Estou olhando as minhas notificações pelo
e-mail enquanto ganho iniciativa pra dar o primeiro passo pra o poema.
Sei que deveria trabalhar em grupo com a Olívia e Raphael porém não conseguiria pensar com aqueles olhos castanhos claros me analisando, eu tremia, não escreveria. Não consigo fingir que a presença dele não trás um efeito borbulhante em mim.
As primeiras palavras são as mais difíceis de sair da mente para a folha do Word.
Tantas coisas por escrever ou por expressar como: Amor, Amizade e Sexo. Mas nenhuma é tão impactante para mim e eu quase começo a fugir da realidade.
Vou até o Google procurar alguns poemas simples quando lembro que é proibido ter ajudinha's ou copiar de alguém.
Giro a cadeira rolante umas três vezes com o lápis entre os dentes quando penso em chamar Olívia para dar inicio à algo, como o esboço, rascunho, tanto faz.
E se me perguntar porquê não chamaria o Raphael à resposta é simples... Pressão.
Não sei lidar com isso, ainda mais resultado de olhares vindo do garoto que eu gosto.
Envio uma mensagem de texto para Olívia e espero uns segundos, 9 minutos, meia hora e quando finalmente meu telefone vibra no bolso de minha bermuda jeans:
Oi Jonathan! Está afim de debater sobre o poema?
Quase respondo às pressas até receber uma outra mensagem, que complementa a 1ª:
Peguei seu número, Raphael.( emoji piscando).
Desta vez eu não só grito como também deixo meu telefone cair e rachar o ecrã ao meio e agora estou gritando por duas vezes mais. Deixo o telefone na cama e vou até ao espelho para crer que é verdade.
Com as mãos no rosto só consigo pensar:
Raphael tem meu número de telefone e eu agora também tenho o dele.
Iremos trocando mensagens de texto de modo comum, como gente normal, só que com uma vibração eletrizante que apenas eu posso sentir.
Já troquei várias SMS com milhares pessoas.
Mas falar com Raphael é totalmente bom para não dizer: surreal, lindo, maravilhoso.
Acredito que se recebesse uma mensagem do Barak Obama ou da Beyoncé elas não teriam o mesmo impacto que a do Raphael tem sobre mim, pode acreditar.
Mal consigo pensar em uma resposta já que eu mesmo estava evitando estar à sós com ele pra não me deixar afetar ainda mais a ponto de não conseguir fazer algo tão rápido e fácil, como escrever.Sim, estou afim de ti. Escrevo e envio antes mesmo de olhar meu erro, que deixa de ser um erro pôs é verdadeiro.
Oh My Father of Sky! Como se apaga isso?
Estou afim de vir, e não de TI. Me desculpe...
Escrevo logo e envio com a mãos trémulas.
As duas mensagens são enviadas no tempo de 10 segundos de diferença e de fato eu só espero que ele leia as duas de forma única.
Fico tão inquieto a medida que o tempo se passa e ele não responde às mensagens.
Talvez ele não tenha visto, ou está ocupado com outra coisa no telefone e vai responder depois, ou talvez já viu por etapa e está se rindo de mim ou fazendo sprint e colado no blog de fofoca da escola.
Porquê eu só tão rápido com umas coisas e com outras não? Odeio esse teclado ruim que me traiu.
Me jogo na cama e penso em coisas muito aleatórias para não entrar em choque por causa das mensagens. Os psicólogos dizem que se você ocupa demais sua mente com coisas positivas ele não terá espaço pra ter pensamentos negativos.
Achava isso muito papo de médico pra um paciente em particular mas me vendo aqui eu simplesmente deixei de pensar até que minha notificação dispara e coro logo no telefone e vejo a mensagem dele:
Eu entendi ( emoji de risos).
Nos comemos no sábado! Raphael envia.
"Nos comemos"? Ele digitou errado! Isso é tão engraçado.
Dou uma gargalha quando noto o seu erro proposital, e me sinto mais aliviado, por ele não achar "aquilo" intencional, mesmo que seja uma verdade. E sorrio ainda mais por ele ter feito um trocadilho que eu só queria que fosse verdade e não engraçado.
Quando começamos a ser tão próximos?
Mas ninguém nota o que isso me faz?***
Ponho a coleira na Lanna e saio de casa e vou até ao parque mais próximo de casa. Em espera que sábado finalmente chegue e eu só posso estar mais nervoso e tenso.
Ficar sozinho com Raphael é algo que eu ainda não consigo naturalizar. A presença dele mexe totalmente comigo, e isso essa é a maior manifestação de atração que consigo expor descontroladamente.
Olívia me respondeu seis horas depois e me avisou que estará fora da cidade e que não vai poder comparecer ao casamento de minha mãe com Elton.
Não lembro de perguntar o quê ela fará, apenas respondi com um emoji e deixei o telefone no modo silencioso.
Sento num banco perto de umas árvores e solto minha cachorrinha e a permito ser livre por pouco menos de duas horas.
Sempre que posso venho pra esse parque e passo tempo de qualidade comigo mesmo.
Eu preciso repor minhas energias e debater sobre meus conflitos internos.
Há pensamentos que não conto nem para minha mãe e nem pra os meus amigos.
Todas essas árvores e bancos já ouviram os desabafos e às vezes sinto que elas vivem.
E devem achar que sou o humano mais incompreendido do mundo.
Quando me aceitei como homossexual eu vim para cá e fiquei o dia todo pensando no quão eu sou sortudo por ainda viver, isso porquê — alguns dos jovens aqui não tiveram se quer uma auto-aceitação.
Quando ouvia minha mãe reclamar sobre tudo que meu pai a fez passar eu vinha pra aqui e orava para alguma entidade divina fazer o meu pai voltar para casa e pedisse perdão para nós e reconsiderasse suas más ações.
Mas eu já não penso nisso fortemente.
E agora que estou lidando com esse amor e não sei o que fazer pra expressar ele pra o garoto de quem gosto, eu vim para cá.
Parece um acto de covardia mas não é.
Há poucas pessoas na rua hoje para uma tarde consideravelmente linda na cidade.
Uma das coisas que eu mais detesto em Joanesburgo é há ausência de quase tudo.
Não há grandes lugares para se divertir ou espairecer. Fora o cinema, biblioteca e bar clandestino da rua F2, essa cidade é muito mais tediosa que novela indiana.
Os jovens estão ocupados demais com suas redes sociais, os senhores com seus serviços e os idosos já nem conto.
As pessoas aqui agem como se fosse um filme de suspense preto e branco, em que as pessoas quase nunca se divertem.
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Se Eu Fosse Você
RomanceJonathan é um adolescente não assumidamente Queer, que vive na cidade de Jonesborgo, que vê sua vida virar de cabeça pra baixo apôs se apaixonar por seu colega do ensino médio, Raphael, que aparentemente é heterossexual e isso afeta bastante a relaç...