capítulo 23 (✓)

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"Os Ferros eram conhecidos por seu sangue como a escuridão da noite. A habilidade de manipular sombras e engolir o mundo. E a  prevalência de não se dobrar a nada, nem ninguém."

V I C T O R I A

   Acordo perdida no tempo, presa na ressaca de um veneno estúpido, e é por causa desses efeitos colaterais que me levanto com dificuldade, lutando contra prós e contras para espiar através do feixe da janela o movimento do jardim. Guardas preparavam cavalos e os convidados se movimentavam com suas roupas de montaria, o céu nublado era outro acréscimo para a identificação do que era aquilo.

— Eles vão caçar, não é? — pergunto a Helena.

Minha criada me olhou de esguelha assustada, ela se aproximou cautelosamente, como se eu fosse um animal selvagem que a qualquer sinal de alerta poderia mostrar as garras e atacar.

— Milady, sinto muito, mas deve descansar. Não deveria estar de pé.

— Não sou inválida, posso muito bem sair da cama. — rosnei, como o animal que pensavam que eu era.

Estou de costas, mas escuto um nasalar rendido, o sopro de uma respiração fragmentada.

— A senhorita dormiu por uma noite e um dia inteiro. Todos foram ao anfiteatro ontem, hoje os reis de Lunar, o comandante, os conselheiros e suas famílias vão caçar. Mas Lorde Owen deixou bem claro que minha senhora não está convidada, o milorde ficou muito preocupado e  envergonhado com a situação do jantar. Ele quer que a senhorita descanse.

— Céus! — eu estava farda de todos me tratarem dessa forma, até mesmo Owen, ele deveria saber que eu era alguma coisa além do que seu peão. — Pouco me importa a vergonha dele, fui envenenada e ninguém exceto a pessoa que odeio acreditou em mim. — era humilhante Ben Cleveran ser o único a crer na minha palavra.— Prepare minha roupa de caça.

— Minha senhora..

— Não Helena. — viro no súbito. — Owen me trouxe para o palácio porque esperava que eu me tornasse uma ferro de verdade. Portanto, se é uma escura que ele deseja, é uma escura que ele dera. Não vou aceitar que ele me prenda apenas porque acha que tem algum poder sobre mim, ninguém mais vai ter essa opção, eu não posso deixar que tenham, que me mantenham sobre seus grilhões outra vez. Isso não vai acontecer.

Helena assente e embora seu trabalho fosse me manter trancada naquele quarto pelo tempo que fosse ordenado, um brilho pulsa seu olhar; orgulho.

— Sir Ben não deixará que a senhorita passe daquela porta.

— Vamos pensar em algo. — digo-lhe com um sorriso, esperando que ela acredite. — Hoje é o dia de levar os mantimentos para Vêrmenia, não me importo com essa caça, mas com certeza me sinto péssima por perder as doações, temos trabalhado tanto para organizar os lotes de alimentos.. Seria desanimador se perdêssemos isso.

— Vamos conseguir milady, tenho certeza. — Helena diz, embora tenha tido uma vida difícil, é espontânea com seu afeto de uma forma que somente algumas pessoas especiais conseguem ser.

Estou vestida com o traje de caça minutos depois, uma calça de couro e uma túnica, as botas altas e pretas estão nas minhas mãos prontas para serem calçadas, mas acabo perdendo o foco, concentrada demais em um plano alternativo de fuga para calça-las, o desconecto só vem após um clic na parede que me faz erguer a cabeça e dar um pulo para trás. Helena me olha assustada e caminha rápido na direção da porta para chamar por Ben, mas eu ergo minha mão para detê-la antes disso, levo o indicador aos lábios e peço silêncio conforme observo o papel de parede se mexer estranhamente.

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