo todas as pessoas aos redor nos olhar.
— Me conta! Peço arregalando os olhos .
— Bem... — Tente adivinhar?
— Isso é uma tortura. — Mas vejamos...
— É fácil. — Chute aí. Ele pede agitado.
— Uma viagem pra o Japão?
Ranger e eu somos obcecados por animes, há lógica.
— Não. — Muito frio. Ele ri balançando o corpo de um lado pro outro.
— Você virou popular?
— Também não. - Mas essa está perto de acontecer. Suspira feliz.
— Ah, espera... - Tem haver com a Sasha? Chutei falando alto.
— Sim. — É claro que tem, não é? Lerdo.
— Ãh, ok. — Era só isso... Bocejei.
— Ela aceitou sair comigo. — Ela está na minha cola, Jô. Dança algo como funk.
— Hoje à noite?
— Sim. — Não tempo à perder. Ri feliz.
— Se você continuar assim é capaz dela fugir de você.
— Inveja. — Sasha está gostando de mim.
— Sério? — É só um jantar.
Falando alto assim soa como algo especial.
Tendo em conta que essa garota não é de sair com qualquer garoto.
Não que eu esteja menosprezando Ranger só que ela parece ambiciosa demais pra ela só querer jantar com o Ranger.
Que não é tão atlético, burguês, nerd, ou popular.
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Se Eu Fosse Você
RomanceJonathan é um adolescente não assumidamente Queer, que vive na cidade de Jonesborgo, que vê sua vida virar de cabeça pra baixo apôs se apaixonar por seu colega do ensino médio, Raphael, que aparentemente é heterossexual e isso afeta bastante a relaç...