capítulo 29 (✓)

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"Vejo às luzes piscando do lado de fora da janela, achei que meus demônios estavam derrotados. Mas eles estão apenas dançando na espreita, esperando pelo  momento de invadir."

V I C T O R I A

  No final daquela mesma tarde todos os convidados se reuniram para ver a peça principal do dia, a mesma foi encenada pelas crianças do orfanato de Vêrmenia e arrancou diversos sorrisos de toda a plateia durante a apresentação, a orquestra cuidou da parte musical onde as atuações simples pareceram bobas perto da performance que eles produziram. 

Após o teatro a festa de fato aconteceu, os barris de bebida começaram a chegar em carroças para serem descarregados, servindo a todos que se esbanjaram alegremente da cerveja e do vinho. Com o tempo nobres e plebeus não eram mais uma divisão em questão, todos agora se igualavam a bêbados dançando descalços sobre a luz da lua em meio a uma centena de tochas acesas queimando em combustão.

Mexo meus dedos contra a mesa de madeira, os batendo levemente no ritmo da música, meus olhos também correm como os vestidos das damas que rodopiam, seguindo os passos perfeitos que Emerald e Daaniel dão, já é a terceira dança deles, a terceira punição para os meus sentidos, para a minha imaginação que insistia em me fazer querer estar nos braços dele, sendo ovacionada e guiada como Emerald Cleveran era.

— Quer dançar? — pergunto a Ben.

Eu precisava parar de olhar o casal perfeito como uma lunática. Além do quê eu estava farta de receber olhares estranhos por ter uma parede loira de músculos na minha escolta, era estranho. O calor das tochas e a doçura do vinho poderiam estar afetando o meu julgamento, mas por um momento de insanidade eu quis muito que ele respondesse sim. 

— Eu não danço. — Ben responde firme, sem sequer me olhar nos olhos.

— Eu nunca pedi nada à você.. — argumento, lutando para manter o tom da voz firme. — Além do quê, todos estão bêbados, duvido que você seja pior do que eles em seus estados ébrios..

— Ah, não duvide da minha capacidade em arruinar uma dança.. — comenta ele.

Por puro impulso me ergo de uma vez, deixando a taça de vinho para trás e puxando a sua mão. Me surpreendo ao notar que ela não é quente como a de Daaniel, ou mesmo suave e segura. As mãos de Ben são frias e ásperas como ele.

— Vamos.. vai.. — abro meu melhor sorriso e ele tira o peso dos pés deixando que o conduza para o centro.

Os passos dele são duros e desajeitados, nada do que eu esperava ao idealizar uma cena de ciúmes para Daaniel.  Quando a música atingi sua parte mais rápida e eu tento acelerar, ele pisa forte em meu pé.

— Aiii! — resmungo em uma careta que o faz gargalhar. Pela primeira vez estou o vendo sorrir de verdade, sem segundas intenções de deboche ou fúria. — Você é péssimo!

— Essa doeu..— ele leva a mão ao peito em uma cena melodramática. — Primeiro você tenta me atingir com uma flechada no coração, depois me faz pensar que foi sequestrada no meio da noite me fazendo imaginar que eu seria punido por não tê-la protegido, e agora fere o meu ego?

— Ah por favor, seu ego é forte o bastante para não ser ferido. Nós dois sabemos disso..

Ele sorri e começa a divagar, os olhos passeando pelo salão como se tivesse medo de olhar pra mim.

— Está me usando para fazer ciúmes nele, não é? — seus olhos me acorrentam.

Estamos nos movendo devagar, em algo fajuto que se assemelha aos complexos passos de dança.

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