De manhã cedo, todos já estão acordados e tomando o seu pequeno almoço, Rapahel parece melhor hoje, meio animado brincando com a Lanna, então, tempo de depois, a campainha da porta toca e quando minha mãe abre, vemos todos a presença da Dona Dayana.
A mãe de Raphael está aqui em casa.
— Olá. Ela diz para minha mãe.
— Entre! Minha mãe diz a ela.
— Obrigada. Dayana repara na casa e nos vê comendo. — Eu vim ter com o meu filho.
— Eu sei. — E fico tão feliz que veio cá ver ele.
— Só espero que ele se alegra também em me ver.
Quando ele percebe, se levanta logo da mesa e vai até ao encontro dela.
E a primeira ação que ele tem é de se manter estático a frente de sua mãe, e olha fixamente para seu rosto.
Mas isso tudo se desfaz, quando, a sua mãe o abraça forte e beija a sua testa.
Sinto na necessidade de me ausentar da sala, e vou até ao quintal.
Minha mãe também o faz, deixando eles conversando por uns minutos.
Fico no jardim, andando as voltas feito um robô mal programado.
Estou curioso, inseguro e tenso com o quê pode estar havendo lá dentro.
Não sei do que ambos conversam e tal coisa me deixa inquieto.
Mas lá no fundo fico esperançoso que a vinda de Dona Dayana significa algo bom em nossas vidas.
Eu vi em seus olhos azuis, algo tão profundo e libertador.
Não é o mesmo olhar de desprezo de ontem.
— Acha que ela veio fazer as pazes?
Perguntei para minha mãe, tenso.
— Não sei, talvez sim. Ela diz sentada na cadeira de balanço.
— Estou tão nervoso... Digo pra ela suspirando. — Eu quero tanto que as coisas mudem mesmo.
— Elas certamente irão mudar, é uma questão esperar. — Dayana não é uma mãe maldosa.
— Como não? Fico meio confuso.
Eu tenho uma ideia tão fixa dela.
É pré-julgar, mas foi em função das coisas que foram acontecendo nos últimos dias com Raphael.
As mães protegem seus filhos, elas dão tudo para demonstrar amor aos seus, e tudo que vi até agora, da parte da dona Dayana foi desprezo, irá e opressão.
Mas não vou negar que hoje eu vi uma mulher diferente.
Há mudanças até na sua forma de se pronunciar para o próprio filho.
Confesso que está esperando que eles tomassem a iniciativa de voltar para cá daqui a umas duas semanas.
Mas felizmente foi antes.
A conversa deles demora exactamente uns 30 minutos até quando Raphael vem até ao quintal chamar por mim e minha mãe.
Entramos e entendemos logo que nós precisamos conversam juntamente.
Estômago fica embrulhado, suando e as mãos húmidas de suor.
Mas todas as minhas inseguranças passam naquele momento assim que encaro o rosto pacífico de Raphael.
Ele parece bastante animado e calmo, e deduzo no instante que a conversa não terá um teor pesado de críticas e negações.
É certamente uma reconciliação.
— Eu chamei vocês aqui, porque acho que devo um pedido de desculpa pelas coisas ruins que falei ontem em vossa casa... — Não foi uma boa atitude da minha parte, e felizmente eu já pude resolver as coisas com o meu filho.
— Olha, Dayana... — Algumas vezes, nós como mães acabamos por errar demais ao julgar e orientar o rumo dos nossos filhos. — Eu percebi o seu medo, e sei que tudo isso lhe assusta, mas, não precisa ser assim, ter um gay como filho não é o fim do mundo, não é algo por se envergonhar.
— Eu deveria saber. Dayana suspira meio afetada.
— Mas ainda há tempo de concertar as coisas. — Não preciso lhe dizer que todas as tentativas de uma possível mudança serão em vão. — Não são eles que devem mudar, somos nós, e isso inclui todos os pais cheio de tabus e preconceitos.
— E estou aqui justamente por isso, por crê no que acabou de dizer. — Me dói negar tudo por ele.
— Não devia doer. Minha mãe diz a ela. — É uma felicidade, olha para eles! — O que vê?
Dona Dayana nos observa sentados juntos.
— Dois garotos! Ela analisa.
— ...Dois garotos gays que se amam. Minha mãe a corrigiu.
— Claro. Ela sorri. — Eu não quero perder o meu filho, eu não posso... Ela começa a lacrimejar.
— Mas não vás me perder, mãe! Raphael fala para ela.
— E as pessoas? — O que elas vão pensar sobre você? Dayana suspira e pensa alto.
— O que importa? Ninguém liga para julgamentos errados e olhares cheios de ódio e preconceito. — Se eu tiver o apoio de você, e da minha família já é o suficiente.
— Tem certeza que é isso que quer? Ela pergunta enxugando as lágrimas.
— Eu tenho, mãe! Raphael responde convicto.
— Só me dói um pouco... Dayana se encolhe no sofá. — Mas eu te amo.
— Mas, mãe...
— Eí, calma, Raphael, ela precisa de um tempo, ok? Digo sussurrando no seu ouvido.
— Tudo bem, mãe. Pego em sua mão e prossigo: — Eu nunca vou te magoar, e jamais vou deixar de ser um filho de dar orgulho.
— Eu sei que não vai me deixar mal. Ela sorri e corri abraçando Raphael.
— Ok, mãe. Ele envolve seus braços a volta da cintura da sua mãe.
— Me desculpa. — De verdade! Ela diz baixinho no seu ouvido.
— Está tudo bem, mãe. — Já passou.
— Você vira para casa comigo?
— Meu pai está lá? Raphael gagueja.
E por um instante a sua mãe geme de chatice e responde:
— Ele irá embora. — Mas não precisa ser assim...
— Eu quero que seja diferente, mas como? se é o meu próprio pai quem dificulta as coisas?
— Eu entendo, filho. — Só dá um bom tempo até às coisas esfriarem.
— Isso não é justo! Raphael diz meio aborrecido. — É tão difícil assim ver que não sou um monstro?
— Não se revolta. Dayana pede. — Ele só não compreende as coisas, ele não conhece como é isso de ser gay... Ele viveu em um tempo que não existia...
— O quê? Que bobagem! Raphael gira e sai de perto de nós.
— Me desculpa, filho. — Falei alguma besteira?
— Não, meu pai é que parece um cara tão cheio de tabus e normas!
— Tudo bem. Ela se aproximou do seu filho. — Vamos para casa?
— Só não volta a me obrigar a viajar... Raphael diz e caminha até a porta.
— Isso não vai acontecer. Ela diz meio envergonhada e triste.
— E eu quero falar com a vovó assim que chegar em casa.
— Está bem, filho. Dayana responde calmamente.
— Devo ir? Raphael me encara tenso.
— Eu acho que você deveria ir... Falo para ele.
— Está tudo bem mesmo em eu ir? Raphael me olha serrado.
— Só não desliga o telefone. — Seus pais ainda me deixam inseguros.
Falo pegando em sua mão.
— Eu sei. Ele suspira. — Também estou um quanto trémulo.
— Ok, isso não é uma armadilha. Abro um sorriso encorajador.
— Eu vou! Ele sorri. — Obrigado. Ele me abraça forte enquanto nossas mães conversam fora de casa.
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Se Eu Fosse Você
Lãng mạnJonathan é um adolescente não assumidamente Queer, que vive na cidade de Jonesborgo, que vê sua vida virar de cabeça pra baixo apôs se apaixonar por seu colega do ensino médio, Raphael, que aparentemente é heterossexual e isso afeta bastante a relaç...
