16 - A um passo.

29 4 4
                                    

Ana passava seus dias, ocupada, na emissora, ou mesmo em seu apartamento. Preocupava-se em arrumar suas roupas e preparar-se espiritualmente para o que viria. O reencontro com os meninos não seria fácil. Precisava estar pronta para tudo, inclusive para a irritante presença de Samantha Keller.

Anne e Roxanne, enfim chegaram a um acordo e na quinta feira, foram procurar por Ana. Ela não estava na emissora, tinha ido para casa, precisava revisar algumas coisas. E foi para lá que as produtoras se dirigiram.

Ana estava revendo antigos vídeos do "Inside" e achando-se ridícula. Ria a todo o momento e percebia-se diferente. Apesar de continuar a mesma, parecia estar mais madura. Não sabia direito o que era, mas tudo o que lhe acontecera nos últimos meses, contribuíra para tal mudança. Mal ouviu a campainha tocar. Estava sentada no chão da sala, rodeada de fitas de VHS, papéis e canetas. Vestia um top amarelo e um macacão jeans – que agora ficava bem folgado nela. Levantou-se para abrir a porta, enrolando os cabelos – que ainda estavam azul – e prendendo-os em um coque com uma caneta.

Abriu a porta e estranhou a presença daquelas duas mulheres ali. Certamente o porteiro tentara avisá-la, mas estava tão absorvida pelo que fazia, simplesmente não escutara o interfone.

– Pois não? – perguntou ao abrir a porta. Roxanne e Anne se olharam.

– Ana Julia Perez? – perguntou Roxanne.

– Acho que sou eu sim. Afinal, esse é o meu apartamento! – Anne riu, Roxanne ficou sem jeito.

– Somos da Jive. – disse Anne – Será que podemos conversar?

Ana olhou-se por um momento. Para variar, nos momentos mais importantes de sua vida estava um lixo.

– Puxa! Estou surpresa! Entrem. – Ana correu na frente delas e em cinco segundos, desligara a TV, o vídeo, e tinha nos braços tudo o que estava no chão. – Fiquem à vontade, eu volto já! – Ana entrou no quarto e fechou a porta.

– Exatamente como você havia dito. – disse Roxanne.

– Ela é tão natural que até assusta! – as duas riram.

Ana vestiu um casaco, trançou os cabelos, retocou a maquiagem e voltou para a sala.

– Desculpem a loucura, vocês me apanharam de surpresa. – sorrindo.

– Bem, essa era mesmo a intenção! – confirmou Anne.

– Vimos você cantando no clube "Felicity" e imaginamos por que uma cantora com seu potencial nunca gravou nenhum CD. – explicou Roxanne.

– Na verdade, não sei se posso ser considerada exatamente uma cantora. – Ana sorriu. – Canto sempre. Desde que me lembro. Mas nunca pensei em fazer isso pra valer, sabem?

– Mas, por que não? – rebateu Anne. - Você é realmente boa! Além disso, soubemos que você compõe também.

– Oh! – envergonhada. – Não! Escrevi duas músicas! Mas poucas pessoas sabem disto e são apenas letras sabem, poesia. Nada sério.

– Será que poderíamos vê-las? – solicitou Roxanne com curiosidade.

Ana suspirou. Levantou-se e voltou até o quarto. Apanhou duas páginas de caderno meio amassadas da gaveta da mesa de cabeceira e retornou.

– Estão aí. "Wild Love" e "Passion". Mas... – Anne não deu tempo para que ela falasse, apanhou as folhas e pôs-se a ler em voz alta.

– Vejamos. Wild Love: "Entre. Venha. Agora estamos sós. Ele chegou ao meu apartamento trazendo apenas suas intenções. Eu lhe disse oi! E ele disse-me vamos? Sua boca em minha pele, eu não estava mais ali. Eu disse-lhe venha! E ele ficou mais perto! Foi uma noite longa. Um amor selvagem. Eu disse quero você e ele disse-me dentro de você! Acordamos a cidade, fazendo amor como loucos apaixonados. Eu disse não pare e ele me disse amo você! Nós nos conhecíamos, nos pertencíamos. Ele disse-me agora é pra sempre e eu lhe disse isso será eterno! Fique comigo. Não pare! Somos apenas nós e nosso amor selvagem." – Roxanne ouvia a letra da canção de olhos arregalados.

Alguém como VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora