Alguém como Você

08 - Tudo fora de lugar

O ensaio foi pontuado com muitas pausas. A cada dez minutos um dos meninos pedia para parar e pedia notícias do hospital. Exceto AJ. Ele estava magoado. Não perguntou por Ana uma vez sequer. Pouco antes do fim do ensaio, porém, não resistiu à falta de notícias. Aproximou-se da produtora, aliás, a mesma do hotel, que se chamava Marcy.

– Nem precisa dizer nada. – adiantou-se ela. – Quer sair? – ela o viu sorrir em resposta. – Sabe para onde ir? – desta vez ele deu ombros. Ela então tirou do bolso um pedaço de papel com um endereço anotado nele. – Juan. – disse ela, dirigindo-se a um dos rapazes da produção. – Leve esse rapaz pra onde ele quer ir. – AJ deu um beijo no rosto dela e saiu.

Quando chegaram ao hospital, Juan foi saber notícias de Ana, enquanto AJ aguardava em uma sala reservada. Estava um tanto zangado, além de preocupado e magoado. Não entendia por que ela não havia confiado a ele seus problemas. Juan voltava.

– E então?– questionou AJ ansioso.

– Ela está num quarto no sétimo andar. – disse o jovem agitado.

– E como ela está? – questionou AJ esfregando as mãos.

– Muito melhor! – garantiu sorrindo. – O médico disse que ela estava muito fraca, desidratada e precisava de repouso. Disse que ela estava dormindo, mas se você quiser, pode ir até lá e ficar com ela. – AJ não pensou duas vezes em ir até lá.

O chefe da enfermagem recebeu-o cordialmente no andar onde Ana estava, e acompanhou-o até o quarto, deixando-o lá. Ana dormia. Tinha soro em um braço e mesmo com pouca luz, ele conseguia perceber o quanto ela estava pálida e abatida. Ele puxou uma cadeira e sentou-se próximo a cama. Ana abriu os olhos em seguida.

– Oi. – sussurrou ela. Ele estava de cabeça baixa e quando a ergueu, sua expressão não era das melhores.

– Quer me matar de susto? O que pensa que está fazendo? – disse em tom magoado.

– Foi só um acidente. – ela olhava-o quase chorando. – Fiquei empolgada com o ritmo das coisas e não me alimentei direito. Só isso.

– E eu devo acreditar nisso? – ela continuava mentindo, pensou ele. Olhou-a seriamente. – Depois de ver sua reação por causa da imprensa? De ver você abandonar sua maquiagem, cortar as unhas e agora aparecer sem seus brincos? Acha mesmo que sou tão ingênuo assim? – questionou, encarando-a com uma ruga entre os olhos.

– È apenas coincidência. – insistiu ela.

– Não minta pra mim Julia. – ele continuou olhando-a. – Eu amo você, lembra?

Ela engoliu em seco. Não podia contar a ele. Ele não entenderia. Era tão forte e decidido. Mesmo tendo passado por muita coisa, mantivera sempre sua identidade, jamais cedendo às pressões que tanto a feriam e, ela sabia, se ele tivesse consciência do tamanho de sua covardia, ficaria imensamente contrariado.

– Não estou mentindo. Foi só um descuido bobo. Eu juro! Você vai ver! – disse ela forçando um sorriso.

– E quanto ao resto? – ele observou-a ajeitar-se na cama. – Cuidado. – ajudou-a com o soro.

– É só uma fase. Eu sou assim, vivo mudando! – ela tentou sorrir mais uma vez.

– Não faça mais isso. – suspirando longamente. – Fiquei com tanto medo.

– Eu prometo! – sorriu. Ele segurou uma das mãos dela e permaneceram em silêncio.

Permaneceu com ela a noite inteira. Pela manhã levou-a de volta para o hotel. Chegaram muito cedo, todos ainda dormiam. Ela prometera a ele que descansaria. Naquele dia, teriam mais uma série de entrevistas, a passagem do som à tarde e o show à noite. Ela não faltaria ao show, por isso, precisava descansar. Ela demorou a convencê-lo que ficaria bem sozinha e mesmo depois de milhares de promessas, ouviu uma batida na porta.