Rainha de Ferro

capítulo 60 (✓)

"O mundo nunca esteve pronto para a magia das sombras, e talvez nunca esteja"

V I C T O R I A

O sabor do sangue tomou minha boca. Torci o pescoço, em busca da minha espada, ao instante em que vejo um tênue clarão.

Lisa pode controlar a magia dela mais do que eu posso, talvez eu devesse ter feito aquele acordo quando ainda tinha tempo, mas agora isso, a carnificina aos meus pés e o sorriso vitorioso no rosto dos conselheiros é tudo o que eu mais temia se concretizando bem diante de meus olhos. E não posso me mover, não posso combatê-los, cada nervo está inerte ao saber que apesar de tudo o que fiz, tudo o que sofremos, ainda falhamos. Eu falhei.

Além da minha visão distorcida capacetes amassados repousavam tortos, assim como armaduras igualmente arranhadas e corpos que resmungavam ao chão, o rosto dos homens que estavam na primeira fileira de combate discerníveis no metal prateado, a pele humana totalmente mortal comparada ao metal.

Monte Rock estourou em caos no térreo. Eu vi quando os reis e os conselheiros atravessaram o portão caído invadindo como formigas, saqueando e destruindo, a estrutura completamente congelada, como se Lisa tivesse o poder de promover o pior dos invernos com a ponta dos dedos. Durante aqueles segundos em que estive paralisada no chão vi tudo ao redor desabando enquanto não tinha forças para fazer nada, sequer sinto o meu corpo. Eu só queria viver. Encontrar uma forma de salvar a todos e VIVER. É tão horrível eu também querer me salvar? É um pedido tão terrível?

Zoe estava com a perna ferida e um de seus homens estilhaçado pela magia. Olho para o outro lado e vejo que Emerald está inconsciente com o rosto estirado contra a terra, enquanto Mark havia finalmente chegado próximo de nossas famílias, ele os libertou das correntes e pude ver quando respirou fundo, aliviado. Seus olhos correram pela mãe e os irmãos se certificando de seus estados de saúde que pareciam bem comparados à situação. Depois avaliou o pai que abriu um sorriso para ele, Mark era grato até pelos meus tio estarem vivos, mais do que eu conseguiria para ser sincera.

Ele era bom, Mark sempre foi bom.

Lisa que já estava longe se virou devagar como se pressentisse a movimentação, ela abriu um sorriso cruel e encarou Lennis do outro lado que estava de costas concentrado em disparar intrusões para que nossas famílias fugissem. A rainha irritada e disposta a acabar com tudo de uma vez lançou sua magia na direção do coração do meu melhor amigo em um destino fatal. Foi nesse momento em que lágrimas começaram a descer por meu rosto enquanto eu lutava contra minha mente para ficar de pé e resolver, para ficar de pé e salvá-lo. Para ficar de pé e fazer qualquer coisa, qualquer maldita  coisa que impedisse que aquela magia dilaceradora em formato de rompante gélido derrubasse o meu amigo, o garotinho que sempre foi minha família e que nunca me abandonou e o homem que lutava pelos meus tios porque sabia bem lá no fundo que eu queria salvá-los. Entretanto eu não pude fazer nada rápido o bastante ou forte o suficiente, quando ergui o rosto do solo frio, o pai de Mark entrou na linha de frente e recebeu a rajada pelo filho caindo de joelhos com o corpo rígido e a boca se abrindo num gorgolejo. Ele põe a mão no peito, tocando num buraco que lentamente enche o seu corpo com uma cor cinza congelante.

Mark piscou quando esse mesmo poder cobriu o pai o suficiente para fazer seus olhos ficarem arregalados e os batimentos pararem. A confusão do Lennis fluindo pelo rosto em uma torrente que me deixou sem fôlego, presa em algum lugar entre gritar e chorar.

— Não, meu pai não. — Mark caiu de joelhos berrando e eu me ergui, chocada demais, fraca demais. Cerro os punhos para evitar que meus dedos tremam e dou um passo adiante, observando cada membro meu resmungar contra o ato.

Vi a situação com olhares ágeis e atentos, e, ao fazê-lo, o choque se enrijeceu em algo parecido com determinação. Canalizei todas essas energias, sentimentos esmagadores como os do dia em que afundei no lago em um objetivo.