Capítulo 47🌈

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No jantar de hoje não sinto exatamente a fome que costumo sentir.
Não sei se tem haver com as emoções que estou sentindo nas últimas 48 horas ou se há alguma extra.
É tão esquisito sentir que minha vida está a um passo de se complicar drasticamente.
Mas certamente se intensificou após minha mãe anunciar que:

— O Yago vem para ferido de ação de graças, neste sábado!
— Isso é sério? Me engasgo brutalmente.
Ela me encara perplexa.
— Sim, óbvio. — Nós nunca passamos um feriado sem ele. — É favorito de seu irmão.
— E será o primeiro com a família toda. Elton diz ao olhar pra minha mãe e pegar em sua barriga.
— Tem certeza, mãe? Olho fixamente para ela, cético sobre isto.
— Eu sei... seu irmão errou muito, porém, essa é melhor altura de unir a família. Ela rebate confiante.
— Só para tranquilizar, falei com o tenente chef da académica militar de lá e me disse que Yago está melhor.
Sério?
— ...Melhor a pegar pegar armar e acertar ao alvo, é isso? Reviro os olhos.
— Yago é um novo homem. — Seu caráter moldado chamou atenção do tenente e isso me alegrou bastante.
— Ele não vem para ficar, vem? Olho pra eles dois comendo.
— Talvez, Jonathan. Minha mãe responde e prossegue. — E se for?
— Aqui sempre a casa dele. — Tal como a sua Jonathan. Elton diz seriamente.
— Como assim? Yago é um... nem preciso terminar, não é? Falo balouçando os pés.
— Porque vocês não ultrapassam às vossas diferenças? Elton sugere gentilmente.
— Ele me detesta muito! Falo sério.
— Porque seria? Elton pergunta ao olhar pra mim.
— Porque seria mesmo? — Talvez porque eu seja gay e ele não tem me respeitado!
— Isso é verdade? Minha mãe me olha admirada.
— É sim. — Me desculpa, mas ele foi um irmão ruim nos últimos meses.
— O quê ele fez? Minha mãe pergunta à mim seriamente.
Me chantageou, me ofendeu, agrediu.
É uma série de coisas que irmãos bons não fazem aos seus irmãos.
Mas não consigo levar aqui raivosamente.
É como se o tempo levasse todo o ódio.

— Nada. Minto após engolir um porção de arroz. — Nada tão relevante!
— Jonathan, eu quero lhe dizer algo mas espero que você entenda perfeitamente...
— Estou ouvido, Elton.
— Nem todos irão entender ou apoiar você pelo que é... — As pessoas são diferentes e aceitar isso é regra pra uma convivência de boas relações.
— Está me dizendo que terei que aceitar o preconceito de algumas pessoas?
— Não extremamente. — Entenda que até o indigente tem suas teorias e ideologias e não é fácil tirá-las da cabeça. — Ninguém nasceu globalizado... eu mesmo estou a me reformular por você, porque te adoro e sei que devo te respeitar, mas é processo que leva tempo e bastante esforço da pessoa.
— Mas Yago é meu irmão... Ele seria o 1ª a demonstrar afeição protetora por mim.
— Não é uma questão de laços de sangue, é sobre empatia e força de vontade. — Há pessoas de fora que irão te apoiar mais que a sua própria família.
— Isso é tão difícil de aceitar. — Eu não consigo me conformar.
— Esse é o problema da outra perspetiva!
— Acho que ele pode vir... Falo em os dentes.
— Ok, nós todos sabemos que ele é um homem cheios de birras, mas quando é que vamos dar uma nova chance à ele?
— Eh estou confiante. Elton assume. — Eu falo com ele sempre e tenho ótimas ideias...
— Espero estarem certo. Concluo dando uma garfada em meu bife.

                                 ***

Saio pela manhã de quarta-feira e vou até a casa de Raphael.
Não penso exatamente no que estou a fazer e só consigo seguir o meu instinto.
Algo em mim pede para ir até lá, e há uma outra que me impede e diz que eu só estou cometendo um erro ridículo ao ir até a casa dele, quando faz dias que nós terminamos.
Mas quando estou no metro as palavras de minha mãe ecoam a minha mente.
Raphael está lidando com isso da pior das maneiras possíveis, que alguém na situação dele lidaria.
Ele é frágil, inseguro e um grande medroso.
E numa altura como esta eu devo e tenho que estar lá para ele.
Quando ele querer falar e nas pessoas não ouvirem a voz dele, eu estarei lá para ele, para gritar todas as suas palavras.
Quando ele estiver chorando debaixo do seu travesseiro e ninguém notar, quero ser eu a enxugar as suas lágrimas.
Quero estar ao lado dele e fazer tudo isso.
Ou simplesmente dizer que estou apoiando ele, mesmo que não estejamos mais juntos.
Mesmo que as coisas não voltem a ser tal como antes, em que nos amávamos tanto.
Quando estou na porta e toca a companhia sinto minhas pernas duras e minha voz fica meio rouca, quando me a percebo que eu posso ser atendido pela dona Dayana.
É óbvio que todos já sabem.
A família de Raphael deve me odiar.
Não da forma mais real da palavra "ódio", mas certamente não gostam tanto de mim, como um dia chegaram a gostar.
É difícil, para eles, olhar pra o tal cara que supostamente está desviando o filho deles à uma conduta boa e reputação impecável.
Quando à porta se abre, vejo que a só a empregada me atendendo.

Se Eu Fosse VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora