Rainha de Ferro

capítulo 42 (✓)

"Nunca se sabe quem o vento pode trazer."

                                E M E R A L D

     A água da banheira redonda de madeira está quente quando entro. Fico ali até baterem na porta, mesmo a água já tendo se transformado para fria. Ainda assim me nego a sair dos aposentos, me nego a enfrentar o exército que ronda meu quarto e supervisiona minhas ações, a coroação será amanhã e ainda não estou pronta para encarar o mundo lá fora. Não é que eu o tema. Mas a verdade vai me sufocar quando eu sair, quando todos verem que a Rainha de Allen também é a mulher que deixou assinarem o próprio povo nos portões do castelo. O que Sam pensaria de mim neste momento? Certamente Lisa diria a ele que sempre esteve certa; e eu era realmente um monstro.

Eu tomo meu tempo porque ninguém poderá entrar até que eu os permita. Então os deixo baterem na porta até a água enrugar meus dedos. Até a cena do sangue de meu guarda sendo jorrada em meu corpo na varanda desaparecer, mas ela não vai.

— Emerald Clevaran e Daaniel Astor, os novos soberanos.

Mesmo com a proclamação Daaniel parece distante ao meu lado então me recomponho por nós dois. O sorriso de felicidade veio junto com palavras e um passo à frente na direção do peitoral da varanda.

— Todos nós sofremos muito nos últimos meses, e temos presenciado tanta dor.. — levo minha mão ao peito, perto do coração que bate ali, que um dia pertenceu a Sam, antes dele partir e me deixar aos cacos. Hoje eu entregaria aquele coração ao povo que ele morreu amando. — O que eu desejo e prometo ao povo de Allen hoje, e aos lordes que acreditaram em mim e em Daaniel, é um futuro brilhante, misericordioso e próspero..

E foi nesse momento que algo aconteceu. Primeiro uma flecha vinda do horizonte, depois o guarda ao meu lado despencou no chão, reivindicando aquela morte que poderia ter sido a minha. Não sei como acontece, quando percebo meu vestido está banhado por um sangue que não é o meu e Daaniel e Victoria não estão mais ali, Ben me puxa para um canto abaixando meu corpo e me protegendo antes que eu tenha a chance de ver o caos explodir.

— Be-n — gaguejei ao observar o tumulto de lordes e guardas fugindo e correndo. — Quem fez isso?

— O povo. — meu irmão olhou de relance para além do muro, para se certificar do que quer que estivesse acontecendo ali. Depois ele me encarou, Ben ainda estava me protegendo no canto daquela meia parede enquanto o caos se irrompia por todos os lados. Se oferecendo de escudo humano para alguém que não merecia ser salva. — Eles não estão felizes Eme.

— Não sou idiota, sei que não gostam de mim ou de Daaniel. — um suspiro pesado escapou de meus lábios. — Eles amavam Sam e por isso amam ela também..

Não precisei dizer o nome de Victoria para ele entender a quem estou me referindo, ou para seus músculos ficarem tensos e seu olhar preocupante rodar a varanda atrás da garota de sangue escuro com quem ele tem passado as últimas semanas.

— Mas os rebeldes não amam ninguém, querem matar ela tanto quando querem me matar. — o silêncio incomodava minhas entranhas, mas o pior era escutar os gritos e o barulho do exército junto há uma atmosfera tenebrosa que já precedia um futuro cheio de mortes, eu sabia como aquilo iria terminar, seria como da outra vez, os dois lados iriam perder vidas.

— O quê está esperando? Nós dois sabemos que seu dever é protegê-la. Mais do que isso você a busca pelo olhar, você quer isso, quer saber onde ela está e a manter a salvo da maneira que puder..

Ben virou a face para mim, encarando  meus olhos com um sorriso irônico e pretensioso.

— Não posso deixá-la, imagina se quebram a unha da minha irmãzinha? Da última vez, uma criada teve que lavar todos os corredores do palácio por isso.