capítulo 4| (✓)

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   Obviamente meus tios me envolveram com milhares de perguntas sobre o que os tais guardas queriam, ainda assim desviei de todas elas. Uma parte de mim queria contesta-los, queria saber se toda aquela loucura era realmente verdade e que se fosse porque haviam escondido de mim? Mas isso nos levaria a uma discussão, e discussão era a última coisa que eu queria naquele momento.

Então inventei qualquer desculpa para eles e subi para meu quarto, alegando que no outro dia eu conversaria com os mesmos. Não era muito, mas já era algum tempo extra para eu tentar colocar todas essas informações no lugar. Subi para meu quarto, sentindo os ombros relaxarem de alívio por finalmente estar sozinha. Fui direto tomar banho, me livrando da roupa suja de um longo dia, depois voltei para meu pequeno aposento e dei uma geral no mesmo, conseguindo só então sentar em minha cama, olhando em volta com a sensação de dever cumprido.

Uma luz suave emanava do lindo abajur dourado no criado-mudo, e a cama cheia de almofadas me fazia sentir aconchegada. Uma escrivaninha e uma cômoda ficavam uma de cada lado do quarto, e havia um grande espelho oval pendurado na parede ao lado da porta. Vários porta-retratos com fotos dos meus pais ocupavam a cômoda, fotos minhas pequenas, brincando na terra ou dando um sorriso travesso para a câmera. Em uma delas mamãe estava em uma bicicleta azul, sorrindo com lindas flores vermelhas na cabeça, ela poderia muito bem ser da realeza. Tinha os traços para isso, era a mulher mais linda que eu já conheci, com longos cabelos ondulados e castanhos, uma pele bronzeada que a salpicava de rubor e brilho, e olhos azuis vivos, tão claros que poderíamos enxergar toda a felicidade que transbordava através dela. Meu nariz ardeu iniciando lágrimas que eu não pude controlar.

Me inclinei levemente para pegar uma pequena caixa que ficava em cima da mesa lateral, desviando aqueles sentimentos eu abri a mesma, retirando o seu fundo falso e pegando assim todo o dinheiro que eu juntava por anos. Suspirei ao notar que ainda não tinha nem a metade do necessário para ao menos comprar minha liberdade daquele lugar onde as pessoas almejam se casar e viver o resto de suas vidas trabalhando como escravos ou cuidando de seus filhos, e a maioria estava satisfeita com seu destino, mas eu estava longe de me conformar, eu sempre desejei mais, não que eu não fosse grata por tudo o que meus tios fizeram por mim quando meus pais morreram, eu era, realmente era. Só que essa vida estava longe de ser a minha.

— Toria desça aqui, tem alguém na porta à sua espera — fui interrompida com meu tio me chamando, guardei rapidamente minha caixa e vesti o primeiro casaco que vi, descendo as escadas e abrindo a porta logo em seguida.

— Oi anjo. — Mark pronunciou e meus olhos se encheram imediatamente de alegria pura e avassaladora.

Fechei a porta e pulei em seu peito o mesmo me segurou em seus braços e me girou pelo ar, fazendo a brisa fria daquela noite tocar o meu corpo, borboletas voaram no meu estômago logo depois que ele me colocou no chão com cautela, um sorriso involuntário moldou meus lábios com seu ato simples e poderoso. Nós dois morávamos desde sempre em fazendas vizinhas, quando crianças estudávamos na mesma escola e jogávamos cartas todos os fins de semana. Íamos para o lago que dividia nossas casas para pescar com tio Germano, mas ele sempre perdia a paciência com nosso tagarelar que espantava peixes e nos mandava embora. Então eu e Mark íamos catar frutinhas das árvores e brincar de aventureiros pelo quintal. Ele era o único menino com quem Eliz me deixava brincar, e o meu melhor amigo, mesmo agora.

— Você sumiu!— pronunciei assim que sentamos no balanço branco que ficava na varanda de casa.

— Não foi intencional Toria, nesses últimos dias trabalhei sem parar na fábrica, construindo os armamentos que o estado mandou fazer.. — ele sorriu ironicamente, Mark assim como a maioria dos outros garotos de Golden Fox tinha os cabelos castanhos e olhos meís, a pele um pouco desgastada pelo sol, mas com uma boa quantidade de músculos por conta do trabalho pesado que os homens do Sul eram desde cedo criados para fazer, isto quando não eram levados pela guarda, só que mesmo com estas características ele tinha um charme especial e único. Ele era gentil por mais difícil que sua vida tivesse sido, e por mais cabeça dura que fosse, ele ainda lutava pelo que acreditava, com força e coragem.

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