capítulo 1 (✓)

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"Sempre estive à espera do amanhecer, ansiosa pelo dia em que o sol tocaria a terra, aqueceria o meu Mundo, e mostraria a beleza que a escuridão me escondeu."

V I C T O R I A

Encontrava-me no único lugar onde poderia realmente sentir-me leve e feliz. Os meus olhos ainda fechados, abriam espaço para os outros sentidos se aguçarem mediante aquela onda de paz. Um sorriso involuntário permanecia sobre meus lábios. Transbordei ao sentir todas as batidas do meu coração; uma força latente contra o peito.

Abro meus olhos sacando das costas o arco, posiciono a flecha na arma de madeira, inclinado sua estrutura para o céu. Meu braço se esticou, as articulações dos meus dedos moldando-se para dar suporte a mira, o batente da flecha entrando em contato com a minha pele. Meus dedos próximos do nariz se preencheram de energia no instante em que a flecha voou metros acima, atravessando o ar cortante, feroz e decisiva. Mesmo sob uivos de pássaros e trajetos de pequenos animais, o som foi unânime ao raspar próximo de uma ave branca que bateu asas de desespero, sem repostas.

A flecha atingiu o pico da árvore mais alta, e o pássaro desapareceu para o norte.

Levo o antebraço à testa, onde pequenas gotículas de suor percorrem minha face em caminhos agonizantes.

Gostava de atirar. Mas a morte viria só quando necessário.

Um chacoalhar de terra me mostrou que o riacho próximo transbordava em vida, às águas um pouco mais adiante fazendo seu percurso em um som fluído. O doce e o suave cantar dos pássaros saindo de encontro aos meus ouvidos. Suspirei com tranquilidade, ciente de que só momentos como aquele poderiam realmente me fazer sentir completa.

Mas como de costume, fui interrompida da minha absorção particular com um barulho vindo do lado de fora do bosque. Caminhei rumo à direção contrária deixando para trás os arbustos e os pinheiros que outrora me cercavam. Aproximei-me da saída do local e os meus olhos prontamente começaram a procurar algum tipo de sinal. Estreitei-os quando finalmente vislumbrei algo que poderia ser explicativo. Na vista da Campina, uma carruagem e alguns cavalos na porta de casa se estabeleciam de maneira reluzente, certamente não eram da região, pois a mesma esbanjava adornos requintados e luxuosos, não era como os típicos veículos de madeira velha que circulavam por Golden Fox. Os cavalos eram de raça nobre e o brasão na porta dourada era da capital; Vêrmenia.

Somente a menção da cidade imperial, era o suficiente para fazer meus ossos se atrofiarem.

Mesmo mediante as dúvidas, os meus passos foram como ímãs de encontro a carruagem estranha, o que me fez em consequência deixar para trás a paz e o bosque por completo. Guardei meu arco nas costas e mexi os punhos, ingressando no caminho de volta para casa, uma propriedade modesta no campo há alguns quilômetros da pequena cidadezinha de Golden Fox, um mero flagelo sobre o mundo que pertencia a minha família por gerações.

A estrutura antiga ficava há uns vinte metros acima do celeiro e dos estábulos. Era de madeira como todas as outras casas do Sul costumavam ser, de dois andares ela esparramava-se por uma ampla área, na suposição de quê, mesmo com tempestades, parte dela talvez continuasse de pé. Em toda a sua volta crescia o mato, naquela época do ano inteiramente coberto de ricas flores amarelas; vermelhas, junto à relva da região. Nem mesmo em pleno inverno, quando a geada persistia, a relva se amedrontava. Além da casa, estendia-se uma planície ondulada perfeitamente verde, salpicada de milhares de pequenos vultos, cor de creme que chegando mais perto, via serem carneiros. No ponto em que os morros curvos recortam o céu azul-claro, uma grande montanha sobe dois mil metros de altura, enfiando a cabeça entre as nuvens, as vertentes ainda alvas de neve, com uma simetria tão perfeita que até os que o viam todos os dias, como eu. Nunca deixaram de se apaixonar.

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