capítulo 14 (✓)

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"Somos seres adaptáveis, capazes de superar tudo. Exceto a morte."

V I C T O R I A

O próximo suspiro veio com a certeza do fim. Inalei aquele ar na espera da dor que viria, mas ela surpreendentemente não chegou, para minha hesitação um sopro de vento trouxe passos.

— Oi.. Eu a vi vindo para cá e.. — O homem da noite anterior no jardim estava ali bem diante de mim, seus olhos se arregalaram ao ver o corpo do guarda caído, o sangue fresco jorrando do uniforme, e eu, o vestido requintado manchado por sangue e os olhos vermelhos de lágrimas, o homem da lâmina no meu pescoço me puxou mais para trás quando o outro encapuzado pulou em cima do moreno que me encarava, e eu gritei um aviso.

O garoto pardo ergueu rapidamente a espada que estava em sua cintura contra o encapuzado, sua destreza trouxe um alívio para minhas pulsações aceleradas, ele lutava bem e foi com todo esse treinamento e força que se defendeu dos ataques incisivos vindos do rebelde.

O estranho trouxe a lâmina fria para mais próximo da minha pele e aquela quantidade de sangue do pequeno ferimento que continuava a sair deveria ser a razão da minha visão começar a turvar.

O garoto do jardim era alto e eu sabia que se estivesse mais próxima estaria vendo sua barba que começava a nascer, os olhos dele eu me lembrei, era o tom mais pacificador e calmamente de verde que eu já havia visto, eu deveria saber seu nome, conforme ele protegia sua guarda do inimigo e fazia as lâminas das espadas tilintar eu só pensava que deveria saber o nome dele.

— Vocês não têm muito tempo, larguem a garota e fujam enquanto ainda podem. — ele disse com sua voz firme. — Os guardas vão chegar e serão só vocês dois contra nós. Está acabado, não vão sair com ela, ou saem vivos, ou saem mortos.

— Nunca! — O homem que me segurava urrou. A voz dura, subindo como o estalo de um chicote.

O garoto levantou os ombros enfadado, com um golpe certeiro que atingiu a barriga do encapuzado, ele o fez cair, o homem da noite anterior ganhou vantagens e fez o estranho com a lâmina no meu pescoço vacilar. O garoto se aproximou mais impiedoso com a lâmina brilhando o líquido viscoso e escarlate do rebelde contra o luar.

Eu sabia que precisava agir se quisesse sobreviver, com ele por perto eu tinha chances, então reuni todas as forças que ainda me restavam e arranquei o anel pontudo que estava em meu dedo indicador, depois sorrateiramente sem o desconhecido perceber cravei o objeto com toda a força que pude em sua coxa, ele surpreso, se curvou em dor e grunhidos, eu aproveitei do desenlace de seu corpo sob o meu e acelerei os meus passos.

O garoto levantou os lábios e ergueu sua mão esquerda para mim quando percebeu o que eu havia feito, eu corri o mais rápido que pude para quebrar a distância e unir nossas mãos, com o nosso toque sendo atingido ele me prendeu, e me puxou para si, girando meu corpo em um meio círculo para ficar bem atrás das suas costas.

— Bom trabalho. — ele disse, ainda com as mãos me protegendo atrás de si e um sorriso na face por detrás do ombro.

— Isso é patético. — O encapuzado sorriu e investiu contra meu protetor que prontamente se colocou a postos.

Minha mão ardia pelo impacto que causei na perna do estranho, ele era um brutamontes que empunhava a adaga suja do meu sangue nos dedos esquerdos e controlava um facão curvo cheio de deformações que pareciam assustadoramente bem afiadas nos direitos.

Os barulhos das lâminas cortaram o ar, e eu fiquei estática quando o desconhecido passou o facão muito próximo do peito do garoto. Por sorte ou habilidade ele desviou e conseguiu recuperar o equilíbrio. Entretanto, meus pés deslizaram em fraqueza quando segundos após vi o brutamontes atingir o facão no braço do moreno, um pequeno corte na pele musculosa, o desconhecido investiu mais uma vez,  parecia furioso mesmo mascarado e coberto por um capuz, ele derrubou o garoto no chão e com um golpe jogou sua espada para longe do alcance de suas mãos.

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