capítulo 33 (✓)

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"Existem muitas coisas das quais não se sabe, muito sobre lugares diferentes onde as pessoas ainda lutam pelo o que acreditam."

                                     L I S A

                           2 semanas antes..

Lucca e eu gritamos depois de roubar os cavalos daquela fazenda e fugir para as sombras das árvores. Gargalhamos e galopamos em uma necessidade primitiva de acreditarmos em nossa fuga. Meu vestido voava atrás de mim, agora flutuando para uma vida de incertezas, mas que me assustava bem menos do que a vida cheia de certezas que eu tinha antes.

Era uma vida comandada por mim, apenas por mim.

Perdi a noção do tempo. O ritmo dos cascos era a única coisa que importava, cada batida deles no chão ampliando a linha de separação da minha antiga vida. Eu e Lucca cavalgamos por um longo tempo seguindo pela floresta a oeste de Allen, cada vez adentrando mais profundamente nas densidades ocultas da mesma. Minha mão suja segurava a rédea há tempo que eu já não sentia mais o seu toque, e minha pele ardia à luz aquosa do sol, já minhas pernas estavam enrijecidas e doloridas, mas eu não podia me dar ao luxo de relaxar, não quando o caminho pela floresta era tão íngreme, cheio de rochas e raízes, e encostas de colinas que eu precisava desviar.

Depois de fugir ficamos dois dias de pé, correndo e fugindo com medo de ainda estarmos pertos o bastante para sermos pegos. Ficamos nessa até que conseguimos ver uma fazenda e decidimos roubar esses cavalos, precisávamos deles ou nunca chegaríamos no sul antes de sermos capturados. A rota era a mesma, nunca ousamos ir para os vilarejos ou para as estradas com medo de sermos encontrados, nos alimentamos de frutas e das caças que Lucca fazia e éramos muito cuidadosos com as fogueira para evitar não deixar rastros de nossos passos.

A floresta era perigosa, fermentada por ideias da existência de animais selvagens, ladrões e bruxas. Mas ainda era mais seguro do que ficar na mira dos homens de meu pai. Fiquei ouvindo com cautela enquanto cavalgavamos por entre as árvores e procurávamos pelo que poderia ser um provável abrigo, precisávamos descansar e já estava escurecendo.

— É aqui. — Lucca diz e eu desço do cavalo, para dar água a ambos os animais enquanto ele prepara o local para passarmos a noite.

Lucca providenciou nossa janta e depois de comermos, fomos nos deitar juntos, em volta do cobertor roubado.

— Lisa..— Lucca sussurra enquanto de algum modo, tento segurar sua mão, seus dedos se entrelaçam com força nos meus, com certa dor. Ele olha para nossas mãos entrelaçadas, aturdido. Depois, lentamente, seu olhar passa dos dedos para o meu rosto. — Você se arrepende?

— O quê? Você não me coagiu a nada.. Fugi porque te amo e por que quero uma vida ao seu lado.. — acariciei o seu rosto com delicadeza, percorrendo os meus dedos por sua barba rala e pelos ângulos atrativos do seu rosto.

E então eu vi, a angústia despedaçando o olhar dele, como se Lucca simplesmente não pudesse mais lutar. A derrota estava ali enquanto os muros finalmente ameaçavam demorar para que eu pudesse ver o que há por trás deles.

— Estamos há uma semana vagando por essa floresta e eu sei que é cansativo, os guardas devem estar a nossa procura nos vilarejos e cidades próximas, fora os que estão na floresta atrás de nós! Por isso.. — ele diz como se não tivesse me ouvido, Lucca estava à deriva, em seu próprio mundo de infelicidade. — Entenderia se quisesse voltar.. Poderíamos dizer que foi sequestrada e assim teria sua vida de volta. Por que Lisa não importa o quanto eu te ame, escolher estar comigo é aceitar renunciar aquela sua antiga vida, vamos viver fugindo, muitas vezes sem dinheiro algum no bolso, sem comida digna, sem roupas chiques ou bailes extravagantes..

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