Capítulo 55🏳️‍🌈

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De manhã cedo, todos já estão acordados e tomando o seu pequeno almoço, Rapahel parece melhor hoje, meio animado brincando com a Lanna, então, tempo de depois, a campainha da porta toca e quando minha mãe abre, vemos todos a presença da Dona Dayana.
A mãe de Raphael está aqui em casa.

— Olá. Ela diz para minha mãe.
— Entre! Minha mãe diz a ela.
— Obrigada. Dayana repara na casa e nos vê comendo. — Eu vim ter com o meu filho.
— Eu sei. — E fico tão feliz que veio cá ver ele.
— Só espero que ele se alegra também em me ver.

Quando ele percebe, se levanta logo da mesa e vai até ao encontro dela.
E a primeira ação que ele tem é de se manter estático a frente de sua mãe, e olha fixamente para seu rosto.
Mas isso tudo se desfaz, quando, a sua mãe o abraça forte e beija a sua testa.
Sinto na necessidade de me ausentar da sala, e vou até ao quintal.
Minha mãe também o faz, deixando eles conversando por uns minutos.
Fico no jardim, andando as voltas feito um robô mal programado.
Estou curioso, inseguro e tenso com o quê pode estar havendo lá dentro.
Não sei do que ambos conversam e tal coisa me deixa inquieto.
Mas lá no fundo fico esperançoso que a vinda de Dona Dayana significa algo bom em nossas vidas.
Eu vi em seus olhos azuis, algo tão profundo e libertador.
Não é o mesmo olhar de desprezo de ontem.

— Acha que ela veio fazer as pazes?
Perguntei para minha mãe, tenso.
— Não sei, talvez sim. Ela diz sentada na cadeira de balanço.
— Estou tão nervoso... Digo pra ela suspirando. — Eu quero tanto que as coisas mudem mesmo.
— Elas certamente irão mudar, é uma questão esperar. — Dayana não é uma mãe maldosa.
— Como não? Fico meio confuso.

Eu tenho uma ideia tão fixa dela.
É pré-julgar, mas foi em função das coisas que foram acontecendo nos últimos dias com Raphael.
As mães protegem seus filhos, elas dão tudo para demonstrar amor aos seus, e tudo que vi até agora, da parte da dona Dayana foi desprezo, irá e opressão.
Mas não vou negar que hoje eu vi uma mulher diferente.
Há mudanças até na sua forma de se pronunciar para o próprio filho.
Confesso que está esperando que eles tomassem a iniciativa de voltar para cá daqui a umas duas semanas.
Mas felizmente foi antes.
A conversa deles demora exactamente uns 30 minutos até quando Raphael vem até ao quintal chamar por mim e minha mãe.
Entramos e entendemos logo que nós precisamos conversam juntamente.
Estômago fica embrulhado, suando e as mãos húmidas de suor.
Mas todas as minhas inseguranças passam naquele momento assim que encaro o rosto pacífico de Raphael.
Ele parece bastante animado e calmo, e deduzo no instante que a conversa não terá um teor pesado de críticas e negações.
É certamente uma reconciliação.

— Eu chamei vocês aqui, porque acho que devo um pedido de desculpa pelas coisas ruins que falei ontem em vossa casa... — Não foi uma boa atitude da minha parte, e felizmente eu já pude resolver as coisas com o meu filho.
— Olha, Dayana... — Algumas vezes, nós como mães acabamos por errar demais ao julgar e orientar o rumo dos nossos filhos. — Eu percebi o seu medo, e sei que tudo isso lhe assusta, mas, não precisa ser assim, ter um gay como filho não é o fim do mundo, não é algo por se envergonhar.
— Eu deveria saber. Dayana suspira meio afetada.
— Mas ainda há tempo de concertar as coisas. — Não preciso lhe dizer que todas as tentativas de uma possível mudança serão em vão. — Não são eles que devem mudar, somos nós, e isso inclui todos os pais cheio de tabus e preconceitos.
— E estou aqui justamente por isso, por crê no que acabou de dizer. — Me dói negar tudo por ele.
— Não devia doer. Minha mãe diz a ela. — É uma felicidade, olha para eles! — O que vê?
Dona Dayana nos observa sentados juntos.
— Dois garotos! Ela analisa.
— ...Dois garotos gays que se amam. Minha mãe a corrigiu.
— Claro. Ela sorri. — Eu não quero perder o meu filho, eu não posso... Ela começa a lacrimejar.
— Mas não vás me perder, mãe! Raphael fala para ela.
— E as pessoas? — O que elas vão pensar sobre você? Dayana suspira e pensa alto.
— O que importa? Ninguém liga para julgamentos errados e olhares cheios de ódio e preconceito. — Se eu tiver o apoio de você, e da minha família já é o suficiente.
— Tem certeza que é isso que quer? Ela pergunta enxugando as lágrimas.
— Eu tenho, mãe! Raphael responde convicto.
— Só me dói um pouco... Dayana se encolhe no sofá. — Mas eu te amo.
— Mas, mãe...
— Eí, calma, Raphael, ela precisa de um tempo, ok? Digo sussurrando no seu ouvido.
— Tudo bem, mãe. Pego em sua mão e prossigo: — Eu nunca vou te magoar, e jamais vou deixar de ser um filho de dar orgulho.
— Eu sei que não vai me deixar mal. Ela sorri e corri abraçando Raphael.
— Ok, mãe. Ele envolve seus braços a volta da cintura da sua mãe.
— Me desculpa. — De verdade! Ela diz baixinho no seu ouvido.
— Está tudo bem, mãe. — Já passou.
— Você vira para casa comigo?
— Meu pai está lá? Raphael gagueja.
E por um instante a sua mãe geme de chatice e responde:
— Ele irá embora. — Mas não precisa ser assim...
— Eu quero que seja diferente, mas como? se é o meu próprio pai quem dificulta as coisas?
— Eu entendo, filho. — Só dá um bom tempo até às coisas esfriarem.
— Isso não é justo! Raphael diz meio aborrecido. — É tão difícil assim ver que não sou um monstro?
— Não se revolta. Dayana pede. — Ele só não compreende as coisas, ele não conhece como é isso de ser gay... Ele viveu em um tempo que não existia...
— O quê? Que bobagem! Raphael gira e sai de perto de nós.
— Me desculpa, filho. — Falei alguma besteira?
— Não, meu pai é que parece um cara tão cheio de tabus e normas!
— Tudo bem. Ela se aproximou do seu filho. — Vamos para casa?
— Só não volta a me obrigar a viajar... Raphael diz e caminha até a porta.
— Isso não vai acontecer. Ela diz meio envergonhada e triste.
— E eu quero falar com a vovó assim que chegar em casa.
— Está bem, filho. Dayana responde calmamente.
— Devo ir? Raphael me encara tenso.
— Eu acho que você deveria ir... Falo para ele.
— Está tudo bem mesmo em eu ir? Raphael me olha serrado.
— Só não desliga o telefone. — Seus pais ainda me deixam inseguros.
Falo pegando em sua mão.
— Eu sei. Ele suspira. — Também estou um quanto trémulo.
— Ok, isso não é uma armadilha. Abro um sorriso encorajador.
— Eu vou! Ele sorri. — Obrigado. Ele me abraça forte enquanto nossas mães conversam fora de casa.

Se Eu Fosse VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora