"Vento não assusta quem tem asa"
V I C T O R I A
Os sapatos apertam meus dedos enquanto eu ando ruidosamente, subindo a estrada em direção à casa. Cortando pela cerca dos Lennis caminho entre a grama e o mato alto, passo pela casa de Mark em minutos. Sua mãe, Clarissa, me vê através da janela, onde está curvada sobre a pia da cozinha. Ela enxuga as mãos no avental e desaparece para surgir na porta erguendo os braços para me cumprimentar de longe, e pedir que me aproxime.
Eu gosto da Clarissa. Respeito-a. O marido dela passa a maior parte do tempo fora do vilarejo dentro das florestas, ela passa dias sem notícias, muitas vezes sem ter ideia de que o companheiro está vivo ou morto. A mulher tem três filhos, Mark o mais velho, Ryan de dezesseis, e Caio de dez. E mesmo assim ela era a melhor pessoa que eu conhecia, Clarissa nunca reclamou de ter que criar os filhos praticamente sozinha, ou manter uma fazenda nas costas e ter que fazer doces para suprir quando o dinheiro do marido não vinha e Mark ainda não tinha idade para ajudar como provedor.
Independente das circunstâncias ela criou os filhos para terem um coração grande, disposto a ajudar mesmo que eles não tivessem muito a oferecer.
— Victoria chegou na hora certa, estou preparando um chá. — Clarisse repousou as costas contra o batente da porta.
— Obrigada Sra. Lennis, mas estou apenas de passagem. — gritei, ainda de longe.
— Querida é só um chá, adoraria que me acompanhasse, estou sozinha, os meninos estão na cidade e Mark está no potreiro organizando os animais.
A mulher sorriu amavelmente, e eu reconsiderei no mesmo momento, dando um sorriso bobo e indo em direção à casa. Talvez aquele chá fosse mesmo bom para meus nervos à flor da pele, um anestésico para o misto de sentimentos que estava prestes a explodir dentro do meu peito.
Quando entro, pouco depois do pôr-do-sol, as lâmpadas acesas fazem as sombras dançarem, trêmulas, no teto alto. Caminho com cuidado, notando o lugar de estrutura simples que muitas vezes foi meu aconchego, vou para cozinha onde sento na cadeira perto da mesa marrom.
A mãe de Mark me serve uma caneca de chá de ervas, na qual eu envolvo meus dedos gelados de uma forma grata. — Obrigada Clarissa.
— Ah querida bobagem. — a mulher diz guardando a chaleira no fogão e pegando os biscoitos perto da geladeira. — Como estão as coisas?
— Mark não lhe contou? — estreito as sobrancelhas.
— Conhece meu filho.. — replicou depressa. — Ele não costuma contar as coisas, exceto para você, claro.
Eu não posso impedir a vermelhidão que inunda o meu rosto. É estúpido, claro.
Quase ninguém me entende melhor que Clarissa, ela era o mais próximo de uma figura materna que eu tinha, e sabe do vínculo que compartilho com Mark. Tenho certeza que muitas pessoas achavam que nós eventualmente acabaríamos nos casando, que de fato, éramos almas gêmeas destinadas a ficar juntas. Em partes eu acreditava nisso, exceto pelo matrimônio, a possibilidade de me casar com qualquer pessoa ainda era uma linha distante demais dos meus ideais.
— Aparentemente.. Sou o último membro vivo da realeza Ferro.
Seus olhos levantam, as mãos oscilam e ela se vira lentamente.
— É claro que você é. — Clarissa abre um sorriso tão puro, que faz os meus olhos se encherem de ardência e lágrimas em um curto instante. Ela estava orgulhosa.
Eu engulo todo o meu chá mesmo que esteja muito quente e o empurro pro centro da mesa.
— Não acha isso loucura? Minha mãe poderia ter sido uma Rainha de Ferro, ela poderia ter se tornado a mulher mais poderosa do nosso país. A escolha estava em suas mãos, mas ela não quis e agora, tal fardo se repousa sobre mim.
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Rainha de Ferro
Lãng mạnOs Ferros governam Allen desde os primórdios. A dinastia inabalável fundou o país com magia, e fez do reino a maior soberania do continente de Stór. No entanto com os seus poderes adormecidos, o sangue escuro que rege a coroa começa a perder apoio p...