capítulo 30 (✓)

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"Eu não me lembrava de qual era a sensação. Mas agora diante dela meu corpo inteiro reconhece o caminho; foi sob essas circunstâncias que eu me perdi uma vez, e agora, eu estava correndo de novo para a escuridão."

V I C T O R I A

Não sei quanto tempo leva, mas eu acordo, estou ainda meio tonta e com um barulho forte tapando os meus ouvidos, o zumbido me deixa em agonia mas mesmo assim crio forças para manter-me de pé.

A minha visão está embaçada, por um instante penso que tem haver com a batida na cabeça que levei, mas um minuto de observação entrega que estou enganada: meus olhos não enxergam nada porque a casa está sucumbida pela fumaça! Ainda sem entender, começo a tossir e a caminhar meio bamba de volta para onde eu acho que seja o salão, me esforço um pouco para ver o que está acontecendo através da neblina, mas continua sendo inútil tentar visualizar um palmo à frente dos meus pés.

Começo a perder o ar girando em meio a círculos de confusão, buscando por respostas que não encontro nos lados, tentando entender de alguma forma como em um piscar de olhos tudo se transformou em caos. Mas as respostas não chegam a invadir minha mente, elas evaporam antes que eu seja capaz de racionalizar suas existências. Estou prestes a enlouquecer quando uma luz irrompe do segundo andar, não era o sol, ou qualquer outro tipo de fonte de iluminação rotineira, era uma explosão brutal. Um fogo alto e reluzente que destruiu o andar superior e fez das tábuas de madeira da estrutura pó, a escada que leva até lá está destruída e os alicerces estalando pela corrosão próxima.

Não.
Não.
Não..

Com uma dor instalada no peito vou até a porta principal e tento abri-la, mas é difícil conseguir liberar a pressão que o fogo causou nela. Eu não vou conseguir sair...

— Socorro! Socorro! Socorro!

É inútil bater, ninguém me ouve. A dor se prolifera, meus olhos começam a arder e minha boca a secar, estou prestes a pensar que é o fim quando escuto vozes vindas do outro cômodo.

— O quê está acontecendo? — pergunto ao ver duas mulheres protegendo uma dezena de crianças, elas rezam em meio ao choro múltiplo e a agonia.

Existem cinco corpos estirados ao redor delas, três de adultos e dois de meninos com menos de sete anos. Respiro fundo e me obrigo a sustentar o olhar delas em vez de gritar da maneira que quero tanto fazer.

— Você é uma nobre, não deveria estar aqui..— Uma delas diz me olhando incrédula.

— Ninguém deveria. — rebato, sua vida não era menos valiosa do que a minha, não deveria ser.

— Muitos dos funcionários estavam lá fora na festa quando o incêndio começou, e os poucos que estavam aqui dentro tentaram sair depois da explosão, nós tentamos também, queríamos sair com as crianças mas as portas estavam todas trancadas e as janelas cobertas por fogo. Muitos já morreram tentando escapar... porque é impossível. — a outra mulher diz soluçando. — Do lado de fora não estão conseguindo apagar o fogo rápido, vamos morrer sufocadas antes que eles consigam entrar, eu acho que não sabem que tem gente viva aqui dentro... — a jovem diz entre lágrimas, sua roupa está coberta por cinzas e fuligem enquanto algumas crianças se prendem em seus trapos para tentar escapar do fogo.

— Vamos tentar derrubar alguma das portas então... — proponho ainda sem poder acreditar.

— Se tentarmos arrombá-las a casa pode desmoronar em nossas cabeças antes que tenhamos a chance de fugir.

Meus joelhos quase se vergam e preciso agarrar na parede para me apoiar, apesar de tentar disfarçar.

— Vamos quebrar a janela então. — aponto para o vidro do outro lado. Pego um dos pedaços de madeira que estão no chão e avanço na direção indicada.

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