Capítulo 19🌈

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Amo teatro, literatura, xadrez e animes.
Posso ficar o dia todo vendo o mesmo filme ou assistir uma partida de futebol.
Mas contemplar telas de artistas plásticos não é de todo minha atividade favorita.
E acho que deixei a minha expressão clara quanto à esse pensamento, quando a irmã e a mãe de Raphael olham fixamente para mim, elas me reconhecem pelo olhar.
Eu poderia simplesmente me contrariar ou me encher de alegria pôs provavelmente o Raphael deve ter vindo pra cá também.
A irmã cochicha alguma coisa no ouvido da mãe e ela me repara por um instante até elas se aproximarem de mim.

— Oi, você é o colega do Rapha? A mãe se aproxima o suficiente pra saudar.
— Sim. Abro um sorriso.
— Eu logo vi. — O garoto que quase se afogou no outro dia. Ela relembra.
— Sim. — Mas já estou ótimo. Travo um sorriso de vergonha. Eu iria morrer de verdade.
— Fico feliz por você. Ela sorri mexendo nos óculos.
— E o Raphael? Não resisto. — Não veio?
— Não. — Ele é um traidor. A irmã fala olhando para mim com o celular na mão.
Eu achei que era proibido o uso...
Espera... Raphael, traidor?
Não entendi. Levo a mão até ao ombro sem jeito, esperando uma explicação.
— Não liga a Anna. — Ele só foi a casa do pai neste fim-de-semana. Dayana diz rindo.
— Entendo. — Mande saudações para ele.
— Vocês vão se ver amanhã, não? Anna me responde meio irritante.
— É, sim. — Na escola. Coço a nuca.
Que idiota eu sou! Só estava sendo educado.

Quando elas não estão mais olhando para mim saio rapidamente daquele lugar e fico perto de Ranger, na mesma mesa onde está Sasha, Alice e umas gêmeas góticas.
Todos param de falar assim que me achego perto da mesa, como se eu fosse um garoto estranhamente desnaturado.
Até eu notar que sou o único que está com uma roupa nada adequada para o evento.
Todos cá inclusive o Ranger, estão vestindo termos, vestidos finos, como se estivessem em um casamento. Isso sem falar nas joias e acessórios exuberantes que cada um aqui ostenta propositalmente.
Por um instante me sinto desconfortável.
A roupa faz sentir não só um peixe fora de água como também um cubo de gelo em uma parteira de alumínio no sol.
Me sinto pequeno, ou talvez inseguro.

— Pessoal. — Esse é o Jonathan. Ranger me apresenta num sotaque burguês.
— Olá Jonathan. Sasha me saúda gentil.
— Oi. Digo meu sem jeito.
— O que foi? Ranger cochicha no meu ouvido. — Eu conheço essa cara.
— Não foi nada. — Essa festa é chata.
— Isso porquê Raphael não está. Ele ri me dando um belisco na mão.
— Não tem nada haver com isso.

Ranger está forçando um personagem.
O grupinho de Sasha se desfaz e Ranger as segue por todo os locais onde eles vão.
Analisam quadros, cogitam comprar alguns e no final só bebem champanhe e ficam a olhar mal as roupas das pessoas.
Me sento numa cadeira pequena perto de um quadro e pego um petisco.
O bolinho de bacalhau é muito delicioso.
"Sou um peixe fora de água, um barco sem farol. Preciso me encontrar, aqui não é meu lugar". Penso em sair, talvez ninguém nota.

***

Pela manhã do dia seguinte acordo meio faminto, procuro o que comer mas não há nada preparado, nem torta se quer.
Olho para o relógio na parede e marcam 6 horas e 12 minutos da manhã.
Ainda posso ouvir todos ressonando na cama de cansaço. Ontem entrei em casa por voltas das 22 horas e lembro de ver o carro de Yago estacionado no quintal mas não o da minha mãe.
Abro o frigorífico e bebo o leite direito do pacote quando minha mãe acende a luz e me pega no flagra.

— Belo trabalho. Ela cruza os braços ao me ver. — Melhor acabar todo.
— Estava muito esfomeado. Digo servindo cereais numa tijela.
— Nota-se. Ela se encolhe no seu pijama rosa enquanto pega um copo de água.
— Acordei você? Pergunto pra ela.
— Não. — Eu mal peguei no sono.
— Yago? Sussurro muito baixo.
— Sim. — Elton vem daqui a pouco e eu não sei o quê fazer pra o tranquilizar.
— Vai ficar tudo bem. — Eu acredito que tudo seja só uma fase.
— Você acha que eu tenho culpa por tudo que ele fez ou tenta fazer? Ela se senta.
— Não. — Mas ele precisa de uma ajuda.
— Psicológica? Ela me olha seria.
— Talvez, não sei. — Do que for, mas o Yago tem tanta ideias problemáticas de si.
— Eu sei. — São traumas. Ela sacode o cabelo e faz um coque embaraçado.
— Mas ainda assim não acho que seja a justificativa para tantas atitudes erradas.
— É complicado. — O Diabo o desviou.
— Não culpe o capeta por isso. Abano a cabeça de forma negativa.

Se Eu Fosse VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora