Rainha de Ferro

capítulo 47 (✓)

"Pânico se transforma em sede de sangue, quando a vingança entra nas veias"

                                      B E N

Seus olhos se abrem, azuis, tão azuis que queimam. Quero ficar com ela, mas tudo se quebra quando a enxergo, o que vejo é assustador, é mágico, e é fatal.

ههههه

V I C T O R I A

Ele queima, nada queima como o frio. Mas só durante algum tempo, depois penetra no corpo e começa a enchê-lo. Com o tempo já não se tem forças o suficientes para combatê-lo e sucumbir se torna a única opção.

A princesinha perdida, a jovem Ferro órfã insegura, cheia de receios e traumas, corroída por uma vida de incertezas e traição. O sangue era nobre mas o espírito não era de uma Rainha de fato. Essa garota havia sido morta, congelada em um lago numa floresta esquecida, com todos os seus sonhos e receios ancorados no fundo.

Pisco.

Tudo estava tão claro.

Agudo. Definido.

Um raio escuro, uma ondulação emanou, faíscas inegáveis correram um metro inteiro me fazendo levantar no subido. Minhas mãos estavam envoltas por faíscas e névoa preta e cinza quando olho para baixo, pequenas chamas de cor ferro que rodopiam e queimam as falanges dos dedos. Eu podia sentir o controle do meu corpo voltando para mim com incrementos, e esses incrementos eram o que faziam a minha pele inteira queimar. Eu nem tinha noção, mas agora me dava de conta de que durante aquele tempo na escuridão, todos os meus ossos, todo o meu sangue e todos os meus músculos estavam lutando, batalhando enquanto algo dentro de mim se forjava, queimando, e derretendo, e se escaldando.

Eu poderia contar as respirações que ofeguei pelos meus dentes.

Eu continuava a ficar forte, meus pensamentos mais claros. Quando pequenos sons apareciam, eu podia escutá-los claramente.

Giro as mãos e as pernas sem muito jeito, no momento em que o faço um calafrio me impulsiona, ele corrói minhas veias e artérias. Aqueles fios que se transformavam em sombras dançavam junto com as batidas do meu coração e enchiam o meu corpo vazio. Eu fiquei momentaneamente preocupada pela forma como meu corpo se moveu, mas ainda assim ergui o meu braço, fazendo a porta de ferro entrar em decomposição instantânea, ela foi sucumbida, queimada. Não faço ideia do que aconteceu.

Grito quando vejo o que fiz, quando compreendo que transformei ferro maciço em pó com um movimento. A força das minhas cordas vocais me fazem bater as costas na parede atrás de mim, o impacto arqueia minha coluna com tanta força que juro ver estrelas.

— Isso não é real. — protesto para o que acabei de fazer. — Não é. — coloco as mãos na cabeça e nego com força.

— Toria.

Eu dei um giro tão rápido que a sala deveria ter se tornado um borrão incompreensível, mas isso não aconteceu. Eu vi cada partícula de poeira, cada parte de Ben parado do outro lado da sala compacta me encarando, seu rosto está pálido e os olhos surpresos, como se acabará de ver uma aberração criar forma.

A maior parte dos meus sentidos e minha mente ainda estavam focados no rosto de Ben Clevaran. Em seus lábios, em seus olhos, em cada detalhe perfeito e lindo do seu corpo, mas a outra parte de mim estava tensa, encarando as minhas mãos trêmulas. — Eu machuquei você?