capítulo 36 (✓)

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"Quando você dá um passo para frente, alguma coisa sempre fica pra trás."

V I C T O R I A

À luz da lua atravessa o casaco que cobre minha camisola quando saiu das passagens, cintilando, a madrugada trazia um silêncio diferente para o castelo permitindo que minha mente pudesse se corroer em chamas, a votação seria amanhã e ainda não estou me sentindo pronta para o que tiver que acontecer. As palavras dos conselheiros flutuam diante dos meus olhos, queimando minha alma.

Aconchego as cartas e os pedaços de jornal de Lady Amelia no bolso interno do meu casaco, perto do coração. Mas, antes que consiga chegar a Owen para mostrar as suspeitas da duquesa, Daaniel me encontra, ele olha para mim: um ponto perdido nas sombras, como se eu fosse um quebra-cabeça perdendo todas as peças da borda. Obviamente, ele ficou surpreso de me ver perambulando pelo castelo aquela hora da noite, não que eu pudesse culpá-lo. Eu imaginei que ele teria perguntas, e antes que pudesse cogitar se iria mesmo respondê-las ele me encurrala numa sala próxima fechando a porta de madeira atrás de nós e me pressionando contra a parede.

Seu abdômen está contra mim e sua cabeça inclinada para baixo me encarando. Não há luz no cômodo, mas a janela sem cortinas mostra um céu estrelado que ilumina seus olhos esverdeados e sua pele amêndoa. Daaniel pode ver o desconforto em meu rosto, não importa o quanto eu tente esconder.

— Você está brava comigo — ele diz. Não é uma pergunta.

— Não estou.

— Não minta pra mim Toria, não suportaria saber que tenho mais alguém na lista para não confiar. — ele lamenta, sua voz está embargada e ele parece levemente bêbado. — Eu não consegui dormir pensando no amanhã, não sabendo que.. — Daaniel passa a mão nervosa e trêmula sobre o rosto e os olhos vermelhos. Ele estava péssimo. — Sam deveria ser rei, ele meu melhor amigo. Não eu, e ainda por cima não com Emerald.

— O quê Emerald tem haver com isso? — questiono confusa. Mas não quero parecer defensiva, pelo menos não até descobrir se ele estava bravo ou perturbado ou... chateado.

— Ele amava ela. — seus olhos brilham, um segundo depois e vejo que são lágrimas. — e ela amava ele. Tem ideia de como me sinto sendo a substituição do meu melhor amigo? Se eu ganhar vou ter o castelo, a garota e a coroa dele. E eu me sinto um merda. — Daaniel hesita contraindo um músculo do rosto. — Preciso que ganhe Toria. Preciso que faça isso para libertar não apenas Allen mas para me libertar também.

Estou acostumada com o fato de Daaniel ser mais alto que eu. Nesta noite, porém, ele parece menor e mais fraco. É um garoto comum com medo e luto. Havia tanta tristeza nos olhos dele. Aqueles olhos verdes agora estavam escuros e vazios, sem esperanças. Havia um ódio por si mesmo misturado ao pesar, e uma condenação amarga, Daaniel estava preso.

— Dias atrás você me beijou — ele continua melancólico. Sinto uma pontada no coração; a dor em sua voz me fere.. — Agora não consegue sequer me olhar.

— Sinto muito. — admito com mais verdade do que imagino, pensei que tivesse superado ele mas parece que apenas alguns dias não eram o suficiente. Por um momento me perguntei se algum dia seria. — Ei..

Coloco ambas as mãos em volta do seu rosto desolado, acariciando suas bochechas e sua mandíbula com o deslizar de meus dedos, mudando seu foco para mim. A pele dele é quente e traz calafrios que me prometi esquecer, mas que mesmo assim meu corpo reage, como se fosse uma memória sensitiva.

— Você vai ficar bem Daaniel. — sussurro. — Todos nós vamos.

Ele assentiu, os olhos quase cegos, mas ainda firmes, quando me dei conta Daaniel caiu de joelhos enterrando o rosto nas mãos. Inevitavelmente eu o abracei enquanto o via ser tomado por lágrimas. Eu segurei seus ombros, puxando-o para meu colo. Ficamos assim por um tempo até ele se recompor e decidir levantar ainda meio tonto.

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