capítulo 9 (✓)

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   "Um coração de Ferro, com trancas de aço."

V I C T O R I A

  Era dia na fazenda quando me levantei e organizei minhas duas malas na sala, eu não tinha muitas coisas, tudo que era importante estava ali, engraçado notar que minha vida toda poderia caber em duas bagagens. A casa estava silenciosa, a cozinha organizada, as janelas abertas e as lascas de madeira na lareira estilhaçadas, os últimos resquícios da noite anterior em cinzas. Germano provavelmente  estava no campo e Eliz deveria ter ido fazer compras no vilarejo, ou simplesmente estava fugindo de mim.

— Anjo..

Ouço a porta se abrir, desperto de meus pensamentos e de meu olhar fixo naquelas malas e me viro para a voz que eu tanto conhecia e amava, era Mark.

— Pensei que não viria se despedir.

— Ah eu nem queria vir, mas sabe.. Clarissa me obrigou. — seus lábios arqueiam em um sorriso.

— Ah claro, Clarissa pode ser bem ameaçadora quando quer.

— Você nem imagina.

É mais uma respiração do que uma palavra. Ele está avaliando meus olhos. Analisando as malas e as minhas próximas reações, eu coloco minhas mãos no bolso da calça e observo ele se sentar no sofá perto da janela.

— Tenho o dia de folga por bom comportamento. Após despachar você, vou para casa almoçar com a minha mãe e os garotos e depois Ryan Caio e eu vamos pescar.

— Que incrível, você merece essa folga. Manda um oi para todo mundo.

Ele estica as mãos no sofá, o cabelo castanho está brilhando através da luz que vem da janela. Tento gravar sua pele, musculosa e amendoada na minha mente, não quero deixar que passe nenhum detalhe sobre ele, não posso deixar.

— Eu queria que você fosse. Esse é o primeiro dia normal que tenho em muito tempo e não parece certo sem você. — Ele fala com sentimentalismo. E sei como é isso.

— É, seu filho da mãe sortudo, vou ter que viver esse dia com você em pensamento. Não se esqueça disso enquanto estiver comendo a lasanha da sua mãe e pescando naquela floresta com os meninos. 

— Como poderia? Cada merda de galho naquele lugar tem um traço seu.

— Sei que ama. Nem tente negar.

O canto da boca dele se ergueu, mas não há alegria no movimento. — Você nem foi embora e eu já estou sentindo a sua falta.

Preciso me segurar antes que o mundo se incline e eu caia. Inspiro e tremo

— Estou fazendo o certo em ir, não é?

— É claro que está. Você será a melhor governante que esse reino já viu.

— Ainda não é certo que serei uma Rainha. Na verdade, nem consigo me imaginar sendo uma, sabe com toda aquela pompa e responsabilidade, mas só de saber que vou descobrir mais sobre mim e a minha família já é o bastante.

Fecho os olhos quando respiro fundo.
Mas não abro os abro quando Mark se aproxima, me puxa pelas mãos e me traz para si. Não abro os olhos quando ele me abraça forte contra o peito. Não abro quando pequenas lágrimas tocam a camiseta dele. Não abro enquanto ele murmura baixinho e acaricia minhas costas com a palma da mão.

— Você será uma ótima Rainha, anjo. Já posso ver.

Eu fungo.

— Com pompa e tudo?

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