Epilogo

1.4K 134 110
                                    

Annie não aguentou por muito tempo.

O corpo cansado e a mente um pouco quebrada a tornou mais frágil do que aparentava. Uma semana após o natal, tivemos a notícia de que seu quadro clínico tinha piorado, ela não poderia deixar de tentar pela última vez e muito menos se entregar aquela doença.

Falaram que ela não tinha muito tempo de vida, talvez não chegasse nem mesmo ao dia das mães como havíamos planejado. E eu não pensei duas vezes em pedir para Jungkook trazê-la até a nossa casa, onde poderíamos tentar com um novo médico pela última vez.

Eu tentei, com todas as minhas forças ajudar em cada momento difícil que ela passou, por cada fase das dores que se alastravam pelo o seu corpo, cada vez que andava com ela apoiada em meu corpo pela casa pra não deixá-la trancafiada em um quarto que quase se tornou um leito de hospital.

Foram três meses de um dor incansável e de palavras que nos confortavam em dias difíceis. Desisti do bacharelado naquele mesmo ano, eu não poderia sair de casa e deixar Annie para trás, de alguma forma me sentia responsável por ela e não era de uma maneira ruim, como se estivesse sendo obrigada. Muito pelo contrário, eu fiz aquilo por amor, carinho e gratidão.

Atendi o seu pedido de ver o casamento do filho antes que partisse. Desistimos de um casamento grande, um vestido chique e uma festa. Não precisávamos disso, ela tinha razão. O casamento falava mais sobre nós dois do que uma festa grandiosa. Me senti confortável em organizar tudo aquilo na minha própria casa, uma tenda no quintal com cadeiras brancas e lírios por toda parte. Eu não precisava de mais alguém ao meu lado, tinha todos os meus amigos presentes, o meu filho entregou as alianças em um por do sol que ficaria guardado para sempre em minha memória.

Eu tive aquele momento de conexão, onde achei que jamais chegaríamos juntas. Quando ela respirava por ajuda, me pegava todos os dias lendo a Bíblia ao seu lado, enquanto sua mão enfraquecida segurava a minha. Atendi o seu ultimo pedido, escondida de Jungkook, levei Annie até a praia onde ela pode pela última vez tocar seus pés na areia e me falar algo que nunca pensei em sair da sua boca: — Você é boa! Você foi a melhor coisa que aconteceu em nossas vidas.

Fiquei ao seu lado até o último suspiro, quando vi que Jungkook se fechou pra não desabar com a sua partida. Por um lado, sabia que ele ja estava conformado com aquela situação e que a despedida seria apenas uma questão de tempo.

Tempo, que nos levou de volta a Jacksonville. Não para celebrar um feriado juntas como ansiou, e isso me deixou um pouco abalada. Foram quatro meses, de uma luta incansável que pareceu como se fossem apenas dias, dias esses que conheci um lado da mulher que tanto abominei. E esse lado me deixou sem chão com aquela partida.

As flores em seu túmulo, a placa de venda em algumas casas que pertenciam a ela naquela cidade. Bella, lidava com a perda de um jeito diferente e eu não vi mal algum quando abraçou Jungkook inconsolável.

Emma perdeu sua grande amiga, uma irmã, e ela sentia bem mais do que eu. Pois se culpava por não ter passado mais tempo com ela.

E para a minha supresa, a velha odiosa não apareceu no enterro da própria filha. Apegada a uma coisa que jamais existiu, ela era o combustível na loucura de Annie pela igreja, e a ideia do neto ser pai e estar casado era completamente abominável.

Nos despedimos dela, sem nenhum ressentimento ou magoa. Annie tinha o meu perdão, por todas as coisas que aconteceu entre nós, ela tinha o meu amor pelos últimos momentos que vivemos.

O tempo passou devagar, em um ritmo cansado e pesado para nós dois. O luto ainda era recente, mais quatro meses haviam passado e eu ainda o pegava chorando pela madrugada.

Desejos de um padre • JJK versionOnde histórias criam vida. Descubra agora