Capítulo 20🌈

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Nestes últimos dois dias a minha mãe tem sido uma autentica mãe coruja, querendo saber tudo que tenho ocultado ou que faço.
Seus olhares sempre insinuam algo.
Ela teve coragem de me perguntar se já tive uma namorada se quer, claro que não.
Mas já fiquei com algumas, mas não lhe contei este pequeno detalhe.
O fato dela não ter dito tanta liberdade pra falar comigo sobre minha sexualidade antes, a fez criar uma curiosidade sobre tudo o que acontece comigo.
Parece que sou uma enciclopédia LGBT+.
Expliquei sobre a diferença entre lésbicas e homens transexuais.
Enfatizei que apesar de gostar de homens continuo sendo garoto e isso me torna em um homem Cisgenero.
Agora só torço para ela não me questionar se sou ativo, passivo, ou sei lá o quê.

— Quem mais sabe? Minha mãe me segue do quintal até a sala.
— Sobre ser gay? Limpo as mãos após sair do jardim.
— Sim filho. Me puxa até à sala.
— Ranger, Yago, Elton e agora você, mãe.
— Ranger é legal com você?
Ranger é bissexual. Melhor ele não poderia ser.
— Sim. — Há um respeito mútuo.
— Ele também é? — ...gay? Ela enrijece pra falar a última palavra.
— Não. — Ele é...
Normal? Ela arregala os olhos veloz.
— Com "normal" querias dizer mesmo  heterossexual?
— Ah Jonathan! — Me desculpe. — Eu não consigo entender muito deste mundo.
— Tudo bem! Pego o controle de Tv e ligo-a, procurando qualquer coisa pra assistir.

Eu sei que ela está se esforçando para me entender mesmo já me aceitando.
Mas deste jeito é meio difícil de conversar.
É sufocante demais pra mim.
Não precisamos ir com tanta pressa.
Parece um interrogatório.
Minha mãe se cala por uns segundos e sei que está formulando mais perguntas já que temos muitas horas sozinhos em casa.
Iremos ter uma vida inteira pra eu lhe dizer tudo sobre minha intimidade sexual.
Não precisamos dialogar sobre tudo que eu guardo hoje.
Coloco um canal televisivo musical e fico à espera de ver qualquer coisa animadora.
Está passando uma música de Lil Wayne e Bruno Mars, e agora foco toda a minha
atenção na música.
Até que o silêncio é quebrado:

— Então, você está namorando alguém? Ela me pergunta enquanto eu finjo manter a concentração.
— Não.
— Está falando a verdade?
— Eu juro. Se estivesse, não sei se contaria.
Não posso se quer falar sobre Raphael para ela sem criar um estardalhaço total.

— Mas estás apaixonado por alguém?

Porquê ela diz alguém? Em vez de: garoto, homem, rapaz ou qualquer outro adjetivo masculino que existe?
Às vezes nem eu a entendo, de verdade.

— Talvez sim... Sussurro entre os dentes.
— Não ouvi. — Mais alto, Jonathan.
— Mãe? — O que há? Me envergonho.
— Só quero saber como você está. Ela ri se achegando à mim no sofá preto.
— Eu estou ótimo. — De verdade.
Isso tudo soa tão forçado.
Mas entendo ela, pôs é a primeira vez que estamos sozinhos desde a revelação.
Era óbvio que faria perguntas sobre tudo.
— Então isso quer dizer que você... Ela mordisca os lábios sem terminar sua frase.
— Eu o quê? Demoro a entender.
— Se você já fez... aquilo? Ela cora rindo.
— Sexo? Digo sem tabus.
— É, isso mesmo! Acenou com os dedos como se não lembrasse do que queria questionar.
— Sim, já. Desta vez falo alto.
— Com quem? — Foi bom? Ela soa como uma criancinha ganhando sorvete.
É óbvio que não vou contar nada.
"Bom" seria uma palavra não tão adequada pra dizer o quão estranho foi minha primeira vez.
Não lembro. — Foi embaraçoso.
Como essa conversa de agora.
Porquê eu só estou sabendo disso agora?
Mãe! — Eu não era assumido.
Ainda assim. — Eu deveria saber.
Já está sabendo. Troco de canal.
Doeu? Ela trava um sorriso.
O quê tinha que doer? Digo tedioso.
— Sei lá. — Você deve saber melhor que eu, não? Usar os órgãos genitais não dói, acho.
Precisamos mesmo falar sobre isso?
Sim. — Sou sua mãe, preciso de saber.
É tudo muito constrangedor. Digo me cobrindo o rosto com a almofada.
Você ao menos lembrou de utilizar o preservativo?
— Mãe! — Tossi. — Fique descansada, eu não engravidei aquele garoto.
— Mas podia ter apanhado alguma doença ou sei lá o quê.
— Não, mamãe. — Não não tenho nada, de SIDA ou Herpes. Solto um gracejo.
— Isso não tem graça Jonathan. Diz ela seriamente.
— Tudo bem mãe. — Eu me protegi e isso já faz vários anos.
— Você sabe como eu sou preocupada com essa coisa toda de educação sexual.
— Nem precisa enfatizar. Levo os olhos até o teto e franzo os lábios para baixo.
— Promete que vai me contar tudo?
— Sim. — Mas vamos por partes. Digo pra ela me levantando.
— Eu só estou tentando ser mais presente na sua vida, Jonathan.
— Eu sei. — E agradeço. — Mas fazer tais perguntas íntimas me deixa sufocado.
— Porquê?
— Porque não é do dia para noite que as coisas entre nós vão fluir em relação a tudo isso, minha sexualidade, minha vida.

Se Eu Fosse VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora