capítulo 6 (✓)

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"Diga-me agora, quem você vê quando olha no espelho?
Um Ato, uma Verdade, ou mais uma mentira?"

V I C T O R I A

  Minha mãe tinha asma desde a infância, e sofreu quando eu tinha apenas cinco anos de um forte surto de pneumonia que para quem tem alguma doença respiratória — que era o seu caso — poderia ser ainda mais fatal. As condições em Golden Fox para a saúde eram precárias, nada além do básico para a população, o que me faz crer que ela não tinha dito muitas chances, afinal. A evolução do seu quadro foi tão rápida e comprometedora que antes da família considerar o Norte como a sua salvação, Amberly já estava morta.

Meu pai desde então entrou em uma profunda depressão, na época eu não enxergava exatamente como ele estava mal e calejado com a dor que corroeu os seus ossos tão profundamente. Mas hoje, mais velha e ciente, eu tinha noção de que ele desfaleceu aos poucos com a morte de sua amada. O que, em consequência de oito meses, também trouxe-lhe a sua. Seis anos. Era essa a idade que eu tinha quando me tornei órfã e meus tios, mais por falta de opção do que por escolha, me acolheram.

Desde então eu aprendi que meus pais não só morreram fisicamente mas também tinham que morrer dentro de mim, eu não os conheço, não ouvi nada sobre eles, ou sobre quem eram de fato. As lembranças de minha mãe e pai, seus rostos e o som de suas vozes desapareceram com o passar do tempo. Eles foram mantidos para sempre no meu passado, meros fantasmas de quem eram antes. Ideais de quem eu gostaria que fossem, que nunca serão.

O pouco que eu sabia era devido à mãe de Mark, ou meu Tio Germano que vez ou outra quando muito aéreo contava-me relatos sobre as pessoas que me fizeram, detalhes sinuosos, quase insignificantes, pedaços minúsculos de ideias em que eu me agarrava. Obviamente sempre sem a aceitação de minha tia, sei que para ela era difícil lidar com a perda de seu único irmão e ainda por cima ter que conviver com a lembrança viva dele todos os dias perambulando pelos corredores de sua casa. A consequência de duas pessoas com fins trágicos de pé, brilhante e com detalhes vívidos.

Ainda assim ela havia me criado independente das circunstâncias e eu tinha que ser grata, certo? Bom acho que sim. Pelo menos era o que eu costumava dizer para mim mesma antes de descobrir que tudo que eu acreditei, vivi, e me tornei era uma grande mentira, afinal quem era a minha família? Quem eu era?

Admito não ser a pessoa mais fácil de se lidar e não culpo ninguém à minha volta por isso, ninguém além de mim mesma tem culpa do que me tornei, mas eu acredito bem lá, no fundo, onde guardo resquícios de egoísmo, que não mereço isso. Não mereço sentir essa dor que invade todo o meu ser e me transborda com o seu vazio. Não é uma dor de medo, ou de raiva. Era decepção, e essa palavra tem um poder enorme de destruir você.

— Toria querida quero que nos perdoe, Eliz tem razão! Sentimos muito, de verdade.. — Germano disse quando finalmente alcançou meu olhar submerso. Não chorei, não gritei, nem me movi, meu corpo estava intacto, dormente e anestesiado.

— Toria fale alguma coisa pelo amor de Deus, você está me enlouquecendo! — Eliz disse entre um turbilhão de mágoa e rancor. Imagino o quão doloroso foi para ela recordar da morte de seu irmão e ter que pronunciar tudo isso em voz alta, não somente para mim, mas também para aquela parte si mesma que se negava a acreditar, na verdade.

Mas a realidade estava bem ali diante de nós. Antes uma película frágil e transparente, agora uma parede sólida e firme. Totalmente palpável e indestrutível. Poderosa e real.

Suas mãos tentavam controlar as lágrimas teimosas que escorriam pela sua face, respirei fundo buscando o meu autocontrole, não importava o que eu estivesse sentindo, Eliz não teria estrutura para me ver enlouquecer naquele momento.

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