Ret
Respiro fundo encarando a aliança na minha frente.
Era hoje...
O dia que eu estava mais nervoso, mas mesmo assim eu queria que chegasse logo.
Estava tudo correndo bem! Anna nem imaginava o que a esperava.
Hoje mais cedo eu tinha ligado pra ela perguntando se a mesma tinha algum compromisso hoje.
Ela negou e essa era a resposta que eu estava esperando.
Falei que hoje a tarde eu ia buscar ela.
Queria levar ela pra um lugar calmo tá ligado? Onde que só pudesse ter eu e ela e nada mais.
Queria que aquele momento fosse único pra nós dois.
Ret: olha aonde tu se meteu. - falo pra mim mesmo fechando a caixinha de veludo.
Olho pro relógio vendo as horas. 10:31...
Não estava na hora de eu ir lá buscar ela. Então eu comecei a organizar as folhas com letra da música.
Eu não tinha gravado a música ainda pq eu quero que ela seja a primeira a ver.
Resoiro fundo quando guardo as folhas dentro da pasta e sinto uma pontada no meu peito.
Ret: tá de sacanagem com a minha cara. - resmungo. - porra, logo hoje?
Sento na cama e sinto um calafrio passar por todo meu corpo junto com uma sensação ruim.
A mesma sensação! Ela estava de volta mas agora estava mais forte.
A dor no peito ia aumentado a cada minuto que passava, e eu tentava regular minha respiração.
Pego a cartela de comprimido que estava em um móvel do lado da minha cama.
Pego a garrafinha de água que eu sempre deixo caso algo como esse acontecesse.
Tomo meu remédio e respiro fundo pedindo mentalidade pra essa dor e essa sensação passar logo.
Mas não passou!
Aumentava cada vez mais! A dor, a sensação, a angústia, os arrepios, os calafrios. Tudo!
Fecho meus olhos passando a mal no peito tentando aliviar de alguma forma.
Abro meus olhos procurando o gel, e encontro em cima da minha escrivaninha.
Me levanto devagar indo até a escrivaninha pegando o gel, e abrindo o mesmo.
Ret: se tem que funcionar cara.
...
11:48 da manhã.
Fecho o portão de casa respirando fundo ajeitando a mochila nas costas.
Estava indo agora pra entrada da Rocinha aonde eu ia pedir o uber.
Não tinha como eu ir com meu carro ou com a minha moto pro apartamento da Anna.
Ja que de lá a gente vai pro aeroporto.A dor não tinha passado nada! E já estava ficando sufocante. Mas eu não podia deixar isso me vencer.
Principalmente hoje que era o dia que eu mais pedi pra chegar logo.
Abraço meu próprio corpo quando entro em uma rua e um calafrio invade meu corpo com tudo.
Ignoro isso é contínuo a andar. Mas a pontada forte que me atingi me faz parar de andar imediatamente.
Coloco à mão no peito sentindo meu coração mais acelerado do que já esteve algum dia.
Ret: porra! Caralho! - meus olhos enchem de lágrimas sem eu querer.
A dor veio tão forte que os dedos das minhas mãos começaram a tremer.
A sensação ruim gritava dentro de mim. Meu coração pulava querendo sair. E a dor vinha como se tudo que existisse nesse universo caísse em cima de vc.
Respiro fundo e olho pra trás pensando em voltar pra casa.
Mas eu já estava longe e não ia conseguir andar até lá.
E o barulho de fogos sendo lançados me fez desistir dessa opção.
Estão invadindo...
Quando os barulhos de tiros começam a ecoa meu coração se acelera mais. A sensação mais ainda. A angústia e a dor.
A dor... Era o que eu mais sentia. Meu peito queimava e minha respiração estava totalmente desregulada.
Eu suava frio, minhas mãos tremia, meu peito subia e descia rapidamente, meu corpo todo estava arrepiado.
Me apoio no muro e começo a andar devagar, mas solto um gemido alto de dor quando os tiros se aproximam.
Quanto mais os tiros iam se aproximando mais a dor vinha junto! E cada vez mais forte.
O desespero toma conta de mim quando eu ouvia os tiros perto. Mas muito perto.
Parecia que estavam do meu lado..
Levanto meu pulso olhando as horas no meu relógio.
11:59...
Passo a língua nos lábios que estavam totalmente ressecados, e sinto um choque no meu corpo.
E como mágica eu paro de sentir tudo! Exatamente tudo.
Eu não sentia mas calafrios, nem a sensação ruim, muito menos dor.
Olho pra baixo vendo sangue na minha camisa. Encaro aquilo confuso e começo a ficar tonto.
Sinto minhas pernas ficarem fracas e meu corpo caindo no chão.
Coloco à mão aonde eu via sangue e minha respiração começa a falhar quando eu vejo o local que me atingiu.
Meu peito...
Aonde eu sempre tive as dores! Aonde que nenhum médico sabia o que eu estava sentindo.
Foi ali que me atingiram! Exatamente ali!
Tiro minhas mãos do meu peito e encaro elas todas sujas de sangue.
Minha visão vai ficando embaçada, e meus olhos vão se fechando devagar...
Até que eu não vejo mais nada..
Estava tudo escuro. Mas uma luz forte invade meu rosto e eu reconheço ser a mesma luz que eu não conseguia chegar perto.
Agora ela está vindo rapidamente até a mim.
Um turbilhão se sensações passa pelo meu corpo quando essa luz branca chega até a mim.
Mas ela era forte demais! Eu não conseguia ficar com os olhos abertos.
E foi assim que eu os fechei.. e não vi mais nada...