Meu coração já se estremeceu em outras ocasiões. Como naquela vez em que eu me perdi dentro de uma floresta no interior do Haiti, nas olimpíadas de matemática ou na vez que reprovei na prova mais importante do meu curso no ano passado e fui à recurso pela tangente.
Mas nada é igual a essa situação, é surreal.
E quando me refiro em "surreal" não estou falando de algo bom e excitante.
É tão aterrorizante, medonho e péssimo.
Minhas mãos estão suando, meu sangue e minha pele parecem uma única massa de tão quente. A garganta é um poço seco e os olhos se enchem de lágrimas antes mesmo que eu perceba.
Eu sempre achei que estivesse 74% pronto para sair do armário para minha família.
Mas neste caso é diferente, Yago já sabia e minha mãe era a única que nunca tinha me ouvindo confirmar minha orientação.
É tudo tão sombrio cá fora e eu só queria que as minhas palavras fossem retiradas.
Mas não tem como, elas já ecoam todos os cantos de minha casa.
Agora é tarde para pensar em anulações.— Jonathan! — Você está bem? Minha mãe pergunta preocupada.
— Acho que sim. Limpo minhas lágrimas.
— Ok. — Alguém pode me explicar o quê está acontecendo aqui?
Há silêncio assustador, e está da pra ouvir minha respiração funda e o ar de suspiros de nossa mãe preocupada.
— Jonathan é gay e eu fumo maconha. Yago diz após nossa mãe ver o "pó branco".
— Não! — Eu não estou ouvindo bem.
— Mãe eu... Yago tenta falar mas trava.
— Cale essa boca! — Minha mãe diz tensa e bastante exaltada. — Isso é um engano.
Ela balança a cabeça estragando o arranjo no cabelo.
— Eu acho que já disse tudo.
Yago veste a sua camisa e tenta sair fora do quarto quando é surpreendido com um tapa na nuca da nossa mãe.
Eu nunca vi ela assim antes, furiosamente.
Nossa mãe não berra, não ofende nem tão pouco bate em nós. Mas hoje eu estou a ver ela de uma perspectiva contrária.
Minhas palavras somem da boca e meu rosto é a maior confirmação que eu posso dar pra ela, quando me pergunta:— Isso é verdade, Jonathan? Ele pergunta trepida.
E mais lágrimas caiem. Não consigo parar de me sentir culpado de algo que está além da minha vontade.
— Fale alguma coisa! Ela súplica enquanto Yago trava pra não rir.
— Sim... sussurro fônico e frio.
— Eu não ouvi! Me puxa pelo braço e vejo suas lágrimas caindo, tirando sua make up.
— É verdade. — Sim, sou gay. As últimas palavras soam como assumir um crime.
— Ah meu Deus! JONATHAN.
Eu sei, eu sei. Essas palavras também me doem pra caralho. Não era pra ser assim.
Não era pra ter relevado desta forma.
— E você, Yago? Ela o olha com desprezo.
— Não olhe assim pra mim!
— Me responda agora. Ordena.
— Sim mãe! Já disse que fumo, faz tempo e eu não tenho que me esconder, até porque todos os caras como eu usam, yeah.
— E você deve se orgulhar disso?
— Orgulhar... não é exata... — Mãe! Nossa mãe o arremessa com um dos meu troféus de xadrez que estava na estante.
— Eu achei que era pra ser sincero. Ele ri deixando nossa mãe mais furiosa.
— Agora não Yago. O peço triste.
— Deixa de covardia uma vez na vida e diga o que pensa. Se atira na cama.
— É fácil pra você! — Não tem que limpar sua cagada.
— Jonathan, porquê você não me disse isso antes? — O quê houve com a conexão de mãe e filho?
— Eu não sei. — Mãe, por favor...
— Porquê eu tenho essa sensação que criei dois estranhos cá em casa?
Estamos todos tristes, e não há como seguir com está conversa sem alguém sair ileso.
— Tudo bem, eu estou literalmente tensa e deu pra notar. — Respira fundo. — Mas esse não é a melhor altura para termos essa conversa.
— Me desculpe! — Eu não quis estragar seu dia mãe. Digo desanimado.
— Eu não vou deixar ninguém estragar. Ela sai e volta para festa e tudo fica muito incabível e desconectado.***
Possamos pra às fotografias de família tal como Dona Virgínia havia pedido.
Todos estamos sorrindo meio pálidos e com os olhos quase molhados.
É tão incrível a forma como minha mãe consegue sair de um temperamento e pular pra o outro. A 15 minutos atras ela estava pulsando de raiva, mas agora, ela até sorriu pra câmera fotográfica e dançou com Elton
e em momento algum ela demostrou algum vestígio de tristeza ou decepção na festa.
Isso não me alegra. Me preocupa bastante.
O mais normal quando estamos tristes é de demostrar o mesmo sentimento, mas com a minha mãe é diferente. Ela mesmo disse que ninguém iria estragar seu casamento.
Essas palavras me doeram, quase não posso mais olhar para ela sem me sentir enojado.
Lembro de ficar no canto mais longínquo.
Tentando não esbarrar com ela como se isso fosse minimizar a situação.
Sei que quando toda a festa passar iremos ter aquela conversa com "C" maiúsculo.
Que provavelmente terminará em punições e desaprovações é uma série de drama que eu não estou preparado para vivenciar.
Nestes momentos só queria ser qualquer 1 neste jardim que não tem que lidar com a aprovação da mãe concernente à ser gay.
Mas não importa o que pode vir acontecer após essa festa, pôs só há uma certeza, que não pode mudar, não estou procurando um tipo de curar pra nada.
Esse é o meu posicionamento até ao fim.
Quando a maioria das pessoas estão indo se embora por volta das 10 da noite meus avós finalmente me notam e se despedem. Eu quase não os vejo sair pois estou zonzo de tanto ouvir músicas no volume máximo é uma festa de casamento.
Não vejo Ranger sair quando finalmente o jardim está quase vazio, apenas os garçons trabalhando na arrumação de tudo.
Minha mãe e Elton estão conversando com seus padrinhos de casamento do outro lado da rua, se despedindo de todos gentilmente.
Estou em pé os observando sem meio rumo já mal consigo me deitar sem pensar em tudo que haveremos de conversar.
Esta ansiedade está me consumindo.
Quando me distraio vejo minha mãe entrar no seu carro junto com Elton e saírem sem ao menos me despedir. Quer dizer, era pra eu saber de alguma coisa?
Não que eu esteja com medo que ela nos abandone e vá pra uma ilha no Caribe e se livra do peso de cuidar de dois filhos maus.

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Se Eu Fosse Você
RomanceJonathan é um adolescente não assumidamente Queer, que vive na cidade de Jonesborgo, que vê sua vida virar de cabeça pra baixo apôs se apaixonar por seu colega do ensino médio, Raphael, que aparentemente é heterossexual e isso afeta bastante a relaç...