"Duas metades de uma mesma cor."
V I C T O R I A
Meu coração bate lascivamente contra o peito. Os pés simplesmente se paralisam na grama, enquanto meus dedos nervosos escorrem do braço da duquesa.
— Campbell?
— Por isso fiquei tão contente ao saber que existia. Eu não queria que nos conhecêssemos naquele jantar superficial tão cheio de frivolidades e falsas cortesias, então esperei para quando decidisse vagar sozinha por esse palácio e finalmente pudéssemos ter uma conversa particular. Sem tantas testemunhas persuasivas para corromper com suas presenças por perto.
Encontrei pontos negros no jardim, guardas espalhados que vigiavam até o movimento das flores contra o vento. Era óbvio que também estavam atentos a nós.
— Não estamos a sós. — repliquei, e ela olhou para onde minha avaliação estava.
— A partir desse momento criança nunca mais ficará completamente sozinha. Sempre vão haver olhos sob você, a única coisa que pode fazer é se certificar de que eles estejam vendo o que você quer que vejam.
Sua voz era baixa enquanto seu olhar segurava o meu. A repressão na cozinha brilhou como um gesto de compressão, o passeio no jardim para que todos pudessem ver. A Duquesa armou aquele encontro.
— Por Deus..
Amélia sorriu, como se soubesse todos os segredos do mundo, e fosse fazer quantos lances lhe forem necessários para que eles se tornassem a sua arma. E não sua mordaça.
Fiquei quieta alguns segundos, antes de afirmar: — Pensei que todos os Campbells estivessem mortos.
— Bem, você com certeza não está. E, por mais contraditório que possa parecer, também ainda me mantenho de pé. — ela demonstrou divagar. — Sou a irmã mais nova de Valentina Campbell.
Meus lábios se separaram em uma inspiração suave quando nos aproximamos do lago e lembranças da noite passada me queimaram, prelúdios sobre o misterioso garoto que nunca andou descalço. Nosso encontro parecia ter sido irreal até aquele momento, mas o casaco dele nos meus aposentos dizia o contrário. Era estranho pensar que a única pessoa que realmente me fez sentir confortável desde a minha chegada em Vêrmenia era um completo desconhecido.
— Valentina, embora fosse a primeira na linha de sucessão. Foi obrigada a se casar com nosso primo, caso quisesse subir ao trono.
Dispersei aqueles pensamentos sem importância e me voltei por completo para a história de Amélia.
— O curioso e famoso caso dos escuros que não aceitaram perder a sua linhagem e passaram gerações se casando entre si.
— Nossa dinastia se enfraqueceu depois que perdemos a habilidade das sombras. Manter o sangue escuro puro foi nossa única opção para sobreviver como Ferros. Caso contrário já teríamos virado lendas.
— E olha onde estamos? Aqui. Prestes a nos tornarmos exatamente a mesma coisa da qual os nossos antepassados tanto tiveram medo. — comprimi os olhos. — Apenas história.
A Duquesa me encontrou no seu olhar, parecendo relativamente surpresa.
— Valentina se casou com nosso primo de segundo grau afinal, ela era o tipo de pessoa benevolente e altruísta que consideraria casamento arranjado um preço pequeno para estabelecer a nação que tanto amava. — Amélia me convidou a sentar no banco que ficava de frente para o lago e por um momento, nos perdemos naquela vista. — Eu não era tão generosa assim. Me recusei a casar para poder ter a oportunidade de experimentar o que era paixão, e todos os prazeres que a vida poderia me oferecer. Não tive filhos, nem fui um exemplo de princesa. Mas Valentina era o aspecto fiel de governante, dentro de suas limitações como soberana mulher ela cuidou de Allen e lhe concedeu dois herdeiros; Amberly e Freen.
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Rainha de Ferro
RomanceOs Ferros governam Allen desde os primórdios. A dinastia inabalável fundou o país com magia, e fez do reino a maior soberania do continente de Stór. No entanto com os seus poderes adormecidos, o sangue escuro que rege a coroa começa a perder apoio p...