18. Noite de chuva e ciúmes em Paris

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A conversa com Murat, foi rápida e proveitosa, durou pouco mais de uma hora. Murat não era de se estender nos assuntos.

Saimos do Moulin Rouge, com Bucky me puxando pela mão, nessa hora seu surto de cavalheirismo tinha sumido.
Paramos rapidamente na chapelaria, ele pegou meu sobretudo, me vistiu e amarrou o cinto do casaco na minha cintura, tão rápido que fiquei tonta, agora ele já me trazia mais junto ao seu corpo, estava com os olhos escurecidos de raiva, o rosto vermelho e resmungava algumas coisas que eu não conseguia entender.

Quando chegamos na porta vimos o céu desabando em chuva, ainda era inverno em Paris e chuva nessa época é normal.

- Fica aqui, não sai aqui, enquanto vou arrumar um táxi!

Nem pensei em me mexer... ele estava irritado!

Ele volta poucos minutos depois (mas foi tempo suficiente para ele se molhar todo) o táxi já estava parado.

- você vai molhar os pés todo com essa sandália... deixa eu te levo!

Ele me pegou no colo e correu para o táxi, me colocou sentada dentro do carro e entrou pela outra porta.
Ele estava encharcado, coitado.

Era pouco mais de uma da manhã, o táxi parou na frente do meu prédio, Bucky fez a mesma coisa, de quando chegamos ao Moulin Rouge, pagou o táxi, desceu rápido e me tirou no colo, apesar do meu protesto, eu não iria derreter se molhasse os meus pés!

Mas ele nem deu atenção ao que eu dizia.

No elevador o silêncio foi quebrado.

- vc está molhada?

- não soldado, estou bem e muito mais seca que você.

- (respiração forte e profunda)... que coincidência não é, você conhecer esse Lorran ou Murat, sei lá, incrível isso?!

Senti um tom de incomodo na sua voz e sua feição só fazia confirmar minha desconfiança...

- sim, nós nos conhecemos sim.

- pelo que vi, se conhecem e muito bem!

- se você está se referindo ao fato da gente ter viajado juntos, sim, nós conhecemos "muito bem"!

- eu percebi, ele toda hora te tocando, te puxando para o lado dele, querendo que você ficasse lá com ele... aquele ridículo, metido a Don Juan, ele nem me respeitou, eu sou homem e você estava comigo.

Nessa hora o elevador parou, descemos, eu não tive como falar nada, estava pasma, com tudo o que acabei de escutar, não era possível, Bucky estava tendo uma crise de ciúmes ou eu estava surtando!!

Ele abre a porta do apartamento, "mandando" eu entrar, tranca a porta, e se volta para mim, e tira meu casaco, na mesma velocidade que vestiu, eu estou tão atônita com toda essa cena que pareço uma boneca nas mãos dele.

Ele acende a luz, e fica em pé no meio da sala, passando as mãos no cabelo castanho escuro, quase negro, sem tirar os olhos furiosos de mim.

Seus olhos pareciam ter passado do azul céu, para um cinza, como a noite chuvosa que estava acontecendo naquela hora do lado de fora do apartamento, mas do jeito que ele estava, parecia que uma tempestade estava se formando ali, no meio da minha sala.

Eu não conseguia acreditar que ele estava com ciúmes, desde que nos conhecemos brigamos mais que tudo, temos alguns poucos momentos de "paz", mas no geral é sempre briga e picuinha, ele já tinha dito mais de uma vez que tinha raiva de mim, nossa relação era tão confusa, que confesso que eu evitava parar para pensar nela.

Mas ali, naquele momento, eu vendo ele me olhar com os olhos cinza raivoso, ele estava pronto para fazer desabar uma tempestade sobre nossas cabeças, eu não sabia o que fazer, poderia esperar tudo dele, menos uma crise de ciúmes, ainda mais porque nós não tinhamos nada um com o outro, então fiz a única coisa que poderia fazer.

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