"A escolha costuma ser poderosa por uma razão; depois de feita, não tem como mudá-la."
L I S A
Quando o jantar termina atravesso o corredor implacavelmente, meus pés ressoando pesados contra o piso frio. As janelas oscilam a neblina noturna vinda da costa quando me aproximo do quarto de Victoria.
Eu ainda não podia acreditar que ela havia sido tão irresponsável com o vinho. A bebida não é confiável e naquele momento ela precisava de todas as chances ao seu favor. Como poderia ter se deixado levar dessa forma?
Os minutos voam apesar da névoa no meu cérebro, ou talvez por causa disso.
Me aproximo da porta instantes depois, para minha infelicidade Ben estava na frente. No fundo acho que nunca vou me acostumar a ver ele com um uniforme cumprindo as ordens que não fossem aquelas que ele mesmo criou para si.— Como ela está? — Tento ser educada, mas é nítido que não há camaradagem entre nós.
— Dormindo.
— Deveria ter ajudado ela. — o encaro. — No salão, deveria ter a ajudado, afinal de contas esse é o seu trabalho. — acrescento.
– Hum. — ele dá de ombros. Puxa, foi mal.
Não sei dizer se ele não gosta da minha presença ou se está apenas sem paciência.
— Abra. — chego mais perto da porta. — Vou vê-la.
Ele estreita os olhos para mim, abrindo um sorrisinho cínico enquanto ergue a cabeça.
— Isso não vai acontecer. — Ben estica o braço me impedindo de prosseguir.
— O quê pensa que está fazendo? Eu quero ver a minha amiga, e vou ver a minha amiga.
Ele me olha de soslaio, ainda na defensiva.
— Sua amiga não está em condições de receber visitas e tenho ordens para mantê-la isolada até estar em uma situação mais aceitável.
Dou um sorriso nasalado quando as palavras acumulam na minha boca. — Ordens? De quem são essas ordens?
— Dos conselheiros. Ambos sabemos que perante ao poder deles ninguém contesta.
Ele me desafia, faz porque pode e porque sabe, conhece minha opinião a respeito dos conselheiros, a respeito do meu pai principalmente, Saeom é um conquistador, suas conquistas e o seu poder são fatos, daqueles incontestáveis e agonizantes de tão palpáveis. E eu era uma vítima. Todos nós éramos.
— Eu só estou preocupada Ben, não entendo porquê ela faria isso. Talvez a estadia dela no palácio não tenha sido fácil, talvez ela esteja passando por muitas coisas, muitas mudanças que eu não enxerguei. Eu quero mostrar que ela tem alguém, que ela pode contar comigo..
Os lábios dele se curvam por cima dos dentes. — Talvez se estivesse mais preocupada com a sua amiga, e menos com ficar encarando Lucca Williams durante todo o jantar as coisas teriam sido diferentes.
Não posso acreditar nas palavras que saem da sua boca, a certeza que ele impõe sobre elas me deixa por alguns segundos, paralisada.
— Não sei do que está falando. — afirmo.
— Ah não precisa tentar negar Lisa.
— Acho que a sua parte favorita desse trabalho é poder sempre ficar fazendo fofoca de vidas que não são da sua conta, não é?
Espero o rosto dele ficar pálido, a expressão de alguém sendo desmascarado, mas ele mal se abala. Apenas pisca algumas vezes, como se tentasse encontrar um ponto de entrada na minha raiva. Quando consegue, sorri, mas não tem nada de animador na ação. — Imagina o que eu poderia fazer com tanta fofoca.. consegue pensar?
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Rainha de Ferro
RomanceOs Ferros governam Allen desde os primórdios. A dinastia inabalável fundou o país com magia, e fez do reino a maior soberania do continente de Stór. No entanto com os seus poderes adormecidos, o sangue escuro que rege a coroa começa a perder apoio p...