capítulo 63 (✓)

35 7 0
                                    

"Angústia e êxtase. Glória e queda."

V I C T O R I A

Olhei para além do horizonte, onde meu destino se aproximava.  O ambiente estava tenso e repleto de neblina, retrocedi a coluna ouvindo a ordem para os navios se preparem para atracação. Meus passos saíram fracos até a extensão da cabine, onde recolhi a caixa que Kalf guardará no navio quando ainda estávamos em Monte Rock, com cautela retirei de lá uma armadura, negra pintada sob feixes luminosos de prata. Sonhei com aquela armadura no dia em que venci Ben em uma de nossas primeiras lutas treinadas, levou tempo para fazê-la mas cá estava. Uma Campbell e sua armadura. Vesti-la me deixava extasiada, me fazia sentir mais próxima de meus ancestrais do que as próprias pinturas do castelo de Vêrmenia as quais passei tanto tempo encarando, tanto tempo tentando entender qual era o meu lugar na parte da história de minha linhagem, agora eu sabia, mais do que nunca, que precisava lutar pelo trono de Allen não apenas pela minha sede de vingança contra os conselheiros mas também porque eu devia aquilo ao meu sangue.

Encarei meu reflexo através do espelho depois que vesti a armadura, o meu cabelo estava preso em um alto rabo de cavalo enquanto minha pele queimava sobre o frio do aço polido até o limite, todas as minhas partes entrando em preparação quando vejo Kalf ingressar.

— Está pronta? — Faço que sim, girando até a direção da porta. — Como se sente? Ainda tem muitas sombras?

Abro um sorriso sem mostrar os dentes. — O suficiente para deixar a batalha equilibrada.

— Lembre-se de guardá-las para o momento certo, mesmo se os exércitos estiverem tendo baixas, o plano deverá ser seguido..

Engulo a dor daquilo. — Tudo bem.

O general hesita de cenho franzido, embaraçado, sua mão sobre a espada. — O que nos espera... — Kalf diz ao deixarmos a cabine. Todos estavam se preparando para deixar o navio, a voz do general ecoava desarranjada e penumbra contra os sons ensaiados de nossos exército. O encarei imersiva e intrigada. — Não consigo ver muita luz por este caminho.. — ele continuou, enquanto me oferecia sua mão para subirmos as escadas.

— O que quer dizer? — perguntei sentindo o sol pálido sobre minha pele, à costa de Vêrmenia apenas há alguns metros de distância do nosso alcance.

Kalf deu um sorriso abafado antes de proceder;

— Que nessa grande guerra, não vejo possibilidade de lado algum sair completamente vitorioso.

O longo vazio, a voz que rebenta em ecos a toda a volta, mas ninguém responde, a vasta escuridão, eu finalmente havia tocado o seu limite. E como era amargo. 

هههه

L I S A

O silêncio antes da guerra, a ansiedade de não saber ao certo o momento exato onde você sabe que tudo irá mudar pode ser perturbador e alucinante, depressivo e feroz. Pode ser uma prisão, com grandes que estão se fechando ao seu redor, na expectativa de trancá-lo em cadeados invencíveis, dos quais você não poderá sair. Tudo isso enquanto está lúcido, coberto de total consciência do caminho escuro que está entrando, um caminho que você mesmo trilhou.

— Quais as notícias..?

Perguntei sem muito entusiasmo para a bruxa das montanhas, às vezes vê-la de pé envolta por todos os seus mistérios me fazia temer sobre nosso acordo, antes, quando ela me encontrou, sua presença deixava minhas pernas trêmulas e o meu coração na garganta, mas agora, com aquele poder dentro de mim eu me sentia mais forte para enfrentar sua imposição, sentia aquela chama antiga e escura, fantasmagórica e poderosa se atrofiando cada vez mais dentro de meus ossos, roubando para si lembranças, momentos de felicidades, sonhos antigos e todo o resto que me fazia ser quem eu era. Ou costumava ser, já não sei bem ao certo. A bruxa disse que haveria um preço pela magia das montanhas que tomei para mim, sempre haverá de ter, sussurrou. E eu o estava pagando pouco a pouco, sangue por sangue, com todos os pequenos fragmentos de minha alma.

Rainha de Ferro Onde histórias criam vida. Descubra agora