Capítulo 2🌈

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O jantar de hoje é macarrão com ervilhas e carne moída, mas pela primeira vez em toda minha vida, o meu estômago rejeita a minha comida favorita, fazendo o ambiente da refeição se tornar insuportável e nada confortável. Mas como umas milhões de regras descritas na lista imaginaria da minha mãe é o jantar entre família, e quando ela diz família, quer dizer todos mesmo! Estou sem escolha, a não ser descer e representar o bom filho obediente, que já agora, odeio fazê-lo.
Uma das coisas que mais invejo, ou se não a única na vida, é a liberdade que Yago tem, caramba! Ele sempre pode tudo.
Sai quando quer, nunca faz os deveres de casa, pega várias garotas e ninguém cá em casa diz alguma coisa, nenhuma punição se quer. Uma parte das pessoas diria que eu só estou sendo muito ciumento com ele, mas se todos tivessem um Yago como irmão na vida saberiam o verdadeiro significado da desigualdade.

Na mesa só se ouve os talheres tocando os pratos e seguidamente o trincar dos dentes de cada um de nós cá na sala.
Elton mal diz alguma coisa ou finge se quer que ama essa reunião cotidiana de família a hora do jantar, focado no telefone com uma mão pegando sua taça de vinho, ele se quer pergunta o óbvio de sempre.
Minha mãe é outra que não está muita entusiasma ou simpática já que anda cansada demais com as tarefas no trabalho, mas pelo menos ela ainda puxa conversa a hora do jantar. Mesmo que seja tão forçada as vezes.
Yago ainda não desceu para comer e isso faz me sentir tão estranhamente assustado já que nunca me importei tanto assim com a presença dele no horário das refeições.

- E então Jô, como foi seu primeiro dia de aula?

Perguntou a minha mãe para mim, enquanto come a refeição.

- Legal, o mesmo de sempre...

Respondi a ela, sem ânimo para seguir com um diálogo.
Não consigo me concentrar em nada que não seja na possibilidade de ser exposto pelo Yago.

- Que bom! - Esse é o seu penúltimo ano, não é?
Elton pergunta para mim, participando na conversa.

- Na verdade é o meu último do médio.

Respondo rispidamente, com o rosto em baixo, enquanto espalho a massa no prato, sem apetite.

- Oh! Exclamou ele surpreso. - O tempo passa tão depressa, parece que foi ontem que você estava no primário. - Não, é?

Não parece nada.
E o tempo não passou tão depressa coisa alguma, tudo aqui passa lento demais, o suficiente para que você perceba que a infância é a melhor fase da vida, que a adolescência é como um câncer psicológico e a vida adulta é uma treta futura que mexe demais com sua estrutura emocional.

- E esse ano, está pensando em entrar para o time de Basquetebol?

Elton questiona-me.

- Não.
Respondi a ele.

Parece loucura, talvez mesmo, mas sempre ouço os dizeres do Elton, namorado de minha mãe, como um insulto ou deboche.
Ele perfeitamente sabe que eu não gosto de desporto.
Já que me neguei a participar de todas as partidas de Futebol e Basquetebol que ele mesmo realizou para "ganhar" memórias comigo.
Mas ainda assim ele insiste em perguntar sobre algo que está mais do que obvio.

- Então?
Elton insiste, olhando para mim.

- Não, eu não estou afim. - Acho que falei sobre isso a dias.

Digo mexendo o talher em círculos, sem olhar fixamente para ele.
Estou ansioso e tenso.
Meu corpo está aqui na mesa, mas a minha mente está a vaguear por vários cenários prováveis que podem acontecer daqui a pouco.

- Você nunca esteve mesmo a fim de aprender a jogar.

- Achei que já era óbvio!
Falo em defesa, em um tom alto a cima do normal.

Se Eu Fosse VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora