capítulo 41 (✓)

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"Estava diante de um mar impiedoso com ondas obscuras. Os sonhos de lar e amor estavam a protegendo da verdade, mas agora que foram tomados de si. O que lhe manteria a salvo?"

                                V I C T O R I A

    As horas passam, uma sequência rápida de um vazio sem fim. Preenchido por diferentes ângulos de luz e por uma pedra fria e úmida. Tudo estabilizado por pedaços de sanidade e por orações em meus pensamentos.

Olho para o banco surrado e cinzento na extrema ponta do cubículo, mas não ouso sair de onde estou no chão para ir até lá e sentar. Não fiz desde a noite passada quando me jogaram aqui, não consegui sequer me mexer, pelo menos não com a possibilidade de Ben estar realmente morto por minha causa. Ele havia me avisado para fugir, mas eu não quis obedecer e agora eu estava presa, sozinha. E ele provavelmente morto, ou vivo e muito encrencado. O testamento de Amélia é a única coisa que tenho, lá há algumas propriedades já em meu nome e uma quantia que poderia me ajudar a financiar um exército para a guerra mas de que nada me adiantava naquela cela esquálida.

Fico olhando as grades de ferro na porta para me manter sã. Também murmuro uma antiga canção, uma que minha mãe costumava cantar quando eu ainda era pequena. Eu não sabia muito bem a letra mas não importava, meu esforço era em tentar imitar a voz da mulher que me deu a vida, um som sussurrante, doce e delicado, que em minhas notas saiam falhados e roucos, nem um pouco como eu me lembrava. Com o tempo para de tentar e começo a chorar. Choro por Mark, por Amélia, por meus pais, pela família que não conheci e morreu, choro por todos que perderam a vida ontem e pelos os que ainda haveriam de perder, me atrofio em culpa e luto até que os passos de vários soldados descendo a escadaria em espiral soam em ecos pelo corredor que leva até minha cela.

O barulho fica cada vez mais próximo, o ritmo retorcido, os escudos rangem e por um milésimo de segundos posso ver o brasão das casas Astor e Cleveran brilhar, o leão e o lobo.

As portas com grades da salinha minúscula e escura se abrem, por um instante o mundo desaparece em um branco ofuscante, mas eu estreito o olhar, pisco, e consigo voltar a enxergar. Meu olhar marejado encontra os emblemas cintilando nos peitorais dos soldados, as mãos enveludadas descansando nos cabos das espadas.

— Amarem ela nas correntes! — Saeom ordenou neutro, sua forma cínica e natural de lidar com situações como aquela só me gerava ainda mais nojo do ser humano desprezível que ele era.

Engoli em seco e mantive o olhar baixo, o mundo é um borrão e eu não consigo pensar.

— O quê você quer de mim, Saeom? O quê eu te fiz? — grunhi quando o guarda fechou meus pulsos nos grilhões e se afastou em direção a saída.  — Você já tem o que sempre quis não é, Daaniel um dos seus e Emerald a filha de seu maior aliado no trono, então por que ainda sou relevante para você? Pensei que não me achava uma ameaça..

Intensifique a última parte e consequentemente isto lhe chamou a atenção, o mesmo não hesitou ao se aproximar de mim.

— Não seja covarde garotinha.. — seus dedos ásperos tocaram meu queixo erguendo minha cabeça para diante de si, virei bruscamente minha face com o seu toque repugnante. — Você quis entrar no jogo do poder lembra? Eu lhe dei uma oportunidade de sair ilesa. Mas você tinha que fazer seu showzinho no funeral mostrando seu sangue, não é? Tinha que bancar a heroína e lutar ao lado de rebeldes.. — seu sorriso saiu seco, o som era como um martírio aos ouvidos. — Lide com as consequências de seus atos, ninguém fará isso por você..

Puxei as correntes que estavam presas na parede com força e rugi:

— O quê fez com Ben? — disparei quando o mesmo ousou se retirar da cela.

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