Aos sábados fico um pouco mais calmo e prefiro passar o dia inteiro deitado ouvindo música ou assistindo qualquer coisa na TV.
Talvez isso seja consequência de uma não atividade paranormal aos fim-de-semana.
Estou com uma preguiça efêmera quando minha mãe me pede para sair do quarto e ir a boutique com Elton na tentativa de nos familiarizarmos mais e ajudar-lo acertar os detalhes do casamento concernente ao seus trajes. Mas qual é a parte do não sei nada de moda que ninguém consegue entender?
Me aproximo da cozinha onde minha mãe está preparado um cozido para o almoço.
É um destes sábado que ela encarna a chef e tenta nos agradar pela barriga e desde já ela nunca falhou nesta missão.
— Que cheiro delicioso. Digo entrando na cozinha sorrateiramente.
— Jonathan! — Você me assustou.
Minha mãe quase deixa cair a travessa de comida mas rapidamente se põe firme.
— Desculpa. Digo indo perto dela e a dou um beijo em sua bochecha.
— Não pensa que esqueci sobre o quê eu disse pra você à pouco tempo.
— Mas mãe... — Eu estou cansado. Pego um pêssego da geladeira e minha mãe finge não ver.
— Elton é ruim com escolhas. Ela cochicha olhando aos lados. — Você precisa ajudar ele hoje, por favor.
— Eu sou pior, acredita. Afirmo
— Ah santo Deus! — Porquê eu não nasci uma menina se quer. Ela retira o avental e faz um coque no cabelo frisado.
— Mãe, não precisa fazer um drama.
— Drama? Ela me olha serrado. — Você não sabe o qual essa palavra me afeta.
Me aproximo dela e a peço desculpas baixo e ela me pega nas mãos frias e com aquele
olhar que te deixa sem grandes escolhas.
Minha mãe é totalmente diferente de mim fisicamente, puxei todos os meus carácteres físicos de meu pai. Desde meu cabelo liso e castanho escuro, unhas curvilíneas, dentes salientes e pele magra de espantar.
Já Yago é o oposto de mim e à semelhança de minha mãe, mas só que mais feio por causa do cabelo ridículo que certamente puxou do seu pai.
Os meus cílios também são do meu pai e as nádegas duras não são a exceção.
Sei disso porquê todas as fotografias dele eu me revejo muito, principalmente na época da adolescência dele em 1979.
E se quer saber? Eu não me incomodo com isso, com todos os genes que herdei dele.
Mesmo que isso me faça lembrar o tempo todo que tenho um pai biológico e que ele me abandonou sem eu o conhecer direito.
A única coisa que tenho de minha mãe é a cor da pele clara, que analisando bem eu acabei mesmo é ganhando de minha avô materna que era uma Húngara perdida em Joanesburgo quando conheceu meu avô de descendentes sul-africanos.
— Está bem, eu vou com ele. Forço um sorriso desajeitado.
— Eí, vê-se muda essa cara de cavalo.
— É a única que eu tenho. Gargalho e ela só me olha serrado.
— Vou pedir umas férias no trabalho.
— Para a lua de mel? Ajudo a trazer todos talheres para mesa.
— Sim. — Estou pensando em ficar uns dias consideráveis fora. Suspira de alegria.
É a primeira vez em toda minha vida que vejo minha mãe tão feliz, definitivamente.
Ela é tão grudada no trabalho de médica e na socialização familiar que nunca teve se quer tempo de tirar férias em 13 anos.
Preço nenhum comprará minha satisfação em vê-la alegre e esperançosa.
— Já pensaram aonde querem ir?
— Já. — Mas não vou lhe dizer. Ela se vira e vai até a pia da louça.
— Eu nem tinha perguntado. Arregalo os olhos incompreendido.
— Mas ias sim. Ela ri
— Ia não, mãe. Minto na cara dura.
— Sou sua mãe Jô. — E você sempre teve esse ar de curioso por tudo.
— Está bem... admito. — Não consigo esconder nada de você, não é?
— Talvez algumas coisas. — Mas eu logo noto sem esforço algum. Ela pisca os olhos.
— Como o quê? Pergunto inquieto.
Será que minha mãe desconfia? Ela deve saber sim que sou gay por algum descuido meu, acho né.
— Bem... você nunca trouxe nenhuma garota pra casa, está me enrolando?
— Não estou, eu ju...
— Calma Jô, só estava trotando você. Ela ri e isso me faz meu coração desalterar.
— Ah, eu notei. Gargalho forçadamente e quase engasgo com minha saliva.
— Você é livre para sair com quem quiser, não esteja pressionado por mim.
— Eu sei mãe!
— Só não pode esquecer do mais essencial.
— Já sei. — Usar camisinha. Falo enjoado.
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Se Eu Fosse Você
عاطفيةJonathan é um adolescente não assumidamente Queer, que vive na cidade de Jonesborgo, que vê sua vida virar de cabeça pra baixo apôs se apaixonar por seu colega do ensino médio, Raphael, que aparentemente é heterossexual e isso afeta bastante a relaç...
