Amo teatro, literatura, xadrez e animes.
Posso ficar o dia todo vendo o mesmo filme ou assistir uma partida de futebol.
Mas contemplar telas de artistas plásticos não é de todo minha atividade favorita.
E acho que deixei a minha expressão clara quanto à esse pensamento, quando a irmã e a mãe de Raphael olham fixamente para mim, elas me reconhecem pelo olhar.
Eu poderia simplesmente me contrariar ou me encher de alegria pôs provavelmente o Raphael deve ter vindo pra cá também.
A irmã cochicha alguma coisa no ouvido da mãe e ela me repara por um instante até elas se aproximarem de mim.— Oi, você é o colega do Rapha? A mãe se aproxima o suficiente pra saudar.
— Sim. Abro um sorriso.
— Eu logo vi. — O garoto que quase se afogou no outro dia. Ela relembra.
— Sim. — Mas já estou ótimo. Travo um sorriso de vergonha. Eu iria morrer de verdade.
— Fico feliz por você. Ela sorri mexendo nos óculos.
— E o Raphael? Não resisto. — Não veio?
— Não. — Ele é um traidor. A irmã fala olhando para mim com o celular na mão.
Eu achei que era proibido o uso...
Espera... Raphael, traidor?
— Não entendi. Levo a mão até ao ombro sem jeito, esperando uma explicação.
— Não liga a Anna. — Ele só foi a casa do pai neste fim-de-semana. Dayana diz rindo.
— Entendo. — Mande saudações para ele.
— Vocês vão se ver amanhã, não? Anna me responde meio irritante.
— É, sim. — Na escola. Coço a nuca.
Que idiota eu sou! Só estava sendo educado.Quando elas não estão mais olhando para mim saio rapidamente daquele lugar e fico perto de Ranger, na mesma mesa onde está Sasha, Alice e umas gêmeas góticas.
Todos param de falar assim que me achego perto da mesa, como se eu fosse um garoto estranhamente desnaturado.
Até eu notar que sou o único que está com uma roupa nada adequada para o evento.
Todos cá inclusive o Ranger, estão vestindo termos, vestidos finos, como se estivessem em um casamento. Isso sem falar nas joias e acessórios exuberantes que cada um aqui ostenta propositalmente.
Por um instante me sinto desconfortável.
A roupa faz sentir não só um peixe fora de água como também um cubo de gelo em uma parteira de alumínio no sol.
Me sinto pequeno, ou talvez inseguro.— Pessoal. — Esse é o Jonathan. Ranger me apresenta num sotaque burguês.
— Olá Jonathan. Sasha me saúda gentil.
— Oi. Digo meu sem jeito.
— O que foi? Ranger cochicha no meu ouvido. — Eu conheço essa cara.
— Não foi nada. — Essa festa é chata.
— Isso porquê Raphael não está. Ele ri me dando um belisco na mão.
— Não tem nada haver com isso.Ranger está forçando um personagem.
O grupinho de Sasha se desfaz e Ranger as segue por todo os locais onde eles vão.
Analisam quadros, cogitam comprar alguns e no final só bebem champanhe e ficam a olhar mal as roupas das pessoas.
Me sento numa cadeira pequena perto de um quadro e pego um petisco.
O bolinho de bacalhau é muito delicioso.
"Sou um peixe fora de água, um barco sem farol. Preciso me encontrar, aqui não é meu lugar". Penso em sair, talvez ninguém nota.***
Pela manhã do dia seguinte acordo meio faminto, procuro o que comer mas não há nada preparado, nem torta se quer.
Olho para o relógio na parede e marcam 6 horas e 12 minutos da manhã.
Ainda posso ouvir todos ressonando na cama de cansaço. Ontem entrei em casa por voltas das 22 horas e lembro de ver o carro de Yago estacionado no quintal mas não o da minha mãe.
Abro o frigorífico e bebo o leite direito do pacote quando minha mãe acende a luz e me pega no flagra.— Belo trabalho. Ela cruza os braços ao me ver. — Melhor acabar todo.
— Estava muito esfomeado. Digo servindo cereais numa tijela.
— Nota-se. Ela se encolhe no seu pijama rosa enquanto pega um copo de água.
— Acordei você? Pergunto pra ela.
— Não. — Eu mal peguei no sono.
— Yago? Sussurro muito baixo.
— Sim. — Elton vem daqui a pouco e eu não sei o quê fazer pra o tranquilizar.
— Vai ficar tudo bem. — Eu acredito que tudo seja só uma fase.
— Você acha que eu tenho culpa por tudo que ele fez ou tenta fazer? Ela se senta.
— Não. — Mas ele precisa de uma ajuda.
— Psicológica? Ela me olha seria.
— Talvez, não sei. — Do que for, mas o Yago tem tanta ideias problemáticas de si.
— Eu sei. — São traumas. Ela sacode o cabelo e faz um coque embaraçado.
— Mas ainda assim não acho que seja a justificativa para tantas atitudes erradas.
— É complicado. — O Diabo o desviou.
— Não culpe o capeta por isso. Abano a cabeça de forma negativa.
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Se Eu Fosse Você
RomansaJonathan é um adolescente não assumidamente Queer, que vive na cidade de Jonesborgo, que vê sua vida virar de cabeça pra baixo apôs se apaixonar por seu colega do ensino médio, Raphael, que aparentemente é heterossexual e isso afeta bastante a relaç...