Se Eu Fosse Você

Capítulo 18🌈

A maioria das pessoas sempre pergunta para um homossexual quando ele descobriu a sua orientação sexual.
Durante um tempo, eu achei essa pergunta normal, mas, agora acho ela meio preconceituosa, porém, acredito que toda essa curiosidade está ligada em como se encara a homossexualidade.
Alguma vez um cara heterossexual foi questionado quando ele começou a gostar de garotas?Quando ele se descobriu hetero?
É tudo muito seletivo.
Há uma necessidade irritante de se querer taxar a homossexualidade como algo que se pode escolher.
Definitivamente não é assim, não é como ir a uma loja e acabar por escolher a melhor roupa.
E acho que estou lidando com uma série de questões do gênero a vida inteira, e chega uma fase, que é muito insuportável ouvir isso.
Hoje é um daqueles dias em que a internet está um caos, e ninguém quer ficar de fora das maiores notícias do momento.
Só se salva o Tik Tok, que tem sido a única coisa menos tóxica para mim ultimamente.
Sempre me pego rindo com esses vídeos de engraçados de gatinhas fofos fazendo qualquer coisa.

— O quê está rindo? Minha espreita de cima do sofá, curiosamente.
— É um meme de gatinhas. — Não é uma gracinha? Mostrou pra ela.
— Porque estão no carro? — Mas ninguém os pode ajudar? Ela pega firme no telefone analisando o gif.
— É um gif, mãe. — Eles não são reais de verdade. Gargalho vendo o seu rosto de preocupação.
— Ah, Jonathan! — Achei que fosse algo sério. — Que chatice. Ele me entrega o meu telefone e se afasta.
— Não imagino se tivesses uma conta no Twitter. Me ajeito no sofá relaxado.
— Por isso é que vocês jovens de agora estão tão estranhos. — Na minha época as pessoas não riam-se disso.
— Claro que não. — Nem tinha internet. Digo a olhando na lateral do sofá, enquanto ela calcula às contas de impostos.
— Por isso éramos mais felizes. Ela retruca.
Não posso se quer contradizer.
Eu não tive o privilégio de viver em mais de 3 décadas diferentes, para fazer as todas análises destas críticas.
Mas uma coisa eu tenho a certeza, estamos mais livres para sermos o quê desejamos ser nessa época.

Estou cochilando um pouco na poltrona.
Quando Elton chega em casa, saindo do seu trabalho, e ver ele aqui é estranho e novo pra mim. Agora tenho um pai, mesmo que não seja ele quem me gerou, mas, na teoria ele estará representado esse papel melhor que qualquer pessoa na minha família.
Minha mãe o recebe com beijos melosos que faz eu me encolher de vergonha.
Tenho que me habituar com essas cenas de afeto o resto dos próximos anos por aqui.
O saúdo com um abraço e solto um sorriso genuíno e corro ajudar minha mãe a por a mesa para uma outra refeição.
Não é almoço, muito menos jantar.
Então, deve ser a comemoração de alguma coisa boa pra toda família.

— Então, como vai à escola? Elton puxa conversa desajeitado.
— Legal. — Estamos indo melhor que o previsto. Limito-me a entrar em detalhes.
— Que bom. Ele ri. — O quê irá defender ao final do ano?
— É, boa pergunta Elton. Minha mãe o estimula a continuar.
— Não sei ao certo. — Literatura, Ciência, qualquer coisa eu me sairei perfeitamente.
— Melhor decidir isso logo. Ele diz com as pernas cruzadas na poltrona central.
— O médio é fatídico. Murmuro.
— Espere só até entrar para universidade e começar a estudar feito louco.
Elton se licenciou em Agronomia, mas está trabalhando em empresas têxteis no centro da cidade. E ele ainda é super dotado nas teorias filosóficas.

— Falta pouco. Balanço à cabeça olhando para a janela.
— O que falta mesmo é você trazer uma namorada pra casa. Ele solta sem nexo.
— Ah, Elton... Minha mãe o trava.

Minha mãe me olha sem jeito, me piscando para não responder nada e fingir não ouvir a insinuação no ar. É desconfortável.
Elton não sabe sobre mim, mas já que ele estará vivendo aqui, seria ótimo ele saber.