Capítulo 12🌈

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Aos sábados fico um pouco mais calmo e prefiro passar o dia inteiro deitado ouvindo música ou assistindo qualquer coisa na TV.
Talvez isso seja consequência de uma não atividade paranormal aos fim-de-semana.
Estou com uma preguiça efêmera quando minha mãe me pede para sair do quarto e ir a boutique com Elton na tentativa de nos familiarizarmos mais e ajudar-lo acertar os detalhes do casamento concernente ao seus trajes. Mas qual é a parte do não sei nada de moda que ninguém consegue entender?
Me aproximo da cozinha onde minha mãe está preparado um cozido para o almoço.
É um destes sábado que ela encarna a chef e tenta nos agradar pela barriga e desde já ela nunca falhou nesta missão.

— Que cheiro delicioso. Digo entrando na cozinha sorrateiramente.
— Jonathan! — Você me assustou.
Minha mãe quase deixa cair a travessa de comida mas rapidamente se põe firme.
— Desculpa. Digo indo perto dela e a dou um beijo em sua bochecha.
— Não pensa que esqueci sobre o quê eu disse pra você à pouco tempo.
— Mas mãe... — Eu estou cansado. Pego um pêssego da geladeira e minha mãe finge não ver.
— Elton é ruim com escolhas. Ela cochicha olhando aos lados. — Você precisa ajudar ele hoje, por favor.
— Eu sou pior, acredita. Afirmo
— Ah santo Deus! — Porquê eu não nasci uma menina se quer. Ela retira o avental e faz um coque no cabelo frisado.
— Mãe, não precisa fazer um drama.
— Drama? Ela me olha serrado. — Você não sabe o qual essa palavra me afeta.

Me aproximo dela e a peço desculpas baixo e ela me pega nas mãos frias e com aquele
olhar que te deixa sem grandes escolhas.
Minha mãe é totalmente diferente de mim fisicamente, puxei todos os meus carácteres físicos de meu pai. Desde meu cabelo liso e castanho escuro, unhas curvilíneas, dentes salientes e pele magra de espantar.
Já Yago é o oposto de mim e à semelhança de minha mãe, mas só que mais feio por causa do cabelo ridículo que certamente puxou do seu pai.
Os meus cílios também são do meu pai e as   nádegas duras não são a exceção.
Sei disso porquê todas as fotografias dele eu me revejo muito, principalmente na época da adolescência dele em 1979.
E se quer saber? Eu não me incomodo com isso, com todos os genes que herdei dele.
Mesmo que isso me faça lembrar o tempo todo que tenho um pai biológico e que ele me abandonou sem eu o conhecer direito.
A única coisa que tenho de minha mãe é a cor da pele clara, que analisando bem eu acabei mesmo é ganhando de minha avô materna que era uma Húngara perdida em Joanesburgo quando conheceu meu avô de descendentes sul-africanos.

— Está bem, eu vou com ele. Forço um sorriso desajeitado.
— Eí, vê-se muda essa cara de cavalo.
— É a única que eu tenho. Gargalho e ela só me olha serrado.
— Vou pedir umas férias no trabalho.
— Para a lua de mel? Ajudo a trazer todos talheres para mesa.
— Sim. — Estou pensando em ficar uns dias consideráveis fora. Suspira de alegria.

É a primeira vez em toda minha vida que vejo minha mãe tão feliz, definitivamente.
Ela é tão grudada no trabalho de médica e na socialização familiar que nunca teve se quer tempo de tirar férias em 13 anos.
Preço nenhum comprará minha satisfação em vê-la alegre e esperançosa.

— Já pensaram aonde querem ir?
— Já. — Mas não vou lhe dizer. Ela se vira e vai até a pia da louça.
— Eu nem tinha perguntado. Arregalo os olhos incompreendido.
— Mas ias sim. Ela ri
— Ia não, mãe. Minto na cara dura.
— Sou sua mãe Jô. — E você sempre teve esse ar de curioso por tudo.
— Está bem... admito. — Não consigo esconder nada de você, não é?
— Talvez algumas coisas. — Mas eu logo noto sem esforço algum. Ela pisca os olhos.
— Como o quê? Pergunto inquieto.
Será que minha mãe desconfia? Ela deve saber sim que sou gay por algum descuido meu, acho né.
— Bem... você nunca trouxe nenhuma garota pra casa, está me enrolando?
— Não estou, eu ju...
— Calma Jô, só estava trotando você. Ela ri e isso me faz meu coração desalterar.
— Ah, eu notei. Gargalho forçadamente e quase engasgo com minha saliva.
— Você é livre para sair com quem quiser, não esteja pressionado por mim.
— Eu sei mãe!
— Só não pode esquecer do mais essencial.
— Já sei. — Usar camisinha. Falo enjoado.

Se Eu Fosse VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora