capítulo 7 (✓)

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"Coragem não é ter a ausência do medo. Coragem, é sempre estar disposto a enfrenta-lo."

                               V I C T O R I A

Deveria me levantar, me movimentar e preparar o arco. Mas ao invés disso eu me sento, tão imóvel quanto a pedra embaixo de mim, enquanto a alvorada começa a clarear a floresta. Eu não posso lutar contra o sol. Só posso assistir quando ele se levanta impotente e me arrasta.

Noite passada eu não dormi, por isso o dia não precisou aparecer para que eu já estivesse pronta, com a velha jaqueta do meu pai e um par de botas. Fui até a cozinha cautelosamente atrás de café, com medo de que meus tios acordassem e tivéssemos que nos encarar, e conversar. Eu não queria fazer qualquer uma daquelas coisas, porque isso me lembraria da proposta de Lorde Owen, e do tempo limitado que eu tinha para decidir se assumir meu lugar na capital era a escolha certa. Coloquei o café em uma garrafa e parti para o estábulo, realizando todas as minhas atividades matinais ainda cedo demais para que qualquer um notasse. Cuidar dos cavalos era a melhor parte de morar na fazenda, eu gostava de escova-los, de alimentá-los, levar eles para se exercitar e até limpar as baias.

O resto dos serviços são menos agradáveis e mais exaustivos, principalmente se considerar a falta de mãos para tantos afazeres. Germano passava a maior parte do tempo nos campos cuidando dos rebanhos já que aquela era nossa principal renda. Eliz estava sempre ocupada com os serviços domésticos, o que significava que todo o resto sobrava para mim, limpar os terrenos, cuidar dos animais, verificar as cercas, me certificar do celeiro e do estábulo. Não vivíamos escassamente, trabalhávamos muito, mas sempre tínhamos comida na mesa, roupas limpas e um teto. E eu sabia onde me encaixava, sabia qual era meu lugar no espaço firmemente entrelaçado que era a nossa vida.

Mas agora eu estava perdida, e não tinha ideia do que fazer com uma responsabilidade que de repente se tornou minha. A carta de minha mãe para o Rei.. Meu tio, fica repassando diversas vezes na minha mente, e mesmo sem querer eu me pego imaginando o que teria sido de mim se tal carta tivesse chegado ao seu conhecimento. Estaria morta como todos? Ou ainda seria da realeza? Era ainda pior, se considera-se que eu não era apenas uma Ferro, mas sim a última. Uma dinastia, um reino, vidas dependiam de mim. E isso era assustador demais para uma garota que nunca teve coisa alguma.

O sol tocou minhas têmporas quando vi Mark surgir através das sombras nas árvores, ele atravessou o riacho que dividia as terras de nossas famílias e me encontrou do outro lado.

— Estou surpreso. — Mark estava com um olhar quase severo e pelo seu tamanho certamente seria. Mas os cabelos bagunçados que deixavam o castanho cair pela testa lhe tiravam todo o ar de seriedade. — Pensei que não ia vir.

— Hoje é sábado. E nós sempre nos encontramos aqui aos sábados.

— A verdade. Esqueci de como você é lunática por compromissos.

— Não sou lunática por compromissos. — respondo, ignorando suas sobrancelhas levantadas.

— Por Deus Toria quando estudávamos você nunca conseguiu faltar um dia de aula. Nem mesmo quando estava doente você considerava dar folga aos coitados dos professores.

Dei de ombros, firmando meus dedos na mão estendida que ele me ofereceu para subir naquela parte elevada com rochas e grama.

— Eu não fazia tanto pelo compromisso. Era mais como uma necessidade básica ficar aquelas quatro horas longe de Eliz Megan.

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