capítulo 5 (✓)

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"Todo o universo conspirou para que eu chegasse até você."

M A R K

A mãe de Toria morreu quando ela tinha cinco anos, oito meses depois o pai também se foi. Minha mãe dizia que Sebastian amava tanto Amberly que não suportou viver num Mundo em que ela não existisse. Na época eu não compreendia o que era aquele amor tão avassalador; quando você se apaixona por alguém ao ponto de suas almas se unirem. Não entendia na época. Mas depois, eu soube.

Certa manhã eu estava passando de bicicleta em frente a casa de Eliz e Germano quando a vi varrendo a varanda.

Toria usava um vestido de morim azul com saias flutuantes que varriam o chão imaculado, enquanto toda a parte da frente contava com a proteção de um enorme avental branco engomado, que dava a volta em torno do pescoço e se amarrava à altura dos rins num laço firme, perfeito. Os cabelos escuros de Victoria estavam soltos em ondas fechadas, mas eu sabia que à luz do sol o cabelo dela acenderia como o luar, tão negros que brilhariam.

Já havia feito dois anos desde a partida de seu pai e quase três da mãe, mas ela nunca mais voltou a ser a mesma. Sempre estava cabisbaixa pelos cantos.

E para piorar Eliz a maltratava. Victoria não precisava me dizer, eu sabia, mesmo naquela época. A mulher culpava a sobrinha pela morte do irmão, fazendo-a pagar por toda a sua dor.

— Opa senhora Eliz, tudo bem? — fui descendo da bicicleta, caminhando até a tia de Toria que catava as folhas do quintal. — Minha mãe mandou eu trazer essa torta para a senhora. — estendi a travessa para a mulher que sorriu desconfiada. Victoria me analisava no fundo, os olhinhos azuis brilhando enquanto mantinha a boca fechada e as mãos na vassoura..

— Agradeça a ela por mim, Mark. — Eliz bateu no meu ombro em sinal de gratidão pegando a travessa coberta pelo pano quadriculado, embora as suas palavras tenham sido ditas num tom mais objetivo do que agradecido. Toria me dizia às vezes, que sentia uma grande vontade de ouvir a tia rir, mas Eliz nunca sorria.

Ela era a irmã mais nova de Sebastian, uma mulher muito bonita para sua idade, muito loira e miúda, de altura inferior à média, mas de rosto duro e severo. Eu costumava pensar que ela deveria viver na cozinha e no quintal, porque era onde eu sempre a via. Aquela altura suas botas pretas e rijas já deveriam ter traçado um caminho circular do fogão à lavanderia, da lavanderia à horta, da horta aos varais e dos varais de volta ao fogão. Era uma mulher calada, desafeita à conversação espontânea. Ninguém nunca soube o que ela pensava. Na vizinhança os mais velhos diziam que ela era seca, por dentro e por fora, tão cheia de amargor que nunca conseguiu gerar um filho, e nem o faria.

— Sabe.. — a chamei de volta no impulso. — Minha mãe perguntou se poderia emprestar Victoria essa tarde, é que eu e meus irmãos vamos ajudar Seu André na colheita e ela precisa de ajuda com as guloseimas.

A mulher parou no meio dos degraus de madeira que a levariam para casa. Seu olhar estreito oscila entre mim e Toria, depois suas mãos seguram a barra da saia flutuante.

— Pode sim, é bom que assim essa garota aprende a fazer alguma coisa que preste com a sua mãe. Ela não sabe nem varrer direito. — disse a mulher em um tom cansado de decepção. Então entrou, sem olhar para trás.

Toria desceu os degraus chegando até a minha direção com as mãozinhas presas uma na outra. Caminhamos juntos até a direção da bicicleta jogada perto da cerca.

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