50 - Uma longa noite

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A noite estava fria, um vento gelado iniciou-se, mas nada faria com que ele voltasse para dentro daquele ônibus. Não com a cabeça rodando da maneira que estava. Quanto mais longe estivesse, mais sossegado estaria. Se podia dizer-se assim, já que a todo o momento sentia o coração disparar e a cabeça doía demais. Sentou-se no chão, afastado do veículo. Quando deu por si, havia se deitado na areia fria do deserto, braços atrás da cabeça, olhos fixos no nada. Olhando para o céu escuro, sem estrelas. Vazio, exatamente como ele se sentia naquele momento.

Nick finalmente chegou com o mecânico. Animado, entrou no ônibus agitando os braços e gritando.

– Ok, seus preguiçosos, vamos sair. O homem tem que trabalhar lá fora. – alguns rostos zangados se voltaram para ele e, aos poucos, todos deixaram o ônibus.

Dividiram-se naturalmente. Cada qual com seus afins. Os meninos ficaram por ali, próximos ao ônibus. Todos juntos. As meninas ficaram junto com eles. As modelos reuniram-se em torno de Samantha, tais quais mariposas em torno de uma lâmpada. O resto da produção, cansados e com sono, procuraram caminhar por ali. Nunca muito longe do veículo.

AJ continuava no mesmo lugar. Uma ou outra lágrima vinha, seguidamente, embaçar seus olhos e ele então se apressava em passar a mão pelo rosto. Por que aquilo estava acontecendo? Passara toda a sua vida esperando encontrar alguém que o amasse sem recuos, sem reservas e quando acreditava que havia encontrado, via tudo ruir diante sem entender e sem poder fazer nada. Como? Quando tudo se complicara daquele modo?

– Preocupado? – Lídia percebeu-o um tanto perturbado. Penalizada e sentindo-se culpada, decidiu ir até lá e sentar com ele.

– Não. – sem tirar os olhos do céu. – Apenas pensando. – Lídia estava ali, estavam sozinhos. Era a hora da verdade.

– Pensando em quê? – ele sentou-se, abraçando as pernas e olhou-a seriamente.

– Lídia, você tem conversado com Julia? – ela sentiu a garganta secar. Engoliu em seco.

– Sim, às vezes. – a voz dela tremia.

– Está acontecendo algo que eu não saiba? – ainda com o olhar fixo nela.

– O quê? Como assim? Não entendo. – ele suspirou longamente. Olhou o céu.

– Ela não ligou mais, não atende quando eu tento ligar. Não quer falar comigo. Gostaria de saber por quê. – um suspiro entre cada frase.

– Por que está dizendo isso? No que está pensando?

– Sinceramente? – franzindo a testa. – Talvez ela tenha descoberto que não me ama, que não sou homem para ela, talvez tenha encontrado amor melhor. – Lídia arregalou os olhos assustada.

– Por que está falando assim? – ele suspirou, olhando nos olhos dela.

– Ela está com ele, não está? – Lídia sentiu um arrepio.

– Alex, eu... – sentiu o coração comprimir-se.

– Por favor, eu preciso saber. – segurando as mãos dela.

– Eu... – a garganta ardia, por um momento ficou sem palavras.

– A verdade, Lídia. Ela está mesmo com ele, não é? – ela viu as lágrimas brilhando nos olhos dele.

– Está na casa do Junior, na companhia dele. – perdeu o fôlego. Ele olhava-a fixamente com olhos muito tristes.

– Junto com ele, o tempo inteiro...

– Alex, por que está se torturando desse modo?

– Por que eu a amo. – soltou as mãos dela e ela percebeu a fisionomia dele mudar. – Que inferno! Será que ninguém consegue entender que sem ela eu prefiro morrer! – gritou, afastando-se em seguida.

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